Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/05/2004 - 06h40

Barcelona abriga a crueldade da guerra em obras de Picasso

Publicidade

IVAN PADILLA
Free-lance para a Folha de S.Paulo, em Barcelona

O momento não poderia ser mais oportuno. Enquanto a Espanha se refaz do atentado terrorista de Madri do último 11 de março, uma exposição em Barcelona recolhe as obras antibélicas do pintor Pablo Picasso (1881-1973).

Serão apresentados 320 desenhos, ensaios, pinturas, litografias, esculturas e cerâmicas, nos quais o artista cubista condensa, com seus característicos traços geométricos, todo o horror da guerra moderna.

A mostra "Picasso: Guerra e Paz" será apresentada no marco do Fórum das Culturas de Barcelona, entre 25 de maio e 26 de setembro. Reúne peças de museus como a Tate Gallery, em Londres, e o Centro Georges Pompidou, em Paris, e começou a ser planejada há dois anos.

"Essa triste coincidência mostra que o tema é mais atual do que nunca. Mudaram as guerras, mas não a crueldade", disse Maria Teresa Ocaña, diretora do Museu Picasso em Barcelona e comissária da exposição.

Os conflitos refletem o ponto de vista da população civil. Algumas obras da exposição não mostram nem os elementos próprios de uma guerra. Não há soldados, bombas ou fuzis. A dor é retratada através do exagero, como bocas excessivamente retorcidas, dentes expostos, narinas abertas, línguas afiladas e órbitas dos olhos saltadas, de onde escorrem lágrimas em linha reta.

Na pintura "Mãe com Menino Morto (II)", de 1937, uma mulher de corpo disforme carrega, em sua enorme mão, o filho morto. "Cabeça de Mulher Chorando (I)", do mesmo ano, é uma alegoria do medo. "Massacre na Coréia", de 1951, uma denúncia da intervenção americana, representa o momento de uma execução de mulheres e crianças.

Estão na mostra imagens pacifistas em oposição ao cenário pessimista dos tempos de guerra, como "Estudo para um Homem com Cordeiro" (43). Destacam-se ainda as clássicas representações das pombas, que se tornariam um emblema da paz, como em "As Mãos Enlaçadas II" (52).

A ausência mais sentida é "Guernica", a obra antibélica por excelência. O quadro retrata a destruição do povoado basco de mesmo nome pelos nazistas.

Trata-se da única obra de Picasso registrada em testamento. Por desejo expresso do autor, o quadro só poderia voltar à Espanha depois da morte do ditador Francisco Franco, o que ocorreu em 1975. Em 1981 a pintura é levada ao Museu do Prado, em Madri, e mais tarde, com consentimento dos herdeiros, transladada ao museu Reina Sofía.

"Guernica" marca o início da fase política de Picasso. Durante a Segunda Guerra, o pintor retratou uma série de naturezas-mortas e representações de crânios humanos. Com a Guerra Civil Espanhola, mudou-se definitivamente para a França, onde viveu até o final de seus dias. Em 1944, filiou-se ao Partido Comunista francês e passou a pintar temas pacifistas. São dessa época retratos em cenários campestres e mediterrâneos.

A partir dos anos 60, dedicou-se a temas mais amenos, como os retratos de Jacqueline Roquet, a última de suas quatro mulheres.

Os trabalhos antibélicos não são maioria no acervo deixado pelo artista, de um total de 2.000 quadros e 7.000 desenhos, mas adquiriram indiscutível projeção. Para Picasso, a arte era um instrumento contra a violência.

Especial
  • Programe-se para ver a retrospectiva de Picasso na Oca
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página