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12/05/2004 - 03h30

Festival de Cannes chega à 57ª edição menos eurocêntrico

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SÉRGIO DÁVILA
Enviado especial a Cannes

Algo parece estar fora da ordem, mas dentro da nova ordem mundial. Em sua 57ª edição, o mais tradicional, prestigioso e importante festival de cinema do mundo descobriu a marginália e valorizou o filme de gênero.

Depois do fiasco do ano passado --quando houve uma flagrante francofilia--, o Festival de Cinema de Cannes, que começa hoje no mais conhecido balneário da Côte d'Azur, apontou seus olhares para a Ásia, a América do Sul, o documentário e o filme de animação.

E o novo. Dos 18 filmes na competição oficial, 12 são de diretores estreantes na corrida à Palma de Ouro --o brasileiro Walter Salles ("Diários de Motocicleta"), por exemplo-- e entre eles nove são de diretores estreantes no festival em si, ambos fatos inéditos nesses 57 anos. Seis são asiáticos, dois latino-americanos, um é o agitador cultural Michael Moore, que traz seu documentário "Fahrenheit 911", e duas continuações animadas encontram lugar entre os grandes: "Shrek 2" (o primeiro filme da Dreamworks já havia sido exibido em 2001) e "Innocence", de Oshii Mamoru.

Nesse esforço para implodir a turminha dos nomes consagrados, ficaram de fora três diletos amigos do festival, que segue até o dia 23. O britânico Mike Leigh e o alemão Wim Wenders vão levar suas novas obras ("Vera Drake" e "Land of Plenty", respectivamente) para Veneza, no segundo semestre, e o grego Theo Angelopoulos vai levar seu "The Weeping Meadow" para Berlim, no começo do ano que vem.

O rebuliço tem nome e sobrenome: Thierry Frémaux, diretor artístico do festival há três anos, mas apenas agora botando as manguinhas de fora.

A amigos, ele batizou os novos ares de Cannes: "Renovação do Mapa Mundial do Cinema". Em 2002, ainda estava sob a pesada égide do ex-todo-poderoso Gilles Jacob, até então o príncipe da Croisette (a principal avenida beira-mar de Cannes); no ano passado, houve o fiasco do excesso dos filmes franceses; agora, teve liberdade quase total. O resultado são apenas três filmes franceses, um alemão (de volta à competição pela primeira vez desde 1997, com "Edukators") e um italiano.

E quatro com produção norte-americana, pois Cannes não vai morder a mão que o alimenta: além de "Shrek" e do próprio "Diários", que tem produção de Robert Redford, estão a refilmagem "Matadores de Velhinhas" ("The Ladykillers"), dos irmãos Joel e Ethan Coen, e o telefilme "The Life and Death of Peter Sellers", biografia do comediante britânico dirigida por Stephen Hopkins, com Geofrey Rush no papel-título.

Em todas as suas mostras, Cannes 2004 exibirá em duas semanas 56 longas, dos quais 46 fazem sua estréia mundial aqui. Foram garimpados entre 3.562 filmes, ou seja, 42,5% mais do que no ano passado.

Por que tamanho aumento? "A produção de filmes foi facilitada pela tecnologia digital", diz o diretor artístico Thierry Frémaux. "Além disso, andamos espalhando que o festival está aberto a todo tipo de filme."

Frémaux é muito respeitado no meio cinematográfico europeu. Paralelamente a suas atividades em Cannes, é diretor do Instituto Lumière e programador de sua renomada cinemateca, ambos em Lyon. O órgão é responsável pela guarda e conservação de 90% dos cerca de 1.500 filmes de curta duração (a maioria com 50 segundos) que os irmãos franceses, considerados os inventores do cinema moderno, produziram entre 1895 e 1897.

Greve

Pois a renovação corre o risco de bater de frente, já a partir de hoje, com algo que não acontece desde maio de 1968, no auge da agitação política: uma greve de funcionários técnicos e artistas de TV e cinema que pode atrasar o festival.

São os "intermitentes" (leia mais ao lado), conhecidos assim por terem o direito trabalhista de receber de seus empregadores mesmo entre produções, no caso de filmes de televisão e de cinema, e que correm o risco de perder esse direito se for aprovada reforma do governo Chirac.

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