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16/05/2004 - 04h27

Caixas sobrevivem à crise do formato CD

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Muito se fala sobre crise da indústria fonográfica e extinção do CD, mas continua em movimento o mercado, bem mais restrito, de coleções de discos acondicionados em caixas luxuosas.

Na semana que passou, a gravadora EMI levou às lojas "Clara", com a obra completa da cantora Clara Nunes (1943-1983) agrupada em nove CDs. Nos próximos dias, a mesma EMI arranca do ineditismo a íntegra da obra em seu poder do renegado Wilson Simonal (1938-2000).

"O grande tesouro das gravadoras é o catálogo, ele ajuda a financiar artistas novos", justifica o gerente de marketing estratégico da EMI, Luiz Garcia. "Se temos hoje uma caixa de Clara Nunes, é porque um dia, no passado, foi investido um dinheiro forte nela."

Na Universal, outra gravadora atuante na edição de caixas, o gerente de marketing estratégico, Ricardo Moreira, adiciona outra vantagem: "A pirataria não macula as caixas, em tempo algum".

Se a pirataria não concorre com as caixas, por outro lado elas costumam ter vendagens modestas, longe dos milhões dos vorazes anos 90. Mas Moreira atesta sua viabilidade comercial: "Não existe nenhum caso em que tenhamos ficado no vermelho. É totalmente viável".

É, mas, sim, também é elitista, direcionado a nichos muito específicos de público. "Mal comparando, o mercado de caixas é como o de carros de luxo. Pode-se parar de vender carrinhos populares, mas para o de luxo há sempre mercado", diz Moreira, citando com surpresa o dia em que viu na Fnac a mesma pessoa adquirindo uma caixa de Chico Buarque e outra de Gilberto Gil. "Nunca antes havia visto alguém comprar uma caixa", entrega-se.

Estratégias

A crise não deixa de afetar os departamentos ditos de marketing estratégico, que apostam em retorno mais institucional e de prestígio que financeiro. Pela EMI, Luiz Garcia descreve: "Já se foi o tempo em que o mercado consumia qualquer coisa, em que nem se fazia conta prévia para saber se um produto é rentável ou não".

Ele diz que a gravadora nunca faz tiragens inferiores a mil exemplares e tira as caixas de catálogo se as vendas não são satisfatórias. "É mais barato deixar de lançar que se esforçar e não chegar a vender mil exemplares", formula o óbvio.

Entre as que já lançou, a EMI só mantém em catálogo as caixas de Altemar Dutra, Dorival Caymmi e Elza Soares. A Universal adota política diferente: conserva tudo sempre em catálogo.

A BMG foi a primeira a difundir o hábito no Brasil, em 95, quando iniciou com Orlando Silva série de caixas luxuosas de CDs de estrelas da era do rádio. É dessa leva a segunda caixa mais vendida até hoje: a de Luiz Gonzaga, com 48 mil exemplares (a Legião Urbana é lider, com 50 mil caixas vendidas).

Esse departamento está hoje desativado na BMG, que não comenta o assunto. A Sony, que imitou a BMG em caixas de Silvio Caldas e Cauby Peixoto, passou recentemente a Zé Ramalho e Fagner. E só --Roberto Carlos, por exemplo, nunca virou caixa.

Mais tímida ainda é a Warner, que vendeu 2.000 caixas de Gilberto Gil e ficou só nisso. A independente Velas, por outro lado, convenceu 10 mil consumidores a adquirir a caixa-façanha com todos os fonogramas gravados pelo pioneiríssimo Noel Rosa.

Clara Nunes, promessas

Embora vença concorrentes em assiduidade, a EMI derrapa na qualidade técnica em sua mais nova realização. "Clara" tem o mesmo formato da anterior "Negra", de Elza Soares.

Em ambas a estratégia, econômica, mas questionável em termos de fidelidade aos discos originais, é reunir dois antigos LPs em cada CD --no pólo contrário, 40 discos de Caetano Veloso viraram 40 CDs na mais cara de todas as caixas, da Universal (R$ 362,70, no site www.somlivre.com.br).

No caso de Clara, a iniciativa perde para reedição anterior da própria EMI. Ali, cada LP virara um CD com faixas-bônus, encarte caprichado e supervisão do ex-marido da cantora, Paulo César Pinheiro. Agora, dá impressão de pressa --a caixa não é colada e se desmonta no manuseio, há capa adulterada, capa trocada por contracapa ("Claridade"), um CD de raridades sem nenhuma informação sobre datas e situações originais de gravação. O preço sugerido pela empresa não dá desconto à precariedade --R$ 210.

No sentido de qualidade artística, mantêm-se imbatíveis até hoje os dois volumes dedicados pela Universal a Nara Leão, com arte gráfica de sua sobrinha (e artista plástica) Pinky Wainer. O apuro artístico de forma e conteúdo é o forte das caixas de Chico Buarque, Elis Regina, Erasmo Carlos (todas Universal) e Carmen Miranda (EMI). A de Caetano vai na mesma linha, mas com equívocos na recuperação das fitas originais.

BMG, Sony e Warner não se comprometem com novos projetos, relatados apenas pelas mesmas Universal e EMI.

A primeira diz que tentará editar, neste ano ou no próximo, caixas de Tom Jobim, Jorge Ben Jor e Ney Matogrosso. A segunda tem na fila Egberto Gismonti e Marcos Valle, mas não arrisca datas --e abre alas, após três décadas de desterro, a Wilson Simonal.
 

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