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24/05/2004 - 08h50

Wilson Simonal respira em caixa de luxo com nove CDs

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Trinta anos após o banimento em vida e quatro anos depois de sua morte, Wilson Simonal (1938-2000) volta a respirar. O naco mais expressivo da obra musical desse músico carioca precisou de sua morte para sair da treva e se reacondicionar na luxuosa caixa de nove CDs "Wilson Simonal na Odeon (1961-1971)".

Um dos dois cantores de maior sucesso popular do Brasil na virada trágica dos anos 60 aos 70 --o outro era Roberto Carlos--, Simonal sobreviveu três décadas em completo esquecimento.

Afora tentativas isoladas, permaneceu alijado do formato CD e ausente das citações de seus ex-colegas de profissão.

Um número razoável de pessoas sabe que sua ruína se relacionou à manta com que foi coberto, pelos outros e por si próprio, de suposto dedo-duro a serviço do regime militar em seus momentos mais dramáticos.

Pouquíssima gente sabe que tipo de música ele cantava, que importância artística teve, qual foi sua participação político-musical no país --para além (ou aquém) do redemoinho em que acabou se envolvendo, com episódios de tortura (num porão policial da ditadura) de um contador que ele acusara de desfalque, condenação e prisão de Simonal, morte mal-esclarecida de um de seus principais colaboradores, o maestro Erlon Chaves (1933-74), líder black power da Banda Veneno.

Morto o pai, mas viva no subsolo a história, moveram-se a revolver memórias da MPB seus dois filhos homens. Os também músicos Wilson Simoninha, 40, e Max de Castro, 31, encamparam junto à gravadora EMI, herdeira do acervo Odeon, recuperação das fitas originais e produção da caixa.

Com apoio, pesquisa histórica e texto do jornalista Ricardo Alexandre, 30, a dupla vasculhou acervos, reencontrou faixas só lançadas em compactos e descobriu uma série de gravações completamente inéditas de Simonal. Está tudo no pacote.

Não só. A EMI lhes pediu um disco de remixes de ex-sucessos como "Mamãe Passou Açúcar em Mim" (66), "Nem Vem Que Não Tem" (67), "País Tropical" (69) etc. "Rewind" sai também agora em CD avulso, estrelado por músicos de hip hop e drum'n'bass como DJ Patife, DJ Hum, Instituto e Ramilson Maia.

O projeto deve seguir mais adiante, também pelas mãos de EMI, Simoninha e Max, com um álbum de "duetos" entre a voz do cantor morto e artistas locais contemporâneos. É tentativa a mais de romper a repulsa que a classe musical sentiu e sente por seu mais cultivado bode expiatório.

É Max quem descreve sua experiência diante do pai proscrito: "Aos dez anos, ia até a loja de disco e perguntava se tinha disco do Simonal. O cara nunca tinha ouvido falar. Os professores falavam que eu era filho dele, mas nenhum amigo sabia quem era. Eu não entendia o porquê".

Ele próprio chegou a incorporar o sentimento: "Houve fase em que parei de ouvir suas músicas, queria me ver livre daquilo. Jamais imaginei que seria eu uma das pessoas que iam acabar ajudando a recuperar sua obra".

A caixa não tenta escamotear o lado sombrio da trajetória de Simonal. "O livro conta tudo o que aconteceu. É claro que é triste, mas isso não está na música, nem estava na pessoa no auge de seu sucesso", afirma Simoninha.

Se a tempestade política está exposta, também resta restabelecida outra porção de Simonal, essa soterrada desde 71: seu apreço pela luta racial, implementada ao menos desde que compôs e interpretou "Tributo a Martin Luther King" (67).

"Na época, acho que posso dizer isso agora, Simonal estava muito atento à criação do Partido dos Panteras Negras nos Estados Unidos", afirma seu músico e amigo Cesar Camargo Mariano, em depoimento a Ricardo Alexandre.

"Ele sempre teve essa consciência. Era preto e pobre, sabia disso", diz Simoninha. "Um pouco de arrogância é comum num caso assim, vê-se isso nos rappers americanos de hoje, nos Racionais MC's, até por postura defensiva."

Parte desse contexto reaparece em o "Samba do Crioulo Doido" (68), de Stanislaw Ponte Preta, que embaralhava épocas históricas brasileiras e afirmava, antes do Ato Institucional nº 5, que "foi proclamada a escravidão".

WILSON SIMONAL NA ODEON (1961-1971)
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 200 (preço sugerido pela gravadora)

REWIND
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média
 

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