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05/06/2004 - 08h39

"Sou um filiado da pop art", diz Agrippino

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Quando conheceu José Agrippino de Paula, no início dos anos 60, Caetano Veloso diz ter se visto diante de um dos tipos mais impressionantes que já cruzaram seu caminho.

"Parecia um homem das cavernas, com sua barba negra e seu jeito pesado", registra em "Verdade Tropical". "Nunca correspondia aos sorrisos convencionais que todos trocam entre si quando se olham casualmente, o que me deixava (...) constrangido."

Um dos nomes mais citados no livro do compositor de "Sampa", que nela homenageou o escritor com a frase "Panamérica de Áfricas utópicas", alusão ao segundo romance de Agrippino ("PanAmérica"), o filho do bairro paulistano de Pompéia seria um dos nomes centrais da tropicália sem nunca ter nela investido sua literatura. Com o "jeito pesado" descrito por Caetano, peso paradoxalmente sereno, Agrippino explica que as raízes de sua ficção não ficam nem no Brasil nem no universo das letras. "Sou um filiado da pop art", repete à exaustão.

"Em 1964 a promoção da pop art era bem intensa nas revistas estrangeiras que eu consultava. Dois anos depois, a Bienal de São Paulo teve o salão pop art", rememora Agrippino.

"O Andy Warhol, por exemplo, trouxe aquele quadro da Marilyn Monroe repetida várias vezes." Em "PanAmérica", a epopéia que publicaria em 1967, o escritor também usa a musa platinada como "sua deusa", personagem que contracena com John Wayne e outros ícones pop do período.

Em "Lugar Público", Agrippino já importara grandes figuras da chamada "vida real": Napoleão, Pio 12, Galileu Galilei.

Outra característica de sua literatura, porém, roubou na época o protagonismo dos livros para os críticos. A fragmentação narrativa, o caos, as dificuldades da vida urbana moderna faziam com que alguns apontassem: "É definitivamente um seguidor da geração beat", ou "É definitivamente um seguidor do nouveau roman".

Agrippino conta com toda a calma que vive dentro de sua voz que nunca foi por aí. "Li a poesia de Allen Ginsberg. Ele fala de temas modernos, da cidade grande, dos problemas da vida moderna, do existencialismo. Mas a forma do Ginsberg é a de elegias, que é um pouco complicada. Não estou ligado a eles. Estou lendo mais Jean-Paul Sartre, Henry Miller."

Não é raro flagrar o escritor dizendo "estou lendo", "estou fazendo", uma infinidade de verbos no presente --e ele quase sempre está se referindo ao passado.

Essa parece ser a única marca fosforescente da esquizofrenia que lhe diagnosticaram no início dos anos 80: ele de fato ainda vive na sua gloriosa década de 60.

Quando o escritor diz à Folha que está voltando a escrever, por exemplo, e a notícia não é pequena, não, se apressa a dizer que o problema será contratar a datilógrafa para passar tudo para o papel. Computador nem pensar --ainda que ele demonstre um grande interesse por assuntos tecnológicos.

Os cadernos escolares que tem preenchido em velocidade homeopática --"escrevo no máximo de 30 a 50 minutos por dia"-- guardam diálogos que chama de "matéria para um novo romance". O título provisório do trabalho é o retumbante "Os Favorecidos da Madame Estereofônica" (ele já chegou a dizer que o trabalho se chamará "Os Desfavorecidos da Madame Estereofônica").

Se seus livros anteriores caracteriza como pop ou "fantastique", este promete que será seu primeiro trabalho realista. "É a história de uma empresa de TV como a Tupi e a Record, que produzem telenovelas, shows. Eu, como autor, faço parte dessa TV e descrevo as pessoas que trabalham lá: produtores, cantores, diretores."

Ruth Escobar é uma das personagens do "mundo real" que inspiram sua nova empreitada. TV ele não tem assistido para isso. Suas últimas companhias foram Marcel Proust e um gibi "X-Men".

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