Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/06/2004 - 05h17

Projeto traça panorama de três décadas do Deops

Publicidade

FRANCISCO FONSECA
especial para a Folha

O livro "A Imprensa Confiscada pelo Deops, 1924-1954" compõe a série Labirintos da Memória, voltada a expor os resultados de pesquisas desenvolvidas pelo Projeto Integrado Arquivo do Estado de São Paulo/Universidade de São Paulo (Proin). O projeto objetiva resgatar e analisar os inúmeros registros de uma triste instituição na sociedade brasileira: o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops).

Neste livro, é oferecido ao leitor e sobretudo ao pesquisador um rico panorama de 78 jornais das mais distintas (e contrapostas) orientações doutrinárias e ideológicas que foram apreendidos em três décadas: entre 1924 (ano da criação do Deops) e 1954.

Trata-se de um cuidadoso trabalho --que envolve e forma alunos/ pesquisadores e incita à pesquisa histórica no Brasil-- sobre os porões que aprisionaram visões alternativas sobre a história, a política e a sociedade brasileira, sobretudo de operários, comunistas, anarquistas, grupos profissionais e étnicos, mas também de nazistas, fascistas, integralistas, católicos, dentre inúmeros outros grupos.

Há que se destacar a competência dos organizadores e pesquisadores em catalogar, historicizar e contextualizar personagens, movimentos e fenômenos políticos e sociais, revelando-nos meandros que contribuem para a compreensão dos embates ideológicos contidos nos jornais.

Estes, que se colocavam alternativamente à grande imprensa --muitos com periodicidade irregular e elaborados em oficinas tipográficas rudimentares--, voltavam-se ao mesmo tempo à realidade brasileira e ao contexto internacional através da propagação de suas idéias, inclusive nas cidades do interior. Daí o embate mundial entre comunismo, anarquismo, fascismo e nacionalismo se expressar de forma cabal nesses militantes jornais, muitos dos quais dirigidos por imigrantes, além de alguns serem escritos em outras línguas.

Embora os jornais "à esquerda" tenham sido muito mais intensamente perseguidos e aprisionados (pois denunciavam a exploração e a miséria e defendiam a revolução), também os grupos "à direita" o foram. Mas o livro também reproduz as respectivas capas dos jornais analisados, oferecendo-nos um belíssimo panorama iconográfico da diversidade plástica, incluindo-se formas irreverentes de expressão.

Chama a atenção nos relatos a truculência persecutória da "polícia política" em que se constituiu o Deops desde a sua fundação, pois não apenas confiscou as publicações das mais variadas tendências, como levou ao aprisionamento e à morte inúmeros de seus militantes políticos. Mais notável ainda é perceber a fragilidade da "democracia" brasileira, pois o Deops se manteve na ativa tanto nos momentos autoritários em sentido estrito como nos formalmente democráticos (somente foi extinto em 1983).

Mas, ao lado da ação censória e policialesca, o livro expõe as estratégias variadas e sagazes, muitas vezes metafóricas e oportunas, de burla por parte dos diversos grupos analisados, demonstrando assim as artimanhas da luta ideológica e de classes na história brasileira.

Mas a real dimensão de um inventário como esse, dada a importância do material apreendido e apenas recentemente revelado, somente é possível em razão da qualidade técnica da publicação.

A todos que se interessam por visões distintas da história (aqui resgatadas) e pela democratização da sociedade brasileira, este é um livro de leitura obrigatória.

Francisco Fonseca é professor de ciência política da PUC-SP e da Fundação Getúlio Vargas

A IMPRENSA CONFISCADA PELO DEOPS, 1924-1954
De:
Maria Luiza Tucci Carneiro e Boris Kossoy
Editora: Ateliê Editorial, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Arquivo do Estado
Quanto: R$ 80 (294 págs.)

Leia mais
  • Estudos revisam repressão vivida nos anos de chumbo
  • Masoquismo e golpe de Estado circundam João Goulart

    Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o Deops
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página