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13/06/2004 - 04h02

Canais de TV e anunciantes rejeitam rótulo "gay"

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BRUNO YUTAKA SAITO
da Folha de S.Paulo
THIAGO STIVALETTI
free-lance para a Folha de S.Paulo

Se os números se confirmarem, a portinha do armário terá, para muitos, seus dias de catraca em final de campeonato. A 8ª edição da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), hoje em São Paulo, espera receber 1,5 milhão de pessoas. Número que não faz as emissoras de TV e anunciantes de peso saírem do armário quando o assunto é assumir esse público.

Canais como Sony, HBO e Multishow, que exibem as séries "Queer as Folk", "Queer Eye for the Straight Guy" e "Loud & Queer", rejeitam o rótulo "série para gays" e a importância estratégica desse público.

Em "Queer Eye", um dos líderes na audiência da TV por assinatura no domingo à noite, cinco gays especializados em itens como culinária e moda remodelam um hetero para que ele conquiste uma mulher. "O programa funciona porque os cinco gays não seguem aquela máxima comum entre eles de que todo homem é um gay em potencial. Eles respeitam a heterossexualidade do convidado e passam a mensagem de que ambos podem conviver sem problema", diz Carolina Vianna, gerente de marketing do Sony.

Em abril, "Queer Eye" foi a terceira maior audiência do Sony entre os telespectadores na faixa dos 18 aos 49 anos. Nos EUA, exibido pelo canal pago Bravo, atraiu 2,8 milhões de espectadores na estréia, em julho do ano passado, a segunda maior audiência da história do canal. Como a maior parte dos programadores, Carolina diz que o Sony não incluiu "Queer Eye" na grade por causa da temática --e que a série faz muito sucesso entre os heteros, especialmente os pais de família.

Há telespectadores --heteros-- que concordam. ""Queer Eye" agrada homens e mulheres, gays ou "straights". Vejo pelo meu marido, que detesta "Queer as Folk" porque acha muito restrita e explícita, mas adora "Queer Eye" porque não é dirigido exatamente para um público", diz a jornalista Patricia Belotti, 24.

Os anunciantes também não estão atrás dos homossexuais --são grandes empresas que anunciam nos canais, programas e horários mais diversos, como Volkswagen, Motorola e Nestlé. "As empresas voltadas especificamente para o público gay em geral são pequenas e não têm verba pra anunciar na TV", diz Vianna.

O Multishow estreou na sexta a alemã "Loud & Queer". O humor fica próximo a "Will & Grace", e a estrutura narrativa segue a das séries americanas. Wilson Cunha, diretor do canal, também rejeita o rótulo de série para gays. "Queremos atrair todo mundo com os nossos programas. E como o humor gay é bastante sarcástico, uma série dessas se torna um componente diferente na programação."

Na TV aberta, nenhum programa aposta abertamente no público GLS --mas alguns elementos do universo gay começam a ser usados. Na sitcom "Sexo Frágil", os protagonistas são todos masculinos e se travestem de mulher para falar sobre o comportamento dos homens. "O programa é uma observação bem-humorada sobre o mundo atual. O fato de os atores fazerem as mulheres os torna mais frágeis. Mas não tentamos agradar nenhum nicho específico de público", diz João Falcão, diretor e roteirista do programa.

Mercado carente

Fãs dessas séries entrevistados pela Folha são unânimes em dizer que o cenário ainda engatinha.

"Esses programas tentam suprir uma carência do público, porém o mercado brasileiro ainda está fechado para as séries gay", diz o estudante Ivan José Junior, 19.

"O que me atrai em séries como "Queer as Folk" e "A Sete Palmos" é a temática. Já que é tão difícil um gay conseguir "se ver" na televisão brasileira, assisto a essas séries para ver personagens mais ou menos iguais a mim na tela", afirma o professor Leandro Colling, 32.

Já "Queer as Folk", em sua quinta temporada, mostra a rotina de um grupo de amigos gays em Pittsburgh, e é a campeã no quesito identificação com os gays.

"Como não existe esse tipo de série por aqui, tenho que ver as americanas. As coisas melhoraram muito de uns anos para cá. Afinal, em séries e filmes, cada vez mais vemos os gays aparecendo. Mas sua vida ainda é muito "glamourizada': lindos, brancos, com uma autoconfiança incrível. Nós sabemos que a realidade é um pouco diferente", diz o securitário Saint-Clair Stockler, 31.

Para muitos, "Queer as Folk" serviu como uma iniciação. "Eu não sabia que era gay antes de assistir a "QAF'", diz José Junior, 19. "A série mostra o lado bom e o ruim dos gays, e dá uma base para quem está se descobrindo."

"Reneguei minha opção sexual por muito tempo. Nas séries, nós nos espelhamos nas personagens que passam por isso e tentamos fazer uso disso", diz Paulo Júnior, 23, auxiliar administrativo.

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