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21/06/2004
-
06h32
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo, em Nova York
"Eu nunca sonhei com você...". Pausa para nova reclamação. Após duas horas de luta contra o som do Carnegie Hall e o ar gelado soprado no seu rosto, João Gilberto interrompeu "Lígia", de Tom Jobim, para explicar sua obsessão: "É assim mesmo, desculpem, ainda sou um sonhador".
Correu tudo conforme o esperado no show da última sexta-feira do cantor em Nova York, incluindo o abandono do palco na metade da noite, após repetidas queixas, em inglês e português, de que as duas caixas de retorno não estavam funcionando a contento.
Sem rabugices e tentando ganhar o público para sua causa da perfeição, João Gilberto cantou 27 músicas em show que durou quase duas horas e meia.
Logo após a primeira canção da noite --"Acontece Que Eu Sou Baiano", de Dorival Caymmi--, a primeira reclamação, com a altura do apoio para o pé. "Muito baixo." Veio "Caminhos Cruzados", de Tom Jobim e Newton Mendonça, e o cantor disse ouvir um zumbido: "Hummmm, não tem uma coisa assim?", perguntou em inglês. "Please help me", pediu.
Mais uma, "Isso Aqui O Que É?", de Ary Barroso, e um novo pedido. "Desculpem-me, mas é muito difícil", disse em inglês. "Não consigo ouvir... isso aqui", apontou para as caixas de retorno. "Somebody come for help!"
Ninguém vinha --ninguém nunca vem--, e João Gilberto continuou com "Brigas Nunca Mais", de Tom e Vinícius. A platéia fazia silêncio, e quando o cantor quase pára a música para sussurrar "foi a noite, foi o mar, eu sei", a única brisa na sala é a que vem da praia da canção.
As cinco músicas seguintes foram intercaladas com reclamações. A platéia apoiava o cantor, aplaudindo a agonia do baiano. No meio de "Pra Que Discutir Com Madame", Madame deve ter ficado contente --o samba parou. "Quando vocês estão sem luz, não vêm nada. É a mesma coisa", disse, para explicar sua insatisfação com o retorno. Uma mulher entra no palco, sussurra algo para Gilberto, e ele anuncia sua retirada com educação: "Vocês podiam esperar dois minutos, por favor?".
Começa uma movimentação em torno das caixas de som e dos microfones. Uma senhora americana, sentada numa das fileiras mais distantes, pergunta o que está acontecendo. Um brasileiro explica que faz parte do show.
Dez minutos depois, João volta. Agradece a colaboração da platéia, e o show prossegue, sem reclamações, até o fim. Ainda cantaria 12 músicas, entre elas "Bolinha de Papel" e "Desafinado".
Quem se importa com o bis? João. Após a segunda música ao retornar ao palco diz: "Cecília, o ar-refrigerado direto na garganta". Haveria ainda pausa em "Lígia". E foi aí que, se alguém não tinha entendido o obsessivo, passou a entender o "sonhador".
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre João Gilberto
João Gilberto resmunga e encanta NY
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da Folha de S.Paulo, em Nova York
"Eu nunca sonhei com você...". Pausa para nova reclamação. Após duas horas de luta contra o som do Carnegie Hall e o ar gelado soprado no seu rosto, João Gilberto interrompeu "Lígia", de Tom Jobim, para explicar sua obsessão: "É assim mesmo, desculpem, ainda sou um sonhador".
Correu tudo conforme o esperado no show da última sexta-feira do cantor em Nova York, incluindo o abandono do palco na metade da noite, após repetidas queixas, em inglês e português, de que as duas caixas de retorno não estavam funcionando a contento.
Sem rabugices e tentando ganhar o público para sua causa da perfeição, João Gilberto cantou 27 músicas em show que durou quase duas horas e meia.
Logo após a primeira canção da noite --"Acontece Que Eu Sou Baiano", de Dorival Caymmi--, a primeira reclamação, com a altura do apoio para o pé. "Muito baixo." Veio "Caminhos Cruzados", de Tom Jobim e Newton Mendonça, e o cantor disse ouvir um zumbido: "Hummmm, não tem uma coisa assim?", perguntou em inglês. "Please help me", pediu.
Mais uma, "Isso Aqui O Que É?", de Ary Barroso, e um novo pedido. "Desculpem-me, mas é muito difícil", disse em inglês. "Não consigo ouvir... isso aqui", apontou para as caixas de retorno. "Somebody come for help!"
Ninguém vinha --ninguém nunca vem--, e João Gilberto continuou com "Brigas Nunca Mais", de Tom e Vinícius. A platéia fazia silêncio, e quando o cantor quase pára a música para sussurrar "foi a noite, foi o mar, eu sei", a única brisa na sala é a que vem da praia da canção.
As cinco músicas seguintes foram intercaladas com reclamações. A platéia apoiava o cantor, aplaudindo a agonia do baiano. No meio de "Pra Que Discutir Com Madame", Madame deve ter ficado contente --o samba parou. "Quando vocês estão sem luz, não vêm nada. É a mesma coisa", disse, para explicar sua insatisfação com o retorno. Uma mulher entra no palco, sussurra algo para Gilberto, e ele anuncia sua retirada com educação: "Vocês podiam esperar dois minutos, por favor?".
Começa uma movimentação em torno das caixas de som e dos microfones. Uma senhora americana, sentada numa das fileiras mais distantes, pergunta o que está acontecendo. Um brasileiro explica que faz parte do show.
Dez minutos depois, João volta. Agradece a colaboração da platéia, e o show prossegue, sem reclamações, até o fim. Ainda cantaria 12 músicas, entre elas "Bolinha de Papel" e "Desafinado".
Quem se importa com o bis? João. Após a segunda música ao retornar ao palco diz: "Cecília, o ar-refrigerado direto na garganta". Haveria ainda pausa em "Lígia". E foi aí que, se alguém não tinha entendido o obsessivo, passou a entender o "sonhador".
Especial
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