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03/07/2004 - 08h12

Projeto une barulho eletrônico e natureza

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ALEXANDRE MATIAS
free-lance para a Folha

O cientista canadense Jeremy Narby embarcou em uma viagem tropical de dois anos no meio da selva, guiado por alucinações decorrentes da ingestão do chá de ayhuasca. Estas o levaram a crer que as informações sobre plantas que se obtinha durante o transe selvagem não vinham do chá, mas estavam contidas em nosso DNA.

Essa controversa teoria, publicada em livro no exterior, é a base do espetáculo "Amazonia Ambient Project", que Narby apresenta hoje e amanhã no Sesc Paulista, ao lado dos terroristas sônicos dos Young Gods, apresentando a faceta ambient e atmosférica de seu CD "Music for Artificial Clouds", lançado neste ano.

Os três Young Gods (Franz Treichler, Alain Monod e Bernard Trontin) e Narby se reuniram para conversar com a Folha sobre esse projeto, que marca a primeira vinda do grupo suíço ao Brasil.

Folha - Como o Amazonia Ambient Project começou?
Franz Treichler -
Alain (Monod) e Jeremy se conhecem desde a adolescência. Em 87, eu o conheci pessoalmente quando estávamos começando os Young Gods, e ele passou a acompanhar a banda.

Jeremy Nardy - Escrevi minha tese de doutorado ouvindo o primeiro disco deles (risos).

Folha - Como a música dos Young Gods se relaciona com seu livro?
Nardy -
Eu havia voltado da Amazônia e achava difícil voltar a me integrar à cultura ocidental. Ao mesmo tempo, ouvia o primeiro disco deles e aquele som barulhento por alguma razão tinha a ver com o que eu estava sentindo. Falei com Franz sobre isso, como aquele som era, de alguma forma, telúrico --a música de vulcões e terremotos--, e ele disse que, ao mesmo tempo, era cósmico. E fazia sentido, algo que acontecia embaixo da terra indo em direção ao cosmo. E da mesma forma você tem o transe, o xamanismo, o conhecimento indígena... Rock'n'roll! (risos)

Folha - Pareceu natural para a banda fazer música relacionada à Amazônia?
Treichler -
Para mim, sim. Meu pai é brasileiro e minha avó era descendente de índios, e eu sempre tive essa fascinação. Musicalmente, acho que nós miramos nos mesmos objetivos: questionar coisas, provocar confronto entre culturas diferentes.

Nardy - E há também, do meu ponto de vista, o fato de eles estarem usando a mais avançada tecnologia para, ao mesmo tempo, soar como a natureza.

Folha - Mas há uma série de semelhanças entre tribalismo e a cultura eletrônica...
Treichler -
Acho que há uma necessidade de ritos tribais urbanos, que não têm a ver apenas com música, mas com a reunião de pessoas e o uso de substâncias químicas. É a mesma origem de rituais que acontecem em aldeias.

Nardy - Perceba que não é uma coincidência o fato de um cientista suíço ter descoberto o LSD (risos).

Folha - Essa experiência de vocês pode ser considerada uma espécie de xamanismo ocidental ou racionalizado?
Treichler -
Sim, embora diluído em nossa cultura.

Nardy - Acho que é muito importante tomar cuidado com as palavras. Músicos de rock'n'roll não agem em nome da comunidade nem entram em contato com espíritos, mas trabalham com estados de transe. Os xamãs também fazem isso, mas isso não quer dizer que Mick Jagger seja um xamã.

Folha - Mas ele pode funcionar como xamã para as pessoas.
Nardy -
Mick Jagger cura as pessoas? Isso pode ser um critério. Ou mesmo se ele diz se comunicar com espíritos? Porque é isso que os xamãs fazem. Por que não separar um músico de rock de alguém que trabalha com estados de transe? São rótulos diferentes, e eu acho importante usá-los com cuidado.

Folha - Mas separar os rótulos não impede a fusão de culturas opostas que o próprio projeto se propõe?
Nardy -
Usar a ciência e o xamanismo como formas de entender o mundo ao mesmo tempo é como amarrar dois pássaros um ao outro --eles não irão voar. Acho que há diferenças fundamentais entre os dois métodos. Não dá pra misturá-los.

AMAZONIA AMBIENT PROJECT
Quando:
Hoje e amanhã, às 18h30
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179-3400)
Quanto: entrada franca (ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência)

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