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03/07/2004 - 03h12

Miss Veen diz que opinião de direita dá fama de intolerante e fanático

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Leia a entrevista de Juliana Lemos (Miss Veen) para a Folha.

Folha - Na sua opinião, que características, além do fato de escreverem blogs e os ancorarem no Wunderblogs, unem os autores coligados no livro?

Miss Veen -
Nós quisemos juntar os blogs que gostávamos de ler. Aí vi que há algo em comum. Diria que a maioria detesta clichês, mas não se importa se a patuléia os rotula disso e daquilo. Eu, pelo menos, me divirto com os rótulos. Todos têm uma certa ironia, e muito bom humor. E muita gente tem raiva de nós, ainda assim. Olho hoje para os Wunderblogs e fico feliz: temos gente que escreve absurdamente bem, pessoas realmente inteligentes.

Folha - Quando você começou a escrever blogs e por quê? Você já escrevia antes com freqüência? Como?

Veen -
Em agosto de 2001. Lia o blog do Álvaro Velloso e nem sabia que havia uma ferramenta, o Blogger, que permitia a qualquer um escrever o que quiser e publicar na web. Vi algumas matérias sobre 'celebridades' do mundo blog, achei grande parte dos blogs uma porcaria, e resolvi escrever o meu. Confiei na tia Rosana, da 4a. série, que me disse que eu escrevia bem. Ainda assim, prefiro as minhas redações da escola.

Folha - Quais as principais vantagens e desvantagens do blog em relação a outros formatos, como diários, iluminuras, livros, apostilas, panfletos etc.?

Veen -
Ah, não tenho idéia. Na FFLCH devem saber.

Folha - Quantos posts vocês escreve em média a cada mês? Quanto tempo você gasta com os blogs? Quem é o mais prolífico dos Wunders? Quem é o mais conciso?

Veen -
Escrevo cada vez menos, por preguiça. Em média, uns 7 posts/mês. Gasto uma hora por dia, mais ou menos, lendo ou comentando blogs. O mais prolífico talvez seja o mozart, que escreve todo dia. O Dante também não fica atrás, mas escreve de jeito mais conciso, telegráfico, e solta às vezes uns 15 posts num dia só. O FDR é nosso aforista da corte; escreve posts de uma, duas linhas, e são ótimos.

Folha - Além dos blogs, você escreve alguma forma de ficção? Com que características?

Veen -
Escrevia contos. Eram ruins. O que me salva do ridículo é a minha modéstia.

Folha - Como selecionou o material para o livro "Wunderblogs.com"?

Veen -
Para falar a verdade, não fiquei muito preocupada com a minha seleção. Não fiquei pensando 'ó, o que o leitor de um livro vai pensar?'. Resolvi manter os posts que considero interessantes, que dão mais ou menos a idéia do que é o blog. Alguns acho ruins, mas mantive por achar interessantes, ou apenas por ter carinho por eles.

Folha - Qual o perfil do leitor dos blogs Wunder? Quem são os "inimigos" do Wunder?

Veen -
Eu diria que cada blog tem seus leitores cativos. Mas acho que é possível dizer que o nosso leitor médio é inteligente, interessado pela vida cultural além da morte cultural brasileira, e que pende um pouco para a direita em assuntos políticos. É mais 'conservative' que 'liberal'. Muitos são 'libertarians'. Diria que os 'inimigos' são o contrário disso aí --ficam mortalmente feridos quando alguém faz graça deles, aí passam a nos odiar, como se fôssemos um brontossauro leproso e reacionário que se recusa a morrer, fato que também é agravado por sermos jovens (se não me engano, a média de idade dos wunders publicados no livro é de 28 anos). Uma falta de senso de humor impressionante. Mas os leitores brasileiros sempre se acham muito inteligentes, nunca têm a humildade de dizer 'eu não sei bem; não tenho opinião; quero aprender'. Como já se disse, você pode convencer um louco de qualquer coisa, menos de sua própria loucura.

Folha - O que você pensa da literatura contemporânea brasileira?

Veen -
Eu tentei ler alguns dos novos nomes, mas achei tudo pasteurizado. Não leio quase nada de contemporâneo produzido no Brasil, no campo da ficção. Alguns dos novos autores que tentei ler misturam referências pop ou refinadas com 'uma verve mais ácida', como alguns gostam de dizer, e acham que só isso faz deles únicos ou interessantes. Não , meus filhos, é preciso escrever bem, contar história direitinho, ter estilo. Ninguém hoje em dia liga para estilo, parece. Estilo, para eles, é fazer pose de moderno e não-convencional, é ser 'marginal'. Os caras não deixam o ego na soleira da porta dos livros que escrevem; a impressão que tenho é que sua ficção nada mais é que um desdobrar narcisista da personalidade dos autores. Não que eu seja contra os autores mais narcisistas: acho Nabokov bastante narcisista, Proust também, óbvio. Mas criar arte a partir da própria vida ou memórias é para poucos. Aí você lê até autores medianos lá de fora e vê que os caras têm uma imaginação e uma sensibilidade riquíssima. É um grande contraste.

Folha - Quem são seus 'modelos' intelectuais e literários?

Veen -
Sempre admirei Nabokov, Wilde, Flann O'Brien, Shakespeare, entre outros. Gosto de ler contos. Acho Salinger, Katherine Mansfield, Joyce e Cortázar contistas sublimes. Na poesia, Keats, Yeats, e Hopkins, que é lindo, de uma beleza assombrosa. Viktor Frankl não é exatamente um filósofo, mas sinto que estou diante de uma grande mente e uma grande personalidade quando leio o que ele escreve. O mesmo vale para o Peter Kreeft, mas de modo diverso. Gosto também de filosofia. E dos textos de e sobre santos, ou sobre busca religiosa genuína, como O Caminho de um Peregrino, da Ortodoxia Russa. Quando eu crescer, quero ser o Radamanto, mas ignorante como o Felipe e escrevendo mal feito o Alexandre.

Folha - O escritor Marçal Aquino disse ontem, em debate no Sesc Anchieta, de São Paulo, que 'todos os escritores hoje são de esquerda'. Comente.

Veen -
Eu queria entender essa obsessão em dizer que os escritores são de direita ou de esquerda. Isso é chato, muito chato, parece neurose. O que interessa é se são bons ou não. Em geral, se o sujeito se diz de esquerda, ele é ruim, por uma razão bem simples: ele quer fazer de sua arte uma bandeira. Brasileiro tem mania de misturar a obra do sujeito com a vida dele, acha que tudo é pessoal, que a arte é uma causa. É por isso que a nossa cultura tem memória curta e só imitamos o que vem lá de fora --nossa arte, nossa cultura (aquilo carregado pelos indivíduos, e não livros, obras de arte etc) não perdura, porque todos se preocupam com coisas pequenas, 'o social', 'a vida política', e por aí vai.

Folha - Os autores do Wunderblogs são muitas vezes chamados de direitistas, conservadores etc. O que você pensa disso? Quem é, na sua opinião, o mais conservador e/ou reacionário dos 11 autores reunidos no livro?

Veen -
Não ligo. É engraçado: você tem uma opinião levemente mais para a direita (ninguém dos Wunderblogs jamais foi uma Ann Coulter) e todos começam a dizer que você é intolerante, fanático religioso, conservador (que hoje em dia é palavrão). Parece até piada. Mas, bem, diria que o mais conservador é o Albert, irmão do Montgomery.

Folha - Existe direita (ou termo equivalente) inteligente aqui ou fora do país hoje em dia? Exemplos?

Veen -
No Brasil, Olavo de Carvalho e J. O. de Meira Penna. Lá fora, há vários jornalistas, no Lew Rockwell e outros sites conservadores e/ou liberais, que são excelentes. Como em tudo, claro, é preciso passar uma peneira.

Folha - Quais dessas características você acha que tem seu blog: pessimismo, otimismo, bom humor, mau humor, misticismo, moralismo, anglofilia, "antibrasileirismo", liberalismo, catolicismo, cristianismo, classicismo, ironia, passadismo.

Veen -
Pessimismo, amnésia, ennui, bom humor, anglofilia, liberalismo, ironia, irritabilidade aguda seguida de doçura diabética.

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