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03/07/2004 - 03h14

"A direita inteligente floresce no mundo civilizado", afirma Dante Gabriel R.

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Leia, a seguir, a entrevista com Dante Gabriel R. para a Folha.

Folha - Na sua opinião, que características, além do fato de escreverem blogs e os ancorarem no Wunderblogs, unem os autores coligados no livro?

DGR -
Como definiu o chefe do portal, o Marcelo de Polli, somos um bando de pessoas que não se levam muito a sério. O Wunderblogs é uma amostra dos melhores escritores brasileiros em atividade (os outros estão nos links de nossos blogs), e quase nunca concordamos em nada, mas temos inteligência suficiente para resolver qualquer discussão na mesa de um pub. Acho que é isso que nos une. E todos gostam de gatos, nem que seja com batata e molho.

Folha - Quando você começou a escrever blogs e por quê? Você já escrevia antes com freqüência? Como?

DGR -
Não vivo sem escrever. Comecei o Saudade do Presidente Figueiredo em 2002, mas já tinha outros blogs. O objetivo do Saudade era aliviar a tensão no trabalho, mas nunca escrevi nele sobre meu trabalho.

Folha - Quais as principais vantagens e desvantagens do blog em relação a outros formatos, como diários, iluminuras, livros, apostilas, panfletos etc.?

DGR -
O blog é rápido, não tem custos editoriais nem problemas de distribuição. A desvantagem: as caixas de comentário, que só mantenho para que corrijam meu texto, porque posto sem revisar, e para ter notícias de grandes amigos e leitores que não têm tempo ou dinheiro para me mandar e-mail.

Folha - Quantos posts vocês escreve em média a cada mês? Quanto tempo você gasta com os blogs? Quem é o mais prolífico dos Wunders? Quem é o mais conciso?

DGR -
Não perco tempo com o blog, mas sempre releio meus arquivos. Tento postar uma média de um texto por dia, mas às vezes a raiva e a saudade exigem mais. Voto no Mozart como o mais prolífico e no FDR como o mais conciso.

Folha - Além dos blogs, você escreve alguma forma de ficção? Com que características?

DGR -
Minha ficção é muito mais interessante que o blog. Todos os meus temas são tradicionais: o valor da família, o amor, a possibilidade de uma existência individual, a passagem do tempo, o mistério da existência do mal, a possibilidade de redenção humana. E costumo fugir de plot e de cenas chatas. Aprecio Beckett, Joyce, Pynchon e Michael Lowry.

Folha - Como selecionou o material para o livro "Wunderblogs.com"?

DGR -
Pela relevância. Depois, textos grandes, datados ou exercícios de media watch ficaram de fora. E, finalmente, pela beleza. A seleção ficou com menos de um décimo dos arquivos do blog.

Folha - Qual o perfil do leitor dos blogs Wunder? Quem são os "inimigos" do Wunder?

DGR -
Não sei quem me lê. Os poucos que se manifestam são pessoas muito legais. Sou lido por outros blogueiros e de certa forma todos nós nos lemos e tentamos acompanhar a centena de bons blogs brasileiros e portugueses. Meus inimigos estão todos mortos.

Folha - O que você pensa da literatura contemporânea brasileira?

DGR -
A literatura vai bem, longe das livrarias, os bons autores continuam desconhecidos. Fora o Wilson Martins, quem lê a Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque? Cláudia Lage ainda não lançou o segundo livro. Manoel Carlos Karam publica desde os anos 1980, mas uma minoria conhece. E o Diogo Mainardi disse que abandonou a literatura, uma grande perda.

Folha - Quem são seus 'modelos' intelectuais e literários?

DGR -
Além do preto básico, Paulo Francis, Diogo Mainardi, Olavo de Carvalho, Paul Johnson, Mário Ferreira dos Santos, H.P. Lovecraft e todos aqueles nomes rotulados como 'de direita', como o Rafael Lima. Confesso que costumo me plagiar. Meus modelos literários são Hugo Pratt e Guido Crepax.

Folha - O escritor Marçal Aquino disse ontem, em debate no Sesc Anchieta, de São Paulo, que 'todos os escritores hoje são de esquerda'. Comente.

DGR -
Sou escritor e nunca fui de esquerda. Aquino errou.

Folha - Os autores do Wunderblogs são muitas vezes chamados de direitistas, conservadores etc. O que você pensa disso? Quem é, na sua opinião, o mais conservador e/ou reacionário dos 11 autores reunidos no livro?

DGR -
Eu sou o mais conservador, quero a volta dos consoles Atari e de tudo o que havia nos anos 1980, menos os cortes de cabelo ridículos. E os rótulos atestam a capacidade mental de quem os emite.

Folha - Existe direita (ou termo equivalente) inteligente aqui ou fora do país hoje em dia? Exemplos?

DGR -
A direita inteligente floresce no mundo civilizado desde sempre. No Brasil há uns poucos blogs, gente como o Giovani MacDonald (www.direita.blogspot.com), o Cláudio Avolio (www.c-avolio.com/se_liga/), o Cláudio Tellez (www.claudiotellez.org/blog/). E a partir dos links que esses blogs mantêm, você encontra os outros. Não sei se o Nelson Ascher se sentiria à vontade com o rótulo, mas seu blog (http://www.europundits.blogspot.com/), em inglês, escrito em conjunto com outros jornalistas é excelente. Fora da rede, o Meira Penna.

Folha - Por que você usa pseudônimo ?

DGR -
Uso o pseudônimo desde que passei a freqüentar a Internet, em 95. Quando iniciei o Saudade, resolvi mantê-lo. O Dante Gabriel original foi pintor, poeta e pão-duro, um grande exemplo.

Folha - Quais dessas características você acha que tem seu blog: pessimismo, otimismo, bom humor, mau humor, misticismo, moralismo, anglofilia, "antibrasileirismo", liberalismo, catolicismo, cristianismo, classicismo, ironia, passadismo.

DGR -
Toda pessoa de alguma inteligência sofre de anglofilia, nada contra o Brasil. Tentei a ironia, quando criança, e as pessoas achavam que eu estava engasgando, nunca mais. Em síntese: simonia, bucolismo e conga irlandesa.

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