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03/07/2004
-
03h16
CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo
Veja a seguir a entrevista com Daniel Pellizzari:
Folha - Na sua opinião, que características, além do fato de escreverem blogs e os ancorarem no Wunderblogs, unem os autores coligados no livro?
Daniel Pellizzari - Senso de humor, afeição pela capacidade humana de raciocinar e um bom domínio da língua portuguesa.
Folha - Quando você começou a escrever blogs e por quê? Você já escrevia antes com freqüência? Como?
Pellizzari - Publico textos de todo o tipo --literários ou não-- na internet desde 1995. Por quê? Porque ela estava lá.
Folha - Quais as principais vantagens e desvantagens do blog em relação a outros formatos, como diários, iluminuras, livros, apostilas, panfletos etc.?
Pellizzari - Não considero literatura os textos do meu blog. Ali é só um espaço para eu resmungar quando sinto vontade, compartilhar cousas que encontrei pela internet, expor algumas bobagens que andei pensando e assim por diante. Um blog só poderia ser um blog. Este livro não é mais um blog. É um recorte de blogs, que tirados de seu contexto original tornaram-se outra coisa que não blogs.
Folha - Quantos posts vocês escreve em média a cada mês? Quanto tempo você gasta com os blogs?
Pellizzari - Não tenho nenhuma preocupação com a freqüência dos posts. Quando quero dizer alguma coisa, vou lá e escrevo. Não costumo pensar no tempo que gasto com coisa alguma. Vou fazendo e só. Fico sem tempo de olhar para o relógio, creio.
Folha - Como selecionou o material para o livro "Wunderblogs.com"?
Pellizzari - Lendo os arquivos e filtrando o que me parecia menos ruim e/ou solipsista. Alguns textos entraram por aclamação popular (como a receita de chili); quase me senti descendo a Sierra Maestra, por pouco não farejei o suor da revolução.
Folha - Qual o perfil do leitor dos blogs Wunder? Quem são os 'inimigos' do Wunder?
Pellizzari - Não faço idéia. Não me interesso por isso, sinceramente. Política e politicagens me entediam. Sou antes de tudo um esteta, e o Terceiro Reich já mostrou o que acontece quando estetas se interessam por política: uniformes com grife Hugo Boss e uma sucessão de patetices. Não que outros façam cousa muito melhor, é bom sublinhar.
Ademais, esse é um dos motivos para eu não ter caixa de comentários no blog; dá margem a picuinhas totalmente desinteressantes. Ali estou falando sozinho, não sinto nenhuma necessidade de resposta, muito menos as automáticas e irrefletidas. Se alguém realmente tem algo a me dizer, toma tempo para escrever um e-mail.
Folha - O que você pensa da literatura contemporânea brasileira?
Pellizzari - Uma boa bagunça, no melhor dos sentidos. O melhor de tudo é que a Academia e seus lacaios não conseguem entender nada. Bonito pacas, isso.
Folha - Quem são seus "modelos" intelectuais e literários?
Pellizzari - Aprecio muita gente viva e defunta, mas gosto de pensar que já passei da idade de ter modelos.
Folha - O escritor Marçal Aquino disse ontem, em debate no Sesc Anchieta, de São Paulo, que "todos os escritores hoje são de esquerda". Comente.
Pellizzari - Verdade, eu sou canhoto e tenho uma coisinha pela idéia de Capeta.
Folha - Variante da pergunta anterior: os autores do Wunderblogs são muitas vezes chamados de direitistas, conservadores etc. O que você pensa disso?
Pellizzari - Penso que a loteria da estupidez foi generosa até demais com o Brasil.
Folha - Quem é, na sua opinião, o mais conservador e/ou reacionário dos 11 autores reunidos no livro?
Pellizzari - O Nelson Rodrigues.
Folha - Existe direita (ou termo equivalente) inteligente aqui ou fora do país hoje em dia? Exemplos?
Pellizzari - Não consigo ver o mundo dessa forma, desculpe. Direita, esquerda, centro, terceira via, PSTU, TFP, isso tudo não me faz sentido algum. Não faço parte desse mundo e esse mundo não encosta as patas sujas no meu.
Essa visão de mundo pressupõe entender o mundo através de classes sociais, o que eu considero uma das supremas indicações de pobreza de espírito. Divido o mundo em gênios, inteligências criadoras, pessoas interessantes, gente tolerável e turma das galés. Sim, eu devo ser meio gnóstico.
Folha - Quais dessas características você acha que tem seu blog: pessimismo, otimismo, bom humor, mau humor, misticismo, moralismo, anglofilia, "antibrasileirismo", liberalismo, catolicismo, cristianismo, classicismo, ironia, passadismo.
Pellizzari - Otimismo. Humanismo. Também me encanta superestimar os leitores, quando lembro que eles estão ali.
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Veja a seguir a entrevista com Daniel Pellizzari:
Folha - Na sua opinião, que características, além do fato de escreverem blogs e os ancorarem no Wunderblogs, unem os autores coligados no livro?
Daniel Pellizzari - Senso de humor, afeição pela capacidade humana de raciocinar e um bom domínio da língua portuguesa.
Folha - Quando você começou a escrever blogs e por quê? Você já escrevia antes com freqüência? Como?
Pellizzari - Publico textos de todo o tipo --literários ou não-- na internet desde 1995. Por quê? Porque ela estava lá.
Folha - Quais as principais vantagens e desvantagens do blog em relação a outros formatos, como diários, iluminuras, livros, apostilas, panfletos etc.?
Pellizzari - Não considero literatura os textos do meu blog. Ali é só um espaço para eu resmungar quando sinto vontade, compartilhar cousas que encontrei pela internet, expor algumas bobagens que andei pensando e assim por diante. Um blog só poderia ser um blog. Este livro não é mais um blog. É um recorte de blogs, que tirados de seu contexto original tornaram-se outra coisa que não blogs.
Folha - Quantos posts vocês escreve em média a cada mês? Quanto tempo você gasta com os blogs?
Pellizzari - Não tenho nenhuma preocupação com a freqüência dos posts. Quando quero dizer alguma coisa, vou lá e escrevo. Não costumo pensar no tempo que gasto com coisa alguma. Vou fazendo e só. Fico sem tempo de olhar para o relógio, creio.
Folha - Como selecionou o material para o livro "Wunderblogs.com"?
Pellizzari - Lendo os arquivos e filtrando o que me parecia menos ruim e/ou solipsista. Alguns textos entraram por aclamação popular (como a receita de chili); quase me senti descendo a Sierra Maestra, por pouco não farejei o suor da revolução.
Folha - Qual o perfil do leitor dos blogs Wunder? Quem são os 'inimigos' do Wunder?
Pellizzari - Não faço idéia. Não me interesso por isso, sinceramente. Política e politicagens me entediam. Sou antes de tudo um esteta, e o Terceiro Reich já mostrou o que acontece quando estetas se interessam por política: uniformes com grife Hugo Boss e uma sucessão de patetices. Não que outros façam cousa muito melhor, é bom sublinhar.
Ademais, esse é um dos motivos para eu não ter caixa de comentários no blog; dá margem a picuinhas totalmente desinteressantes. Ali estou falando sozinho, não sinto nenhuma necessidade de resposta, muito menos as automáticas e irrefletidas. Se alguém realmente tem algo a me dizer, toma tempo para escrever um e-mail.
Folha - O que você pensa da literatura contemporânea brasileira?
Pellizzari - Uma boa bagunça, no melhor dos sentidos. O melhor de tudo é que a Academia e seus lacaios não conseguem entender nada. Bonito pacas, isso.
Folha - Quem são seus "modelos" intelectuais e literários?
Pellizzari - Aprecio muita gente viva e defunta, mas gosto de pensar que já passei da idade de ter modelos.
Folha - O escritor Marçal Aquino disse ontem, em debate no Sesc Anchieta, de São Paulo, que "todos os escritores hoje são de esquerda". Comente.
Pellizzari - Verdade, eu sou canhoto e tenho uma coisinha pela idéia de Capeta.
Folha - Variante da pergunta anterior: os autores do Wunderblogs são muitas vezes chamados de direitistas, conservadores etc. O que você pensa disso?
Pellizzari - Penso que a loteria da estupidez foi generosa até demais com o Brasil.
Folha - Quem é, na sua opinião, o mais conservador e/ou reacionário dos 11 autores reunidos no livro?
Pellizzari - O Nelson Rodrigues.
Folha - Existe direita (ou termo equivalente) inteligente aqui ou fora do país hoje em dia? Exemplos?
Pellizzari - Não consigo ver o mundo dessa forma, desculpe. Direita, esquerda, centro, terceira via, PSTU, TFP, isso tudo não me faz sentido algum. Não faço parte desse mundo e esse mundo não encosta as patas sujas no meu.
Essa visão de mundo pressupõe entender o mundo através de classes sociais, o que eu considero uma das supremas indicações de pobreza de espírito. Divido o mundo em gênios, inteligências criadoras, pessoas interessantes, gente tolerável e turma das galés. Sim, eu devo ser meio gnóstico.
Folha - Quais dessas características você acha que tem seu blog: pessimismo, otimismo, bom humor, mau humor, misticismo, moralismo, anglofilia, "antibrasileirismo", liberalismo, catolicismo, cristianismo, classicismo, ironia, passadismo.
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