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03/07/2004 - 03h18

Alexandre Soares Silva afirma que seu blog nutre "antibrasileirismo"

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Leia a entrevista que a Folha fez com Alexandre Soares Silva.

Folha - Na sua opinião, que características, além do fato de escreverem blogs e os ancorarem no Wunderblogs, unem os autores coligados no livro?

Silva -
Não muito. Ganhamos a fama de sermos 'de direita', o que quer que isso signifique; mas não faz muito sentido. Entre os wunderbloggers há cristãos, ateus, liberais da escola austríaca, neocons, etc. Não há gente de esquerda, que eu saiba, mas também é tão difícil encontrar gente de esquerda na internet que escreva bem...

Folha - Quando você começou a escrever blogs e por quê? Você já escrevia antes com freqüência? Como?

Silva -
Comecei pelo mais ridículo motivo, que era chamar a atenção para um livro que tinha lançado, um romance. Depois, simplesmente gostei da coisa. Eu já escrevia com frequência, desde criança, mas sempre ficção; no blog acabei desenvolvendo um estilo de não-ficção, que acho jeitosinho e faceto, muito pimpão e coisa e tal. (Mas macho, macho.)

Folha - Quais as principais vantagens e desvantagens do blog em relação a outros formatos, como diários, iluminuras, livros, apostilas, panfletos etc.?

Silva -
Há uma desvantagem que é também uma vantagem, que é a de não ser levado a sério. Digo que é uma vantagem porque realmente acho que é mas fácil fazer algum tipo de arte quando se acha que se está fazendo alguma outra coisa qualquer. Folhetins, pulp, thrillers, filmes de ação, quadrinhos, são formas de arte feitas por pessoas que não achavam que estavam fazendo arte, e consumidas (olha o vocabulário submarxista) por gente que também não achava que era arte. Melhor assim...

Folha - Quantos posts vocês escreve em média a cada mês? Quanto tempo você gasta com os blogs?

Silva -
Tento escrever pelo menos um post a cada dois ou três dias, fiquei viciado no número de acessos e eles caem se eu não posto, uma tristeza. E fico o dia inteiro reescrevendo o post, mesmo depois dele já estar online. Fico mudando uma vírgula aqui, outra ali. E lendo os comentários e respondendo (me divirto muito respondendo os comentários).

Folha - Quem é o mais prolífico dos Wunders? Quem é o mais conciso?

Silva -
Os mais prolíficos certamente são o mozart e o Dante. O mais conciso, humm. O Dante.

Folha - Como selecionou o material para o livro 'Wunderblogs.com'?

Silva -
Incluí na seleção os que iam me doer muito deixar de fora. Gosto muito deles, fico relendo sem parar. Mas não tive nenhum outro critério, só o meu gosto mesmo.

Folha - Qual o perfil do leitor dos blogs Wunder? Quem são os 'inimigos' do Wunder?

Silva -
Gostamos de pensar que temos um monte de inimigos, mas devem ser só uns vinte imbecis. Queria ser mais cavalheiresco com os inimigos dos wunderblogs, dizer que são inimigos à altura, mas geralmente é algum molequinho escrevendo palavrões ou uma senhora chocada, que escreve mensagens do tipo 'Gente, me dói muito ver os ideais da minha juventude ridicularizados e feitos de pilhéria por uma turminha reacionária que se instalou na internet como senhores feudais, dando ordens da segurança de seus castelos high tech', esse tipo de coisa. Não dá pra levar a sério, né? 'Muito me choca...' Ah, francamente.

Folha - O que você pensa da literatura contemporânea brasileira?

Silva -
Gosto daquela pequena parte que não está obcecada por traficantes do jeito que seus antecessores estavam obcecados por jegues. Mas vamos excluir dessa lista a literatura mulherzinha e as tentativas de policial middlebrow.

Folha - Quem são seus 'modelos' intelectuais e literários?

Silva -
Ah, Mencken, Wodehouse, Waugh, Chesterton, Paulo Francis, Eça de Queiroz, Oscar Wilde, e mais uns vinte ou trinta, na maioria ingleses. Na maioria brancos, na maioria católicos.

Folha - O escritor Marçal Aquino disse ontem, em debate no Sesc Anchieta, de São Paulo, que 'todos os escritores hoje são de esquerda'. Comente.

Silva -
Mas claro, os escritores são de esquerda como os pintores usam boina e os psiquiatras cavanhaque, porque lhes disseram que é assim mesmo. Temo que alguns escritores bebam pelo mesmo motivo.

Ser de esquerda é uma coisa que aflige as pessoas que estão começando, apenas começando, a vida da mente (alguns conseguem pular esse degrau --sorte deles, eu não consegui; era vagamente pró-Chomsky uns anos atrás). Como os escritores de países como Gana ou Brasil estão, coletivamente, apenas começando a vida da mente e nunca avançando muito nela, são todos de esquerda mesmo. Começam a escrever, vixe, ficam logos obcecados com a vida nas favelas. É uma coisa.

Folha - Os autores do Wunderblogs são muitas vezes chamados de direitistas, conservadores etc. O que você pensa disso? Quem é o mais reacionário do grupo?

Silva -
Queria dizer que sou eu, mas infelizmente sofro de uma certa moderação cretina. Odeio a Revolução Francesa, mas tenho amigos que realmente admiram o sistema de castas hindu ou a vida na Idade Média (De Polli). Às vezes eu penso em defender a escravatura para Juliana Paes, mas são só sonhos.

Folha - Existe direita (ou termo equivalente) inteligente aqui ou fora do país hoje em dia? Exemplos?

Silva -
Se definirmos direita como 'quem está contra a esquerda', quase só há gente inteligente na direita. Exemplos, vivos, são Roger Scruton, Paul Johnson, os autores do site Lew Rockwell (malucos, e usam gravata de Kentucky Fried Chicken, mas inteligentes). E na internet --nos blogs-- bem, os melhores blogs, por algum motivo que ainda não entendi direito, são de direita, e isso no mundo todo --Andrew Sullivan nos Estados Unidos, Miguel Esteves Cardoso em Portugal, Europundits, etc. A lista é grande demais para dar aqui.

Folha - Quais dessas características você acha que tem seu blog: pessimismo, otimismo, bom humor, mau humor, misticismo, moralismo, anglofilia, 'antibrasileirismo', liberalismo, catolicismo, cristianismo, classicismo, ironia, passadismo.

Silva -
Antibrasileirismo, sim. E anglofilia. Me pergunto se há hospitais que tratem anglofilia extrema. Uma ala de indianos dizendo 'old boy' e 'By Jove!'. Humm.

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