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11/07/2004 - 08h52

Chico Buarque faz gol de letra em pelada literária

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CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA

enviados especiais a Parati

Nem Flamengo x Vasco nem Santos x São Paulo. O jogo mais importante da rodada foi no acanhado Trevo Clube, a quatro quilômetros de Parati. De um lado do campo, um combinado de paratienses como Ferrugem, Cazuza e Alicate, todos com as camisas rubro-negras do Pontal Esporte Clube; do outro, o time da Festa Literária Internacional de Parati, com um dos centroavantes mais conhecidos do país, Chico Buarque de Holanda.

A pelada começou cravadas 13h de ontem, com um pontapé inicial (para o lado errado) da veterana editora inglesa Liz Calder, técnica, cartola e goleira da Flip. Mas foi no finalzinho do combate, com chuva apertada e os espectadores já mais interessados na feijoada do salão ao lado do que nos pontapés do futebol society, o lance capital, o gol mais famoso já feito nos gramados de Parati.

Aos 29 minutos do segundo tempo, Chico Buarque avançou pela meia-esquerda, carregou a bola para o pé canhoto e arrematou no canto direito do goleiro Nanã, técnico em eletricidade de Parati que vinha fazendo de tudo para estragar a festança.

"Gol de letra", brincou o escritor José Roberto Torero (que tinha no seu banco de reservas outros trocadilhos, como "passou a bola entre as canetas"). Ele foi quase exceção. Dos jogadores que vestiram a camisa da Flip poucos eram das letras, casos do atacante José Miguel Wisnik e do meia Michel Laub.

Na platéia, a concentração de prosadores enchia mais do que uma Kombi. "E então, mr. Paul Auster, o sr. vai jogar? Eu? Você não sabe que sou americano e que americanos são péssimos no futebol?", disse à Folha o autor de "Leviatã", momentos antes do apito inicial.

Além dele e de sua mulher, a também escritora Siri Hustvedt, assistiram ao bate-bola autores como Luis Fernando Verissimo (que definiu a partida como "muito técnica"), Ziraldo, Daniel Galera, Ivana Arruda Leite, entre outros.

O mais apreensivo durante o jogo não foi nenhum deles. O técnico da equipe, o editor Luiz Schwarcz (goleiro, que não assumiu as metas graças a uma contusão no ombro), comandou seus jogadores em estilo Felipão. De pé, na beira do gramado, gritava expressões como "troca a bola na saída", "Chico, tem dois na esquerda" ou o enigmático "voltem para cobrir o beque".

Parece que funcionou. Nos primeiros 30 minutos, seu time, o de Chico, enfiou um 3 x 2 no time de Parati (que, diga-se, foi orientado, a reportagem testemunhou, "a pegarem leve"); na segunda etapa, fizeram 5 x 2 em cima de um combinado de "amigos da Flip" também.

O artilheiro, com quatro tentos, foi Vinicius França, empresário de Chico Buarque de Holanda, com quem fez afinada dupla de ataque --os dois desfilaram com as chuteiras mais lustrosas; a equipe paratiense atuou quase toda descalça.

Outro destaque dos flipeiros "chiquenses" foi Antonio Pedro, neto de Rubem Fonseca, com um gol em cada partida. "Ele jogava com o Chico quando morou em Paris", comentava "corujosamente" a jornalista e editora Bia Corrêa do Lago.

Mais destacado do que seu filho ou que todos os demais em campo --salvo Chico-- foi outro personagem que entrou com tudo no gramado, a partir do segundo tempo: a chuva. Com o gramado quase tão escorregadio como as pedras de Parati, e poças que quase fizeram da pelada pólo aquático, o jogo foi encerrado pelo juiz Ezio de Oliveira Rocha às 14h. Não houve trocas de camisas.

Chico escapou correndo com a sua para o vestiário. Na saída, uma multidão de repórteres enfiou microfones e gravadores na boca do jogador. Ele elogiou a Flip, elogiou Paul Auster (em especial "A Invenção da Solidão"), com quem faria debate mais tarde, desviou de pergunta sobre seus 60 anos. Faltaram expressões à "dei o melhor de si mesmo".

Antes de sair, e de posar para uma foto com a equipe mirim do time local Escolinha de Futebol Ernani Cruz, ele respondeu a uma pergunta da Folha.

Folha - Quem foi o melhor jogador em campo?
Chico Buarque de Holanda -
A modéstia me impede de dizer.

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