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04/08/2004
-
08h01
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha
É difícil hoje imaginar o cinema sem Hitchcock. Mas não era. Antes que os "jovens turcos" dos "Cahiers du Cinéma" tomassem a palavra, Hitchcock era, para todos os efeitos, apenas um bom diretor de filmes comerciais.
Foi com eles que tudo começou a mudar. "Eles", no caso, são Claude Chabrol, François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Eric Rohmer. Hoje são todos grandes nomes do cinema. Na época eram a polêmica vanguarda da crítica jovem.
Criaram o hábito de sair com gravador portátil em punho para conversar com diretores de cinema. Faziam longas entrevistas, que publicavam na íntegra.
É desse hábito que nasceu "Hitchcock/Truffaut", a mais completa aula de cinema que alguém já deu até hoje. Truffaut já era um diretor consagrado, mas nem por isso evitou o esforço de dobrar o mestre inglês, isto é: de forçá-lo a falar algo mais do que banalidades. De fazê-lo falar sobre cinema. Queria demonstrar, de uma vez por todas, que a alma do cinema não é o tema, nem o enredo, as estrelas ou a bilheteria, mas a mise-en-scène.
Não falta, desde então, quem não tenha pretendido refazer esse trajeto. Joseph McBride fez uma longa entrevista com Howard Hawks. Mas Hawks conseguiu levá-lo no bico: a cada pergunta sobre como fazia tal coisa, respondia com uma longa história (não raro inventada). Michel Ciment tentou com Elia Kazan. O resultado diz muito sobre Kazan, o atormentado, mas não muito sobre cinema.
"O Cinema Segundo François Truffaut", de Anne Gillain, tem o mérito de acompanhar o cineasta ao longo de décadas; assim podemos saber o que pensava Truffaut de "Os Incompreendidos", por exemplo, nos anos 60, nos 70, nos 80. Acompanhamos a evolução do seu pensamento e sua maneira de se relacionar com o filme que realizou, com aquilo que o cerca (o sucesso, o fracasso, a imprensa) e com o próprio cinema.
O mais notável esforço do gênero, no entanto, deve-se a Peter Bogdanovich. Além de diretor e crítico, ele é um entrevistador compulsivo. O seu grande trabalho é "Este É Orson Welles", em que às entrevistas adiciona uma quantidade enorme de informação e crítica.
Se esses seguidores criaram a bela tradição do livro-entrevista (que agora começa a se desenvolver no Brasil, graças à Imesp), quem inaugura essa linhagem representa, também, seu apogeu: "Hitchcock/Truffaut" continua insubstituível.
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crítico da Folha
É difícil hoje imaginar o cinema sem Hitchcock. Mas não era. Antes que os "jovens turcos" dos "Cahiers du Cinéma" tomassem a palavra, Hitchcock era, para todos os efeitos, apenas um bom diretor de filmes comerciais.
Foi com eles que tudo começou a mudar. "Eles", no caso, são Claude Chabrol, François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Eric Rohmer. Hoje são todos grandes nomes do cinema. Na época eram a polêmica vanguarda da crítica jovem.
Criaram o hábito de sair com gravador portátil em punho para conversar com diretores de cinema. Faziam longas entrevistas, que publicavam na íntegra.
É desse hábito que nasceu "Hitchcock/Truffaut", a mais completa aula de cinema que alguém já deu até hoje. Truffaut já era um diretor consagrado, mas nem por isso evitou o esforço de dobrar o mestre inglês, isto é: de forçá-lo a falar algo mais do que banalidades. De fazê-lo falar sobre cinema. Queria demonstrar, de uma vez por todas, que a alma do cinema não é o tema, nem o enredo, as estrelas ou a bilheteria, mas a mise-en-scène.
Não falta, desde então, quem não tenha pretendido refazer esse trajeto. Joseph McBride fez uma longa entrevista com Howard Hawks. Mas Hawks conseguiu levá-lo no bico: a cada pergunta sobre como fazia tal coisa, respondia com uma longa história (não raro inventada). Michel Ciment tentou com Elia Kazan. O resultado diz muito sobre Kazan, o atormentado, mas não muito sobre cinema.
"O Cinema Segundo François Truffaut", de Anne Gillain, tem o mérito de acompanhar o cineasta ao longo de décadas; assim podemos saber o que pensava Truffaut de "Os Incompreendidos", por exemplo, nos anos 60, nos 70, nos 80. Acompanhamos a evolução do seu pensamento e sua maneira de se relacionar com o filme que realizou, com aquilo que o cerca (o sucesso, o fracasso, a imprensa) e com o próprio cinema.
O mais notável esforço do gênero, no entanto, deve-se a Peter Bogdanovich. Além de diretor e crítico, ele é um entrevistador compulsivo. O seu grande trabalho é "Este É Orson Welles", em que às entrevistas adiciona uma quantidade enorme de informação e crítica.
Se esses seguidores criaram a bela tradição do livro-entrevista (que agora começa a se desenvolver no Brasil, graças à Imesp), quem inaugura essa linhagem representa, também, seu apogeu: "Hitchcock/Truffaut" continua insubstituível.
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