Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/08/2004 - 04h32

"Todas as Cores" trata do "amor líqüido", mas evita angústia

Publicidade

PEDRO BUTCHER
crítico da Folha

Num futuro não muito distante, alguém ainda vai publicar uma tese a respeito dos tantos filmes desse começo de século que falam da memória. Principalmente da memória afetiva e lembranças ligadas ao amor.

Só em 2004 (se não me falha a memória) estrearam três: "Como se Fosse a Primeira Vez" (de Peter Segal, com Adam Sandler e Drew Barrymore), "Efeito Borboleta" (de Eric Bress, com Ashton Kutcher) e "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" (de Michel Gondry, com Jim Carrey e Kate Winslet). A eles, agora, junta-se a produção irlandesa "Todas as Cores do Amor", escrita e dirigida por Liz Gill --que já foi assistente de Martin Scorsese.

O tema da memória, no caso, não é tomado literalmente, mas metaforicamente. A tese do peixe de aquário (que serviu de base para a hilária Doris de "Procurando Nemo") é evocada como metáfora perfeita para a atitude humana diante do amor. Como tais peixes, capazes de reter acontecimentos por apenas três segundos, os seres humanos vivem cada relação como se fosse a primeira. Quando o que está em jogo é o desejo, não há trauma ou aprendizado possível: estamos todos condenados à repetição.

O roteiro, ao menos, não leva essa metáfora tão a sério, apenas brinca com ela. Lá pela metade da história uma das personagens faz uma pergunta óbvia ("Mas como se testa a memória de um peixe?") e derruba a ladainha pseudocientífica usada como cantada (sempre em combinação com um poema de Rilke) pelo professor de literatura e conquistador barato Tom (Sean Campion).

Tom é um dos vários personagens de Dublin que o filme entrelaça com histórias de amor. Eles refletem novos laços possíveis, sexualidades flutuantes, famílias não-tradicionais e a incerteza de sentimentos tão característica de nossa época. É uma tentativa de dar forma, de maneira simplificada, ao "amor líquido" descrito por Zygmunt Bauman, que identificou com agucidade a angústia desses tempos em que a solidez das idéias e das relações se desmanchou no ar.

Mas Liz Gill, justamente, quer fugir da angústia. Ela luta, o tempo todo, para reforçar a leveza, mesmo dos conflitos mais pesados, perdendo muito em complexidade. "Todas as Cores do Amor" não resolve bem o problema de refutar a negatividade sem cair no banal. E, assim, um filme que começa a se desenhar como um charmoso retrato das relações contemporâneas transforma-se em uma história convencional, em busca de um final feliz.

Avaliação:

Todas as Cores do Amor (Goldfish Memory)
Produção: Irlanda, 2003
Direção: Liz Gill
Com: Sean Campion, Flora Montgomery, Stuart Graham
Quando: a partir de hoje no Cineclube DirecTV, Lumière, Espaço Unibanco e circuito
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página