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06/08/2004
-
06h23
THIAGO STIVALETTI
free-lance para a Folha
É curioso ver como grande parte do cinema espanhol contemporâneo se pauta pelo sucesso internacional de Pedro Almodóvar. O sexo serve de tema central ora de dramas intimistas ("Lúcia e o Sexo"), ora de policiais regados a suspense ("Entre as Pernas"), ora de comédias familiares como esta "Minha Mãe Gosta de Mulher".
Almodóvar consegue misturar todos esses gêneros com eficácia e ainda deixar sua marca de autor. Já as estreantes Inés París e Daniela Fejerman perdem a mão apostando numa missão quase impossível: construir uma comédia que combata preconceitos sexuais em vez de os reforçar.
No começo, é até possível apreciar o inusitado da mãe sexagenária, a pianista Sofía (Rosa Maria Sardá, de "Tudo sobre Minha Mãe"), apresentando uma inusitada namorada mais jovem às três filhas, entre as quais a protagonista, a neurótica Elvira (Leonor Watling, a bailarina em coma de "Fale com Ela"). Aos 20 anos, a descoberta da "nova homossexualidade" da mãe a faz entrar em profunda crise de identidade sexual.
Mas logo as filhas vão fazer de tudo para separar o casal, em situações cheias de piadas previsíveis envolvendo lésbicas, no melhor estilo "Zorra Total". É muito barulho por nada, já que o filme nunca deixa claro (pra não chocar tanto) se a atração de Sofía pela namorada é mesmo sexual ou puramente afetiva, se já sentia atração por mulheres ao se casar com o marido mais de 20 anos antes etc.
No meio dessa comédia de equívocos, um foco de interesse ainda resiste no filme. A tal namorada de Sofía, Eliska, é uma pianista tcheca que precisa legalizar sua relação para poder morar na Espanha. A partir daí, as diretoras abordam um segundo tipo de preconceito: aquele exercido contra o imigrante.
A questão anda tão em voga na Europa que virou tema de muitas produções recentes do continente, como "Código Desconhecido" (França), "Coisas Belas e Sujas" (Reino Unido) e "Queimando ao Vento" (Itália).
E aí sim poderíamos dizer que o filme contribui pelo menos um pouco para que os espanhóis (e os europeus em geral) aceitem com mais tolerância uma realidade irreversível.
Avaliação:
Minha Mãe Gosta de Mulher (A Mi Madre le Gustan las Mujeres)
Produção: Espanha, 2001
Direção: Inés París e Daniela Fejerman
Com: Eleonor Watling, Rosa Maria Sardá, María Pujalte
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre cinema espanhol
Comédia espanhola reforça um preconceito que quer combater
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free-lance para a Folha
É curioso ver como grande parte do cinema espanhol contemporâneo se pauta pelo sucesso internacional de Pedro Almodóvar. O sexo serve de tema central ora de dramas intimistas ("Lúcia e o Sexo"), ora de policiais regados a suspense ("Entre as Pernas"), ora de comédias familiares como esta "Minha Mãe Gosta de Mulher".
Almodóvar consegue misturar todos esses gêneros com eficácia e ainda deixar sua marca de autor. Já as estreantes Inés París e Daniela Fejerman perdem a mão apostando numa missão quase impossível: construir uma comédia que combata preconceitos sexuais em vez de os reforçar.
No começo, é até possível apreciar o inusitado da mãe sexagenária, a pianista Sofía (Rosa Maria Sardá, de "Tudo sobre Minha Mãe"), apresentando uma inusitada namorada mais jovem às três filhas, entre as quais a protagonista, a neurótica Elvira (Leonor Watling, a bailarina em coma de "Fale com Ela"). Aos 20 anos, a descoberta da "nova homossexualidade" da mãe a faz entrar em profunda crise de identidade sexual.
Mas logo as filhas vão fazer de tudo para separar o casal, em situações cheias de piadas previsíveis envolvendo lésbicas, no melhor estilo "Zorra Total". É muito barulho por nada, já que o filme nunca deixa claro (pra não chocar tanto) se a atração de Sofía pela namorada é mesmo sexual ou puramente afetiva, se já sentia atração por mulheres ao se casar com o marido mais de 20 anos antes etc.
No meio dessa comédia de equívocos, um foco de interesse ainda resiste no filme. A tal namorada de Sofía, Eliska, é uma pianista tcheca que precisa legalizar sua relação para poder morar na Espanha. A partir daí, as diretoras abordam um segundo tipo de preconceito: aquele exercido contra o imigrante.
A questão anda tão em voga na Europa que virou tema de muitas produções recentes do continente, como "Código Desconhecido" (França), "Coisas Belas e Sujas" (Reino Unido) e "Queimando ao Vento" (Itália).
E aí sim poderíamos dizer que o filme contribui pelo menos um pouco para que os espanhóis (e os europeus em geral) aceitem com mais tolerância uma realidade irreversível.
Avaliação:
Minha Mãe Gosta de Mulher (A Mi Madre le Gustan las Mujeres)
Produção: Espanha, 2001
Direção: Inés París e Daniela Fejerman
Com: Eleonor Watling, Rosa Maria Sardá, María Pujalte
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc
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