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06/08/2004 - 07h16

Talento de Francis Ford Coppola iniciante já aparece em terror B

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PEDRO BUTCHER
crítico da Folha

No começo dos anos 60, recém-formado em cinema, Francis Ford Coppola arrumou emprego na American International Pictures de Roger Corman, onde foi um aplicado faz-tudo. Entre 1962 e 1963, ele participou de seis filmes nas mais diversas funções, todos produzidos e dirigidos por Corman, um dos reis do filme B americano.

O aprendiz impressionou o patrão. Era visível o entusiasmo daquele rapaz de 24 anos, particularmente hábil e ágil para escrever diálogos. Corman apostava no nascimento de um roteirista. Mas Coppola queria dirigir, e apareceu com o roteiro de um filme de horror de baixíssimo orçamento. Depois de alguma hesitação, veio o sinal verde para filmar "Demência 13", durante as (poucas) folgas de "Desafiando a Morte", desde que elas não atrapalhassem o trabalho de Coppola neste filme, em que ele fazia o som.

"Demência 13", que acaba de ser lançado em DVD no Brasil, é oficialmente o primeiro filme de Coppola, descontados dois outros "exploitation movies" que permanecem na sombra da obscuridade ("The Playgirls and the Bellboy" e "Tonite for Sure").

A versão que chega ao mercado brasileiro, infelizmente, é relapsa. Extras quase não existem e, a certa altura, a imagem apresenta problemas graves, da era do vídeo. Mas é preciso fazer justiça: uma rápida pesquisa na internet revela que os problemas são idênticos aos da versão americana, sinal de que os defeitos estavam mesmo na matriz.

Ainda assim, ao menos para fãs de Coppola, "Demência 13" é uma experiência imprescindível. O talento do diretor já dá fortes sinais na seqüência de abertura, um passeio de barco noturno altamente climático, de desfecho trágico.

Filme B

A estrutura do roteiro, bem de longe, lembra "Psicose", de Hitchcock: o rumo da trama dá uma guinada quando entra em cena um assassino de identidade desconhecida, movido por um trauma de origem familiar, e aquela que parece ser a heroína desaparece bem antes do fim.

O resultado, se não chega a ser uma obra-prima, é fundamental para compreender como se formou a geração que revolucionaria o cinema americano. Assim como seus colegas Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, que também passaram pela produtora de Corman, Coppola deu o mesmo peso à "alta cultura" do cinema e à "baixa cultura" dos filmes B e produções alternativas. Samuel Fuller, Andre de Toth e Corman tiveram a mesma importância que Bergman e Antonioni.

A paixão pelo cinema jamais se reduziu ao conhecimento técnico e bitolado; à formação escolar somou-se uma paixão pela história não-oficial e um exercício prático sem preconceitos. Essa visão abrangente ajudou a gerar filmes geniais como "A Conversação", de Coppola, ou "Taxi Driver", de Scorsese, frutos dessa abertura para o cinema em suas formas mais interessantes, independentemente de seu "status" cultural.

Avaliação:

Demência 13 (Dementia 13)
Direção: Francis Ford Coppola
Produção: EUA, 1963
Lançamento: MultiMedia Group

Especial
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