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09/08/2004 - 04h03

"Galáxias" celebra Haroldo de Campos

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IRINEU FRANCO PERPETUO
da Folha de S.Paulo

Poesia, música, dança, teatro, vídeo, performance: as linguagens de diversas manifestações artísticas estarão juntas em "Sonoras Galáxias", evento que homenageia o poeta, crítico e tradutor Haroldo de Campos (1929-2003) nesta semana, no Sesc Vila Mariana (zona sul de São Paulo).

"A idéia que o Cid Campos [músico e sobrinho do homenageado] e eu tivemos foi realizar um festival anual em homenagem a um grande escritor paulistano, como acontece em outras cidades", diz o musicista Livio Tragtenberg, um dos criadores do evento.

"São Paulo é cruel com os seus e celebra pouco a cultura paulistana", afirma Tragtenberg, lembrando comemorações tradicionais como o Bloomsday, em homenagem a James Joyce (1882-1941), criado em Dublin, mas também lembrado em São Paulo, graças aos esforços de Haroldo de Campos e Munira Mutran.

Com título aludindo a "Galáxias", um dos mais célebres livros do homenageado, o evento tem participantes de áreas distintas, como o artista plástico Aguilar (que interpreta poemas editados em seus livros enquanto o produtor de música eletrônica Loop B manipula efeitos sobre sua voz), o músico Arnaldo Antunes (que também lê poemas, utilizando playbacks e processador de voz) e os atores Cacá Carvalho, Bete Coelho e Giulia Gam.

"A idéia foi juntar música popular, música experimental, teatro e a poesia ligada a outras mídias, como vídeo e dança", explica Tragtenberg.
"Celebramos a poética do Haroldo sem a restrição de ter que apresentar apenas a obra dele. Ele deve ser o catalisador de criadores ao redor do mundo, já que, nas próximas edições, pretendemos ter também convidados de fora do Brasil."

A bailarina Gisela Moreau mostra fragmento de seu espetáculo "12 Poemas para Dançarmos", enquanto os músicos Marcos Scarassatti e Marcelo Bonfim fazem performance com objetos plásticos e sonoros criados a partir de resíduos e vestígios, como caixas de madeira, sucata e molas.

A parte musical tem canções de Cid Campos e apresentação dos irmãos Lucila e Livio Tragtenberg. "A Lucila vai cantar "Rima Petrosa", que escrevi a partir do poema de Haroldo, e foi uma das últimas coisas que tive a ocasião de mostrar a ele", diz Livio.

Ele ainda apresenta duas composições. "Claro Haroldo" é uma obra para clarone solo, pontuada com intervenções da voz gravada do poeta. "Conversamos na chave do humor; ele era muito irônico e brincalhão." Já "Scratch para Haroldo" (referência ao efeito obtido por DJs) também utiliza gravações da voz do poeta, dialogando com saxofone alto e violoncelo.

O evento tem ainda a participação do grupo Poemixbr, que faz performances utilizando recursos sonoros e visuais, com projeção de vídeo; e de Ivan de Campos, filho de Haroldo, que lerá o fragmento inicial de "Galáxias", com acompanhamento de Alberto Marsicano ao sitar (instrumento de cordas da música indiana).

"O público não vai sair de casa para ver um convescote, ou uma ação entre amigos", diz Tragtenberg. "O espetáculo tem um roteiro amarrado de luz e som, desenvolvendo uma linha de representação. Não se trata de uma mera junção de participações".

"Sonoras Galáxias" terá ainda, como evento complementar, no sábado, a mesa-redonda "Haroldo de Campos: Poeta Pós-Utópico", com Augusto de Campos (irmão de Haroldo), Boris Schnaiderman, Jacó Guinsburg, João Alexandre Barbosa e Trajano Vieira discutindo diferentes aspectos da obra desse que foi um dos fundadores do movimento da poesia concreta, nos anos 50.

"Nós nos conhecemos em 1961. Eu já havia escrito vários artigos sobre Maiakóvski na imprensa, e eles também estavam interessados neste poeta", relembra o professor e tradutor Boris Schnaiderman. Por intermédio do crítico e professor alemão Anatol Rosenfeld (1912-1973), o poeta Décio Pignatari e os irmãos Campos foram apresentados ao homem que havia fundado o curso de russo da USP no ano anterior.

"Ensinei russo a Haroldo por mais ou menos um ano, e o Augusto fez o curso durante quase dois anos", diz o tradutor. Com os irmãos Campos, ele publicou dois livros de tradução de poetas, diretamente do russo: "Poemas de Maiakóvski" e "Poesia Russa Moderna". "Havia uma identidade muito grande entre nós. Pena que fizemos apenas dois livros --havia trabalho para uma vida inteira", conta Schnaiderman, cuja participação na mesa-redonda deve mesclar reminiscências pessoais e questões teóricos.

"Haroldo uma vez disse que, entre os signos e a vida, ele havia escolhido os signos. Era um exagero dele, porque, embora sua ligação com os signos fosse grande, ele era muito vital e emotivo; a vida estava sempre presente."

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