Publicidade
Publicidade
20/08/2004
-
06h28
JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha
A história de Olga Benario é tão romanesca que parece inventada. Para quem ainda não sabe: jovem judia de família burguesa, a alemã Olga vira agente soviética, vem ao Brasil como guarda-costas do líder comunista Luís Carlos Prestes, participa com ele do frustrado levante de 35, é presa pela polícia de Getúlio Vargas e deportada, grávida, para a Alemanha nazista, onde morre na câmara de gás.
Quando começou a transformar esse drama em filme, o diretor Jayme Monjardim, vindo da televisão, disse que não via diferença entre cinema e TV e que contaria a história à sua maneira, "com muitos closes, muito brilho no olho, muita emoção".
Seguiu a receita à risca. Reduziu as referências históricas ao mínimo, concentrou-se no romance entre Olga e Prestes e deu ênfase aos lances mais melodramáticos: o conflito com a mãe, a separação do amado e da filha, os maus tratos na prisão.
Colocou a serviço dessa simplificação brutal dos personagens e da história um impressionante aparato de produção, reproduzindo Berlim, Moscou e campos de concentração nazistas no Rio de Janeiro, com direito a neve falsa e milhares de figurantes.
O ideal Vera Cruz de cinema industrial acabou triunfando por vias tortas (a TV). Mas, do ponto de vista cinematográfico, o filme é praticamente nulo.
O maior problema de "Olga" é sua absoluta falta de confiança na capacidade autônoma do espectador de pensar e sentir. Tudo no filme tem que ser grifado, enfatizado e inflado para assegurar a tão buscada "emoção".
Em vista disso, além do maniqueísmo simplório que faz de todos os policiais brasileiros vilões com pesados capotes e bigodinhos sinistros, os diálogos são sempre declamatórios, a música e a sonoplastia transbordam de sentimentalismo, e não há cena em que as personagens não se debulhem em lágrimas.
Por trás dos invejáveis recursos de produção, o que se encontra é o velho espírito do melodrama radiofônico. "Olga" poderia ser usado em um curso de cinema como ilustração do cinema indutivo, manipulatório, que não deixa ao espectador nem a liberdade de olhar nem a de pensar.
Avaliação:
Olga
Produção: Brasil, 2004
Direção: Jayme Monjardim
Com: Camila Morgado, Caco Ciocler
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Morumbi e circuito
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o filme "Olga"
Longa-metragem sobre Olga tende ao manipulatório
Publicidade
colunista da Folha
A história de Olga Benario é tão romanesca que parece inventada. Para quem ainda não sabe: jovem judia de família burguesa, a alemã Olga vira agente soviética, vem ao Brasil como guarda-costas do líder comunista Luís Carlos Prestes, participa com ele do frustrado levante de 35, é presa pela polícia de Getúlio Vargas e deportada, grávida, para a Alemanha nazista, onde morre na câmara de gás.
Quando começou a transformar esse drama em filme, o diretor Jayme Monjardim, vindo da televisão, disse que não via diferença entre cinema e TV e que contaria a história à sua maneira, "com muitos closes, muito brilho no olho, muita emoção".
Seguiu a receita à risca. Reduziu as referências históricas ao mínimo, concentrou-se no romance entre Olga e Prestes e deu ênfase aos lances mais melodramáticos: o conflito com a mãe, a separação do amado e da filha, os maus tratos na prisão.
Colocou a serviço dessa simplificação brutal dos personagens e da história um impressionante aparato de produção, reproduzindo Berlim, Moscou e campos de concentração nazistas no Rio de Janeiro, com direito a neve falsa e milhares de figurantes.
O ideal Vera Cruz de cinema industrial acabou triunfando por vias tortas (a TV). Mas, do ponto de vista cinematográfico, o filme é praticamente nulo.
O maior problema de "Olga" é sua absoluta falta de confiança na capacidade autônoma do espectador de pensar e sentir. Tudo no filme tem que ser grifado, enfatizado e inflado para assegurar a tão buscada "emoção".
Em vista disso, além do maniqueísmo simplório que faz de todos os policiais brasileiros vilões com pesados capotes e bigodinhos sinistros, os diálogos são sempre declamatórios, a música e a sonoplastia transbordam de sentimentalismo, e não há cena em que as personagens não se debulhem em lágrimas.
Por trás dos invejáveis recursos de produção, o que se encontra é o velho espírito do melodrama radiofônico. "Olga" poderia ser usado em um curso de cinema como ilustração do cinema indutivo, manipulatório, que não deixa ao espectador nem a liberdade de olhar nem a de pensar.
Avaliação:
Olga
Produção: Brasil, 2004
Direção: Jayme Monjardim
Com: Camila Morgado, Caco Ciocler
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Morumbi e circuito
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice