Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/08/2004 - 09h39

Mostra traz a gênese de "Macunaíma"

Publicidade

LUCIANA ARAUJO
da Folha de S.Paulo

Macunaíma nasceu no fundo do mato virgem. Assim Mário de Andrade tratou de indeterminar o local do nascimento de seu herói sem caráter. Por sua vez, o lugar em que a obra foi escrita pode ser identificado no mapa. Araraquara, no interior paulista, é a cidade natal de "Macunaíma" (1928) e sede da exposição "Na Terra de Macunaíma", que abre no próximo dia 31 e vai até 17/10, numa unidade do Sesc.

"Macunaíma" foi parido em Araraquara", brinca o jornalista Audálio Dantas, idealizador do projeto ao lado do colega de profissão Fernando Granato. O parto, que durou seis dias de "cigarros e cigarras", nas palavras do autor, no verão de 1926, se deu na chácara Sapucaia, atual Safioti. Na época, propriedade era de Pio Lourenço Corrêa (1875-1957), primo ao qual Mário chamava de tio. O rebento, um dos marcos da literatura brasileira.



A mostra reúne documentos da história desse nascimento e traz à tona a figura de Pio, interlocutor importante no processo.
O período de criação foi precedido de uma pesquisa cuidadosa do escritor, que "levou na mala, rumo a Sapucaia, o "Macunaíma" desmontado", observa Granato. Os exemplares dos livros que serviram de fonte para "Macunaíma", caso de "Nomes de Aves em Língua Tupi" (1913), de Rodolpho Garcia, e "Vom Roraima zun Orinoco", do etnógrafo e naturalista alemão Theodor Koch-Grünber, livro do qual é colhida a lenda de um herói indígena chamado Macunaíma, estarão expostos, assim como fichas de Mário com dados levantados em viagens e leituras.

O público poderá conferir manuscritos da primeira versão do prefácio e do índice de "Macunaíma", escritos em Araraquara, entre 16 e 23 de dezembro de 1926, da segunda versão completa, escrita a partir desta data a 13 de janeiro de 1927.
Um exemplar de trabalho, no qual Mário faz modificações no texto da primeira edição, publicado em 1928, também está entre as raridades, pertencentes ao acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP), da mostra. Imagens de Mário fotógrafo, focalizando seus parentes, a chácara e a fazenda São Francisco, também de Pio, também são destaques.

Tio Pio

Bibliófilo e grande conhecedor da língua portuguesa, Pio Lourenço foi para Mário de Andrade muito mais do que um parente querido. "Pio tem grande influência nas elaborações de Mário. Havia intensa troca de correspondências entre os dois. Nelas, eles discutiam aspectos da língua. Conservador, Pio não aceitava a proposta de abrasileiramento presente no trabalho de Mário", explica Granato.

A mostra traz ainda livros com dedicatórias de Mário de Andrade para tio Pio e sua mulher, Zulmira. Esses exemplares de Pio foram doados para a Biblioteca Municipal Mário de Andrade de Araraquara após a morte. "Em uma primeira edição de "Amar Verbo Intransitivo" [1927], Mário e Pio travam um verdadeiro diálogo que pode ser conferido nas margens do livro", conta Granato.

Espaço com caráter

O cenário criado por Jéferson Duarte para a exposição recria imagens da obra. "A subversão da geografia presente no livro é traduzida no ambiente", destaca Audálio Dantas. Exemplo disso é uma reprodução do rio Tietê desaguando no Amazonas. Redes -"Ai, que preguiça!"- e adornos indígenas também compõem a cenografia. A criançada poderá brincar com uma boiúna Capei (cobra grande) articulada.

Durante o evento serão realizados shows com Cida Moreira, Beatriz Azevedo, Marlui Miranda e artistas de cultura popular, como João Ba e Dércio Marques.

Haverá também palestras, mesas-redondas, mostra de cinema e encenações. Renato e Fernando Rocha, primos do escritor, participam da mesa "Quando Araraquara e Mário se Encontram", no dia 9/9, às 19h30. Entre os palestrantes, está Telê Ancona Lopez, consultora da mostra e coordenadora do Arquivo Mário de Andrade (IEB). Ela falará sobre a importância histórica e literária de "Macunaíma", no dia 5/10 às 19h30.

O cineasta Eduardo Escorel e o encenador Antunes Filho falam sobre as soluções adotadas para as adaptações de "Macunaíma" para teatro (1978) e cinema (1969), no dia 7/10, às 20h30.

A mostra, que começa no Sesc de Araraquara, segue depois para outras unidades, com datas ainda não definidas.

Leia mais
  • Temporada em Araraquara inspirou Mário de Andrade

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre "Macunaíma"
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página