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09/09/2004 - 07h16

Em "Redentor", Cristo é o olho que vê o caos social no Rio

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

De braços abertos como num (anti)cartão postal, o Cristo observa impassível a ruína do jornalista Célio Rocha (Pedro Cardoso), as falcatruas do empresário da construção civil Otávio Sabóia (Miguel Falabella) e as incontáveis vezes em que os caminhos de ambos cruzam e descruzam, da infância à maturidade. Em "Redentor", filme de Cláudio Torres que estréia amanhã, Jesus Cristo é apenas uma estátua.

Neste primeiro longa dirigido por Torres --filho do casal de atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres, presentes no elenco, e pais também de Fernanda Torres, que co-assina o roteiro com o irmão cineasta--, a evocação da imagem religiosa símbolo do Rio de Janeiro tem mais a ver com a cidade e menos com ritos de fé. Muito embora o personagem de Cardoso vivencie um surto místico a certa altura da trama.

"Meu campo de interesse foi o caos social brasileiro", diz Torres. "E esse caos social está mais perto de ser explosivo no Rio de Janeiro, onde rico, pobre e classe média moram condensados num mesmo bairro, do que em qualquer outra parte do país", afirma.

O diretor concluiu que esse era o seu "campo de interesse", quando se fez, "pela primeira vez, a pergunta que é eterna na vida de um cineasta: que filme quero fazer?". Era 1998 e Torres havia dirigido o episódio "Diabólica" do filme-cartão-de-visitas "Traição", que amarra também seqüências de Arthur Fontes e José Henrique Fonseca, todos amigos e sócios na produtora Conspiração Filmes.

Classe média

Além de definir-se pelo tema do caos social brasileiro, Torres decidiu que o abordaria a partir da sua "situação como cidadão", ou seja, do ponto de vista da classe média, cujos medos e anseios cita: "O medo da classe média é empobrecer, virar favelado. Ou que a favela desça e tome o seu lugar. O anseio da classe média é ficar rica. Achei que o protagonista deveria sofrer o tipo de pressão que eu sofro".

As pressões a que Célio Rocha está submetido são de ordem profissional, financeira e familiar --ou éticas, morais e afetivas.

Ele é ameaçado de demissão no jornal em que trabalha quando se recusa a entrevistar Sabóia, o ex-amigo de infância cujo pai acaba de se suicidar, legando ao filho um império falido de empreendimentos imobiliários. Entre as obras inacabadas da família Sabóia, está o condomínio em que o pai de Célio enterrou as economias e o sonho da casa própria.

Eternamente "duro" de grana, Célio mora com os pais, de favor na casa de uma tia, para a qual se muda a prima (Guta Stresser) grávida, com filhos pequenos e um histórico de brigas com o marido que caminha da violência verbal para a agressão física.

E eis que "Redentor" põe sob o mesmo teto Bebel e Agostinho (personagens de Stresser e Cardoso na série global "A Grande Família"), no que parece ser uma brincadeira e um desafio de Torres a olhá-los de outro ângulo.

"Ter escolhido o Pedro [Cardoso] para interpretar o protagonista faz com que você não tenha pena do Célio, que ele seja um personagem algo patético, porque a classe média brasileira tem um pouco de patético, mas que trafega entre a inocência e a culpa. Isso ocorre por algo que Pedro tem dentro dele, que tem a ver com Chaplin, com clown, com uma dramaturgia teatral", diz Torres.

Louro alto

A escolha de Falabella para viver o empresário inescrupuloso é um convite a desvendar "o que existe por trás do louro alto". Diz o diretor: "Miguel [Falabella] é a personificação do vilão. Mas sei, porque o vejo no teatro há 20 anos, o ator que ele é. Existe uma atração em você mostrar o Miguel como um vilão e ele ser humano, não ser a superfície do Caco Antibes [personagem do ator no extinto programa "Sai de Baixo", da Globo]".

Cinéfilo amante da "montanha russa do cinema", que gosta de "ser levado para Marte e cuspido de lá quando termina o filme", Torres dirigiu "Redentor" procurando expor seu tema de "uma maneira que não fosse panfletária" e com uma forma "dinâmica, com ritmo, momentos oníricos e de explosão cinematográfica".

Fez, enfim, "uma aposta numa diversão cinematográfica com algum nível de reflexão social". Um filme que "pega ou não pega" o espectador. A partir de amanhã, é pegar ou largar.

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