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11/09/2004 - 08h07

Em novo romance, Sheldon faz "manual estilístico" do best-seller

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ADRIANO SCHWARTZ
Especial para a Folha de S.Paulo

Escritores de livros mais "populares" costumam reclamar --muitas vezes com razão-- que os críticos literários falam mal de seus livros sem abrir ao menos uma página. Não é o caso de Sidney Sheldon, uma espécie de rei dos best-sellers, que, com milhões de exemplares vendidos, provavelmente não reclama de nada.

"Quem Tem Medo de Escuro?", o mais recente livro do autor norte-americano, tem lançamento mundial na próxima terça-feira e deve seguir os passos de seus antecessores, logo chegando ao topo das listas dos mais vendidos.

O enredo? Uma série de assassinatos em países diversos acontece e todos têm em comum o fato de as vítimas estarem ligadas a uma grande empresa de tecnologia. Duas das viúvas dos cientistas mortos acabam se unindo e tentam desvendar o mistério.

Em suas 376 páginas, a obra é uma espécie de manual estilístico do best-seller contemporâneo. As suas principais características parecem estar todas, sem exceção, ali: a alternância rápida de cenas, o uso constante do flashback biográfico, a paragrafação abundante, o recurso a paradoxos primários com intenção de "profundidade", o posfácio com propósitos didáticos e elevados.

Encontram-se no livro passagens como:
"Queria se enrolar até virar uma bolinha minúscula.
Queria sumir.
Queria morrer".
Ou, para mencionar trecho mais "picante": "Richard foi gentil, terno, apaixonado e frenético, e tudo foi mágico, e a língua dele encontrou a dela e se moveu devagar, e pareciam ondas quentes batendo suaves numa praia de veludo, e então ele estava dentro dela, preenchendo-a".

Como se percebe, a crítica de um texto assim não é tarefa fácil. É claro que não se deve colocar no mesmo saco todos os escritores do gênero. Um Michael Crichton, outro norte-americano que já vendeu alguns milhões de livros ao redor do planeta, consegue manter mesmo um leitor um pouco mais exigente em um estado de, digamos, "atenção divertida", ainda que também abuse de muitas das "técnicas" mencionadas anteriormente.

No caso desta obra, no entanto, tudo é bem horrível mesmo. O próprio autor parece disposto a qualquer sacrifício para anular o mínimo traço de idéia mais elaborada que consiga ter. Por exemplo, uma das reviravoltas de "Quem Tem Medo de Escuro?", já na parte final do romance, é realmente surpreendente. Cansado de palmilhar tristemente uma estrada tão pedregosa, o crítico, por instantes, até se anima. Mas logo é informado de que as coisas não eram bem assim e que a "reviravolta realmente surpreendente" de fato não acontecera.

Aí, nada resta a não ser seguir, esperançoso, em busca de outro best-seller que justifique a reclamação dos autores do gênero de que eles merecem ser lidos pela crítica.

Em defesa de Sidney Sheldon, diga-se que eventualmente ele demonstra uma autoconsciência notável: "Amigos de Diane e Richard começaram a telefonar e a vir ao apartamento, e Diane se pegou ouvindo a interminável ladainha de clichês da morte". Metalinguagem? Ih, mas esse é um quase lugar-comum de outro tipo de literatura...

Adriano Schwartz é doutor em teoria literária e autor de "O Abismo Invertido - A Inquietude do Romance em "O Ano da Morte de Ricardo Reis'" (Globo)

Quem Tem Medo do Escuro?
Autor: Sidney Sheldon
Editora: Record
Quanto: R$ 39,90 (378 págs.)

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