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14/09/2004 - 08h03

Maurício Farias estréia na direção de longas com "O Coronel e o Lobisomem"

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Com um movimento de cabeça, a atriz Ana Paula Arósio contorna o rosto do cineasta Maurício Farias: "E se eu falar assim no ouvidinho dele", demonstra, lábios próximos da orelha direita de Farias. A sugestão é aprovada.

Atriz e diretor ensaiam a cena em que Esmeraldina (personagem de Arósio) insinua ao coronel Ponciano (Diogo Villela) que em poucas horas ele terá a noite de amor que há anos aguarda desfrutar com a prima.

Nesta altura da trama de "O Coronel e o Lobisomem" --longa que Farias dirige, com roteiro adaptado do livro de José Cândido de Carvalho (1914-1989) por Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão-- Esmeraldina está casada com Nogueira (Selton Mello), ex-empregado do coronel, que se reaproxima do "amigo", para não perder (de novo) o contato com a mulher de seus sonhos.

Nesta altura das filmagens do longa, na sexta passada, no Rio de Janeiro, o "Ponciano" Diogo Villela escapa do set, para pedir uma maçã, e Farias assume o papel do ator no ensaio com Arósio.

São 14h45, e o almoço está longe de ser servido. Villela pede a fruta descascada e em pedaços miúdos. Morder uma maçã seria desastroso para a barba do coronel, postiça que é. Horas mais tarde, livre do acessório, Villela comenta: "De fora, as necessidades do ator são vistas de forma glamourizada. Pelo ator, é um total desamparo. Nunca somos compreendidos nas nossas verdadeiras necessidades: elas sempre soam ou muito fúteis ou meio desnecessárias".

Mas o ator brasileiro não pode deixar crescer a própria barba em nome de um personagem? "O ator pode, e Diogo chegou para filmar de barba, a produção [R$ 6 milhões] é que não agüenta", responde o roteirista e co-produtor (com Paula Lavigne) Guel Arraes.

O orçamento não é suficiente para as idas e vindas aos cenários do filme --além do Rio de Janeiro, há filmagens em Tiradentes (MG) e Fernando de Noronha-- que seriam necessárias, caso Villela usasse barba natural. Ao longo da história, o aspecto de Ponciano muda, conforme passa o tempo e o ânimo do personagem.

O figurino de Arósio, de vestidos vaporosos, também inclui truques, que a deixam com quadris mais largos e seios mais volumosos, característicos de Esmeraldina. "A [figurinista] Emília Duncan inventou um corpo para mim", diz a atriz.

Se "O Coronel e o Lobisomem" não é uma superprodução à Hollywood (embora tenha orçamento nada desprezível pelos padrões nacionais), ele se encaixa numa fórmula brasileira: a do "filme bem-feito e popular", como define Arraes.

São de Arraes os dois títulos que compõem a "série" da qual "O Coronel e o Lobisomem" pretende fazer parte - "O Auto da Compadecida" (2000), que fez 2,1 milhões de espectadores, e "Lisbela e o Prisioneiro" (2003), visto por 3,1 milhões.

O diretor abriu mão de dirigir este filme, para evitar identificar-se como cineasta de uma fórmula só e para testar no cinema o padrão de "trabalho em grupo" que desenvolve em seu núcleo na TV Globo, do qual Farias faz parte, dirigindo "A Grande Família".

Nascido numa família de gente de cinema (é filho do cineasta Roberto Farias e sobrinho do ator Reginaldo Faria), Maurício diz que a estréia na direção de longas, aos 43 anos, o faz sentir-se "retornando às origens", abandonadas nos anos 80, quando a TV brasileira era um mercado mais promissor que o cinema.

Nos estúdios Renato Aragão (nome-símbolo do cinema popular brasileiro que atravessou a crise dos 80), Farias diz "ação" e observa Arósio falar no ouvidinho de Villela as palavras que deixam Ponciano em estado de graça.

No monitor em que toda a equipe acompanha a cena, vê-se o close no rosto perfeito da atriz. A assistente do diretor não resiste à piada: "Feia!".

Sinal de que a take valeu, Farias diz "corta". São 17h30, e Villela já pode tirar a barba, para o intervalo do almoço.

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