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22/10/2004
-
09h53
CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo
Quando Oswald de Andrade morreu, em um 22 de outubro como este, os jornais lhe alocaram em um escanteio de suas páginas. Desprestigiado há tempos, perdeu de confortável goleada no noticiário para a cobertura da semifinal do concurso de beleza Miss Elegante Bangu.
No bocadinho que lhe coube de papel jornal, dois dias depois, ali estava Di Cavalcanti bradando na beira do túmulo do escritor, no cemitério da Consolação, que o "natural anarquismo" de Oswald ainda daria uma grande banana para os que o deixaram de lado.
Hoje tem bananada? Tem sim senhor. No dia em que se completam 50 anos da morte do modernista (1890-1954), sua trajetória vai ser lembrada com eventos em seis espaços de São Paulo.
Os "banquetes antropofágicos", que começaram ontem, com a exibição do filme "O Rei da Vela" no Cinesesc (o sétimo centro cultural), se estendem até o dia 6 de novembro. Nessa sua apoteose, na Pinacoteca do Estado (oitavo espaço), serão lançados dois livros: a reedição do romance "Memórias Sentimentais de João Miramar" e, rufem os tambores, um volume de textos inéditos.
O lançamento de "Feira das Sextas", coletânea de crônicas garimpadas pela pesquisadora Gênese Andrade, deverá ter a participação de um dos pilares históricos do "oswaldandradismo".
O crítico Antonio Candido, que coordenou o primeiro projeto de edição sistemática das obras de Oswald, dividirá a mesa com o professor Jorge Schwartz (que coordena a atual reedição de todos os livros do modernista) e a biógrafa Maria Augusta Fonseca.
Outro "oswaldiano" emérito, porém, é a estrela do dia de "desaniversário". O diretor, ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa abre a festa com a "aula-espetáculo" "Ritual Antropofágico", na Casa do Saber. A sua "Devoração de Oswald de Andrade" segue no teatro Oficina, das 21h ao tombar do último antropófago.
Diretor da montagem teatral mais importante de uma obra do modernista, a clássica encenação de "O Rei da Vela", de 1967, Zé Celso deverá anunciar durante o evento "uma de suas maiores conquistas até hoje".
"Há 25 anos nós do Oficina lutamos pela construção de um Teatro de Estádio, como queria Oswald. Agora finalmente ele vai sair do papel", afirma.
Sairá do papel também nesta tarde, pela primeira vez, uma homenagem "caseira" ao escritor de "Pau Brasil". Uma de suas filhas, a coreógrafa e professora Marilia de Andrade, apresentará na Oficina Cultural Oswald de Andrade a estréia de "O Corsário e o Porto".
A coreografia, um dueto, é inspirada em um poema feito para sua mãe, Maria Antonieta D'Alkmin, por Oswald. "O Corsário" ilustra minha lembrança mais forte dos dois, a de uma relação de enorme e mútua dependência", diz a coreógrafa.
Marília de Andrade tinha "quase nove anos" quando Oswald morreu. Ela conta que no dia 22 de outubro de 1954 estava saindo para a escola quando o pai a chamou para dar um "beijo". "Eu tentei escapar. Tinha medo dele. Oswald estava muito deprimido, totalmente marginalizado."
Professora da Unicamp, onde está depositado o arquivo do modernista, ela afirma que nunca viu tanto interesse pela obra do pai como agora.
"Acho que a obra de Oswald está madura para ser lida pela sociedade. Ou melhor, a sociedade está madura para ler Oswald. Ele sempre esteve muito na frente."
Um dos maiores especialistas na obra do escritor, o professor da USP e da Johns Hopkins University (EUA) Jorge Schwartz concorda: "O interesse por Oswald está crescendo em progressão geométrica".
Chegou o dia de realizar a famosa projeção do escritor, de que a massa um dia comeria seus biscoitos finos? "Sim e não", responde Schwartz. "A massa já absorve de alguma forma Oswald, que foi até personagem de uma minissérie da Globo, mas ele nunca vai ser um Paulo Coelho", brinca.
Uma coisa não se discute, entretanto. Com todo o respeito, após 50 anos Oswald está bem mais em forma do que qualquer candidata do Miss Elegante Bangu.
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da Folha de S.Paulo
Quando Oswald de Andrade morreu, em um 22 de outubro como este, os jornais lhe alocaram em um escanteio de suas páginas. Desprestigiado há tempos, perdeu de confortável goleada no noticiário para a cobertura da semifinal do concurso de beleza Miss Elegante Bangu.
No bocadinho que lhe coube de papel jornal, dois dias depois, ali estava Di Cavalcanti bradando na beira do túmulo do escritor, no cemitério da Consolação, que o "natural anarquismo" de Oswald ainda daria uma grande banana para os que o deixaram de lado.
Hoje tem bananada? Tem sim senhor. No dia em que se completam 50 anos da morte do modernista (1890-1954), sua trajetória vai ser lembrada com eventos em seis espaços de São Paulo.
Os "banquetes antropofágicos", que começaram ontem, com a exibição do filme "O Rei da Vela" no Cinesesc (o sétimo centro cultural), se estendem até o dia 6 de novembro. Nessa sua apoteose, na Pinacoteca do Estado (oitavo espaço), serão lançados dois livros: a reedição do romance "Memórias Sentimentais de João Miramar" e, rufem os tambores, um volume de textos inéditos.
O lançamento de "Feira das Sextas", coletânea de crônicas garimpadas pela pesquisadora Gênese Andrade, deverá ter a participação de um dos pilares históricos do "oswaldandradismo".
O crítico Antonio Candido, que coordenou o primeiro projeto de edição sistemática das obras de Oswald, dividirá a mesa com o professor Jorge Schwartz (que coordena a atual reedição de todos os livros do modernista) e a biógrafa Maria Augusta Fonseca.
Outro "oswaldiano" emérito, porém, é a estrela do dia de "desaniversário". O diretor, ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa abre a festa com a "aula-espetáculo" "Ritual Antropofágico", na Casa do Saber. A sua "Devoração de Oswald de Andrade" segue no teatro Oficina, das 21h ao tombar do último antropófago.
Diretor da montagem teatral mais importante de uma obra do modernista, a clássica encenação de "O Rei da Vela", de 1967, Zé Celso deverá anunciar durante o evento "uma de suas maiores conquistas até hoje".
"Há 25 anos nós do Oficina lutamos pela construção de um Teatro de Estádio, como queria Oswald. Agora finalmente ele vai sair do papel", afirma.
Sairá do papel também nesta tarde, pela primeira vez, uma homenagem "caseira" ao escritor de "Pau Brasil". Uma de suas filhas, a coreógrafa e professora Marilia de Andrade, apresentará na Oficina Cultural Oswald de Andrade a estréia de "O Corsário e o Porto".
A coreografia, um dueto, é inspirada em um poema feito para sua mãe, Maria Antonieta D'Alkmin, por Oswald. "O Corsário" ilustra minha lembrança mais forte dos dois, a de uma relação de enorme e mútua dependência", diz a coreógrafa.
Marília de Andrade tinha "quase nove anos" quando Oswald morreu. Ela conta que no dia 22 de outubro de 1954 estava saindo para a escola quando o pai a chamou para dar um "beijo". "Eu tentei escapar. Tinha medo dele. Oswald estava muito deprimido, totalmente marginalizado."
Professora da Unicamp, onde está depositado o arquivo do modernista, ela afirma que nunca viu tanto interesse pela obra do pai como agora.
"Acho que a obra de Oswald está madura para ser lida pela sociedade. Ou melhor, a sociedade está madura para ler Oswald. Ele sempre esteve muito na frente."
Um dos maiores especialistas na obra do escritor, o professor da USP e da Johns Hopkins University (EUA) Jorge Schwartz concorda: "O interesse por Oswald está crescendo em progressão geométrica".
Chegou o dia de realizar a famosa projeção do escritor, de que a massa um dia comeria seus biscoitos finos? "Sim e não", responde Schwartz. "A massa já absorve de alguma forma Oswald, que foi até personagem de uma minissérie da Globo, mas ele nunca vai ser um Paulo Coelho", brinca.
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