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05/11/2004 - 10h06

Branford Marsalis traz "velhice" a festival teen

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

O Tim Festival começa hoje sua segunda edição com mais sabor de playground do que de casa de repouso. Mas em meio a molecadas, como as das bandas Libertines, Kinky ou Cansei de Ser Sexy, o programa do festival inclui tigrões do pop, como Brian Wilson e Kraftwerk, e velhas guardas do jazz, casos de Art van Damme, 84, e de Nancy Wilson, 67, que disse à Folha que hoje poderia ser o último show de sua vida.

De todas as atrações do evento do Jockey Club, porém, ninguém é mais velho do que um jovem de 44 anos. Branford Marsalis, primogênito da família real do jazz (o pianista Ellis é pai, além dele, dos jazzistas Wynton, Delfeayo e Jason), surgiu nos anos 80 na geração batizada de "young lions".

O saxofonista, que se apresenta amanhã no Tim, se define hoje como um "old lion". Em entrevista à Folha, diz que está buscando no seu jazz a beleza triste da canção erudita alemã, critica a música pop (e ele já tocou com Sting) e se mostra melancólico com a constatação de que "metade da vida ficou para trás". Leia a seguir trechos da conversa com o "leão velho", na cova dos leõezinhos.

Folha - O sr. já disse que costumava ouvir todos os dias "A Love Supreme", de John Coltrane, antes de trabalhar. O sr. ainda faz isso?
Branford Marsalis -
Gostava de ouvir "Love Supreme" antes de dormir. Não consigo mais. Estou muito velho. Não consigo ouvir mais esse tipo de música na hora do sono. Fico muito aceso.

Folha - E quais são suas "canções de ninar" hoje em dia?
Marsalis -
Tenho escutado "lieder" (canções de câmara alemãs) de Wagner, Mahler e Strauss.

Folha - Como isso se reflete no seu modo de tocar hoje em dia?
Marsalis -
Acho que isso aparece no desafio que venho colocando para mim de tocar de um modo bonito, mas triste. As canções alemãs desses compositores eruditos são assim. Têm melodias muito bonitas, que precisam de uma dose de tristeza para ser entendidas.

Folha - O sr. chegou a se aproximar do pop, tocando com Sting ou no programa de Jay Leno. Hoje o sr. parece mais ortodoxamente jazzista. O sr. mudou ou foi o pop?
Marsalis -
Sempre fui um jazzista ortodoxo. Mesmo quando toquei com Sting estava tocando jazz. Quando tinha minha banda funk Buckshot LeFonque eu tocava jazz. O pop não é para pessoas mais velhas. É muito interessante ver pessoas da minha idade ou mais velhas que continuam fiéis ao pop, e só a ele, homens de 50 ou mais tentando se agarrar a seus Stones, Bob Dylans ou Eagles. Os chamados filhos do "baby boom" têm medo de ficarem adultos. Não faço parte disso. Tenho 44 anos, dois filhos, um a caminho.

Folha - Mas o sr. teve relações fortes com gêneros como o hip hop, antes de ele estourar nos EUA.
Marsalis -
Eu era um jovem, isso é coisa do passado. Não ouço quase nada de pop. Gosto de uma ou outra coisa, do DJ Premiere, de Andre 3000 [da dupla Outkast]. Mas são coisas que meu filho escuta. Alguém com minha responsabilidade, que já se deu conta de que metade de minha vida ficou pra trás, não tem como se sintonizar com o lirismo do pop. Não me sinto "forever young".

Folha - O sr. não é mais um "young lion" então?
Marsalis -
Não, sou "old lion".

Folha - O sr. e seu irmão Wynton tiveram longas carreiras na gigantesca Columbia. No ano passado, os dois romperam com essa gravadora. O sr. montou um pequeno selo. Este é o futuro do jazz?
Marsalis -
Não sei. Quando entrei na Columbia, ela era parte do conglomerado CBS. O selo de música era uma parte pequena no negócio, não havia muita pressão. Hoje é parte da Sony, existe uma cobrança muito grande para fazer dinheiro. Assim, todo tipo de música criativa fica sufocado.

Especial
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