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14/11/2004 - 09h33

Freak Brothers renascem entre as cinzas

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DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Eles ajudaram a estampar a cara (peluda) da contracultura dos anos 60/70. E, apesar do abuso do coquetel sexo, drogas & rock'n'roll, Fat Freddy, Phineas e Freewheelin" Franklin continuam vivinhos da silva e retornam às livrarias brasileiras em grande estilo na HQ "Fabulous Furry Freak Brothers".

Criado por Gilbert Shelton, em 67, o trio de maconheiros picaretas que, com "Fritz, the Cat", de Robert Crumb, deu o pontapé inicial no quadrinho underground dos EUA ganhou nova tradução em uma antologia em dois volumes lançada pela editora Conrad. O segundo volume fica para 2005.

Apesar de aposentados --fala sério: nenhum deles nunca trabalhou-- desde meados da década de 80, quando Shelton se mudou para Paris com sua mulher, a agente literária Lora Fountain, são os Freak Brothers e suas inúmeras reedições em língua estrangeira que ainda sustentam o autor, atualmente envolvido na produção de um longa-metragem animado estrelado por eles.

"Eu não sou um grande fã de filmes. Prefiro ficar assistindo a corridas na TV", debochou por e-mail à Folha o quadrinista, 64, que, apesar da fama de "doidão", jura que não é nem um pouco parecido com os seus Freak Brothers. "Se eu tivesse vivido como os Freak Brothers, na certa estaria morto agora. Ainda que os três tenham um pouco de mim, me identifico mais com o gato do Fat Freddy. Tenho três. E os torturo todo dia até que eles me contem histórias engraçadas sobre gatos."

A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Você parou com os Freak Brothers há quase 20 anos. O que tem ocupado seu tempo hoje?
Gilbert Shelton -
Hoje? Bem, eu almocei num restaurante mexicano chamado Taco Loco, então fui ao banco, visitei meu editor na França, Ferid Kaddour, voltei para o meu escritório, respondi uma penca de e-mails... Recentemente, terminei o terceiro livro de "Not Quite Dead" [HQ sobre uma banda de rock, com o quadrinista francês Pic] e venho trabalhando em um filme animado dos "Freak Brothers". É baseado na história "Grass Roots" e está sendo produzido por uma companhia inglesa chamada Bolex Brothers.

Folha - As livrarias daqui estão recebendo uma nova fornada de velhos "Freak Brothers". Como acha que eles serão recebidos hoje?
Shelton -
A primeira vez que ouvi essa pergunta, sobre "momentos históricos diferentes", foi em 1970, três anos depois que comecei a fazer os Freak Brothers. Alguém me perguntou: "Você continua fazendo aquela velha porcaria? Não acha que já é hora de avançar?". Mas as pessoas continuam comprando os livros, então não tenho razão para mudar. Claro, muitos detalhes ficaram fora de moda, mas há algo ali com que as novas gerações se identificam. Há coisas estúpidas e ingênuas, mas não vou mudar nada --como o Hergé fez com Tintin. Só iria chamar uma atenção embaraçosa para esses detalhes.

Folha - Ainda que o pano de fundo fosse a rotina de três "junkies" americanos dos anos 60/ 70, há um componente político nessas HQs. Na sua opinião, qual foi o efeito desse "molotov" na época?
Shelton -
"Junkies" não é a palavra certa --ela se refere a usuários de heroína. Os Freak Brothers fumavam maconha e ocasionalmente usavam outras drogas. Eram usuários de drogas leves. Mas mesmo isso era e continua sendo um assunto proibido, e, como política se trata de fazer o que é proibido, dá até para dizer que há um componente político ali. Não sei se os Brothers criaram mais simpatia ou repulsa pela maconha. Milhões de livros foram vendidos até hoje, mas a maconha nunca foi descriminalizada nos EUA.

Folha - Sua geração abriu caminho para novos quadrinistas alternativos. Você sente sua influência nesses novos autores?
Shelton -
Acho que a maior influência dos quadrinhos underground foi a idéia de que não só assuntos tabus poderiam ser discutidos mas também poderiam servir de base para publicações de sucesso. Não tenho muito contato com a cena dos quadrinhos hoje. Gosto de caras como Peter Bagge e Dan Clowes, mas eles já devem estar com quase 50 anos agora. Leio quadrinhos franceses para não perder a prática, mas há alguns jovens artistas daqui que dizem ter sido influenciados pelo meu trabalho. Fico honrado de ouvir isso, mas não sei se acredito.

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