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12/12/2004 - 08h26

Bob Dylan luta contra a lenda que criou há 40 anos

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ALFONS LUNA
da France Presse, em Nova York

O músico americano Bob Dylan é vítima de um paradoxo: luta há 40 anos para destruir o mito que o cerca, mas só faz alimentá-lo, algo que ficou patente em suas escassas e recentes aparições na mídia e em sua autobiografia.

"Era como estar em um conto de Edgar Allan Poe, no qual um personagem não é aquele que todo mundo pensa, apesar de todos falarem desta pessoa da mesma maneira", explicou Dylan em uma entrevista no domingo (5) à rede americana CBS.

"Nunca quis ser profeta nem salvador", disse na ocasião, a primeira vez que falava na televisão em 19 anos. "No máximo Elvis. Posso me imaginar me transformando nele. Mas profeta? Não."

Um dos temas recorrente tanto na sua entrevista na CBS quanto em sua autobiografia "Crônicas: Volume Um", lançada há dois meses, é o abismo que existe entre sua imagem pública e a que ele faz de si mesmo e o mal estar que isto lhe criou.

Bob Dylan parece especialmente irritado com as tentativas de torná-lo porta-voz de uma geração, atribuindo a suas letras um caráter sagrado. Aos 63 anos, este cantor nascido em Minnesota (norte) lembra no livro um episódio que serve de exemplo: o do recebimento de um título honoris causa na Universidade de Princeton, na qual foi apresentado como "a consciência angustiada da juventude americana".

"Ai, Meu Deus!... Fiquei tão enojado que queria me rasgar todo", lembrava. O autor de "Like a Rolling Stone", "It's Alright Ma'" e "Blowin' in the Wind" admite que detestava seu público dos anos 60 e que teria preferido trabalhar em horários normais e pescar nos finais de semana.

O mal-estar se transforma em fúria quando se refere às hordas de fãs que peregrinavam a sua casa em Woodstock.

"Devem ter posto mapas na estrada para nossa casa nos 50 Estados do país para bandos de fugitivos da escola e viciados em droga", dizia então, confessando seu desejo de "colocar fogo nesta gente".

"O mundo era absurdo... eu tinha poucas coisas em comum com uma geração que não conhecia e da qual diziam que eu era um dos porta-vozes", escreve.

"Não estava com a cultura antipopular nem nada e não tinha ambições de mudar as coisas. Só pensava que a cultura dominante era um fracasso e um grande engano".

Dylan começou a cultivar a reclusão e em suas raras conversas com a imprensa --como a mantida com a CBS e as registradas para o famoso documentário "Don't Look Back", sobre sua viagem pela Inglaterra de 1965-- há muitas respostas monossilábicas e até provocações.

Seus discos ajudavam a engrossar a legião de fãs e a aumentar o interesse por sua vida pessoal. Dylan não respondeu a esta demanda, que em troca foi preenchida por dezenas de autores.

Se fizermos uma busca em três grandes sites de livros: Amazon, Barnes e Noble, o resultado não será de menos de 250 livros.

"Crônicas: Volume Um" preenche um vazio, mas deixa muitas perguntas sem resposta, como a polêmica mudança do som acústico para o elétrico ou a conversão ao cristianismo, perpetuando assim um círculo vicioso da lenda de Bob Dylan.

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