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02/02/2005 - 09h23

Projeto recupera em atividades variadas o samba de Geraldo Filme

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JANAINA FIDALGO
da Folha de S. Paulo

Das entranhas da cultura negra, Geraldo Filme resgatou a memória da música das senzalas e das lavouras e a levou ao samba paulistano. Preservadas em forma de canções que mantêm a tradição do Carnaval de São Paulo, essas raízes são o legado do compositor, que tem sua obra revisitada no Sesc Ipiranga, em São Paulo.

À maneira e semelhança da trajetória artística do músico --ele trabalhou no teatro ao lado de Plínio Marcos--, o projeto Geraldo Filme - Carnaval e Tradição vai do samba à dramaturgia em uma série de oito atividades que resgatam o trabalho do compositor.

"O Rio teve uma efervescência, é o berço do samba, mas o Geraldo tem uma importância à parte. Ele não faz um samba pitoresco. O Adoniran [Barbosa] é alegórico, o [Paulo] Vanzolini é mais letrista, está preocupado com o labor técnico. No caso do Geraldo, a música serve de espaço para a fala recusada", define o coordenador do projeto, Heron Coelho, 27.

Trazida da infância, a voz de Filme voltou a sussurrar no ouvido de Coelho por influência de Clementina de Jesus. Organizador da biografia da cantora carioca, o produtor destaca o papel desempenhado pelos dois na recuperação da cultura negra.

"Geraldo Filme é uma personalidade que me persegue. Ele gravou com a Clementina "O Canto dos Escravos", que sempre considerei um grande encontro. Ambos resgatam uma negritude dentro da música brasileira", afirma.

Das rodas de samba do extinto largo da Banana, na Barra Funda, Filme captou o regionalismo paulistano, expresso em sambas rurais ("A Morte de Chico Preto"). Acompanhou o crescimento de São Paulo e cantou sua destruição em "São Paulo Menino Grande".

"A passagem da São Paulo rural para a urbana se dá de maneira intercalada. Ao mesmo tempo que ele preserva o samba de raiz, primitivo dos escravos, faz uma passagem para o samba tradicional, com uma temática voltada para a questão do progresso devastando São Paulo", explica.

Valorização da memória

Ao emergir o trabalho de nomes fundamentais da música brasileira, Coelho encontrou um caminho para escapar da "perfumaria" do mercado. Une a experiência dos veteranos ao vigor dos estreantes. Assim foi em "Rainha Quelé" --tributo a Clementina de Jesus, com Dona Inah e Fabiana Cozza-- e em "Por Lamartine... Babo", com Maria Alcina e Cozza.

Desta vez, em "Da Senzala à Favela", Coelho põe no mesmo palco a cantora-atriz Marília Medalha, Celso Sim e a Cia. de Domínio Público.

"É quase uma coisa acintosa trazer à tona gente que está fora do mercado. Como eles saíram, se alijaram do mercadão onde fulana canta bolero e o outro canta Zezé di Camargo, eles mantiveram a prática do trabalho. A arte é um ofício diário. Eu gosto do trabalho elaborado. Não gosto de tirar tom pelo telefone", resume.

Carro-chefe do projeto, o musical relembra a vida e a obra de Filme, fazendo correlações entre sua obra e as dramaturgias de Gianfrancesco Guarnieri ("Arena Conta Zumbi") e Plínio Marcos ("Nas Quebradas do Mundaréu"). No espetáculo, Medalha cantará composições do sambista e encenará Nanã Borocô, a orixá do barro. Um vídeo com Myriam Muniz, morta em dezembro de 2004, abre a apresentação --a atriz participaria lendo textos de Geraldo Filme e Solano Trindade.

A programação inclui uma exposição e rodas de samba.

GERALDO SAMBA
Onde: Sesc Ipiranga (rua Bom Pastor, 822, Ipiranha, São Paulo. Tel.: 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: R$ 3 a R$ 12 (espetáculo "Da Senzala à Favela"); entrada franca demais atrações.

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