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08/02/2005
-
10h50
VALMIR SANTOS
JANAINA FILDAGO
da Folha de S.Paulo
Mais do que o endereço e a atividade desenvolvida, oito teatros instalados no centro de São Paulo compartilham o mérito do renascimento e a "retomada das calçadas" de uma região que tem um histórico de degradação.
A presença de companhias teatrais e de um espaço cenográfico no polígono formado pela praça Roosevelt e pelas ruas Rego Freitas e Dr. Teodoro Baima aos poucos desfaz a imagem negativa deste eixo --que nos anos 60 viveu seus dias de glória-- e repatria quem um dia se exilou por medo.
Motivo de fuga de moradores, comerciantes e freqüentadores, a situação de deterioração foi o que impeliu os fundadores do grupo Os Satyros, Ivam Cabral, 39, e Rodolfo García Vázquez, 42, a ocuparem o número 214 da Roosevelt, onde estão desde 2000.
"A praça era um dos focos por causa da degradação. Tínhamos o desafio de revitalizá-la. Até por causa da característica do nosso trabalho", conta Cabral. "Quando chegamos, era um espaço inabitável, cheio de traficantes, prostitutas e travestis. A gente foi inserindo esse povo. Não nos interessava tirá-los daqui, pelo contrário, queríamos que participassem."
Foi o que aconteceu. Uma das produções atuais do Satyros é "Transex", cujo elenco inclui dois transexuais. Além disso, a independência nas linguagens e temas e a perseverança na busca permanente de apoio para aluguel e manutenção são algumas das características da atual geração de artistas que ocupam a região.
Um bom reflexo dessa relação é quando a realidade fomenta a dramaturgia. A peça "A Vida na Praça Roosevelt", da alemã Dea Loher, encenada pelo grupo Thalia Theater, de Hamburgo (que ganhará versão dos Satyros neste ano), fala de seres deslocados: filhos de drogados, cantores decadentes. O monólogo "O Céu É Cheio de Uivos, Latidos e Fúria dos Cães da Praça Roosevelt", de Jarbas Capusso Filho, apresenta uma prostituta que repassa sua história enquanto aguarda um cliente que sempre a humilha.
Vizinhos do Satyros, cuja sede está aberta a outros grupos, o que atualmente preenche as noites de segunda a domingo, com seis peças em cartaz, estão o Studio 184 (1997), o Teatro X (2002) e o Recriarte Bijou (2003).
"É a revitalização das pessoas que freqüentam a praça, não de uma passagem de tinta", diz a atriz e produtora Fernanda D'Umbra, 33, do Cemitério de Automóveis, grupo que chega a lotar os 70 lugares do Espaço dos Satyros com "O Que Restou do Sagrado", nos dias mais "alternativos" --segundas e terças-feiras.
Entorno
Em direção à Consolação, estão as ruas Rego Freitas e Dr. Teodoro Baima, também endereços teatrais: o Arena (desde 1955), o Espaço Cenográfico de São Paulo (1998), o N.Ex.T (1999) e as recém-criadas sede da Cia. do Feijão e galeria Oll Dog.
"Quando criamos o Núcleo Experimental de Teatro, tínhamos que vender o Fusca para montar uma peça", ilustra o dramaturgo Antonio Rocco, 43, idealizador do N.Ex.T., onde decolou o show de esquetes "Terça Insana", dirigido por Grace Gianoukas. Em 2004, o espaço exibiu 11 peças e atraiu cerca de 15 mil espectadores.
Convivência harmoniosa
A revitalização humana da praça é festejada pelos moradores, comerciantes e visitantes ouvidos pela Folha. A melhoria na segurança e o incremento do comércio são os benefícios diretos apontados como resultado do aumento na circulação de pessoas.
"Antes, dificilmente eu passava por aqui. Hoje está tranqüilo. Com os teatros, as pessoas começaram a vir mais", diz a educadora Claudete dos Santos, 52, que mora na região e freqüenta o La Barca, misto de bar e café que reúne atores e espectadores.
Mais motivos para comemorar têm os comerciantes da região, entre eles Esdras Vassalo, 71, o Doca, dono de um antiquário que, há dois meses, passou por adaptações e virou um simpático bar. "Antes a praça era mal freqüentada. Melhorou muito", diz.
Renato Orbetelli, 57, dono da barbearia e charutaria Diplomat há 36 anos, afirma que a mudança começou com os teatros. "Isso aqui não tinha mais movimento."
A simbiose da praça Roosevelt é resumida por Vázquez: "Aqui, temos o exemplo de como o universo excludente pode permitir uma tensão harmoniosa entre loucos, travestis, prostitutas, velhinhas da classe média, artistas e público. Os grupos sociais estão todos representados em nosso cotidiano".
Especial
Leia o que já foi publicado sobre praça Roosevelt
Praça Roosevelt renasce com teatros alternativos
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JANAINA FILDAGO
da Folha de S.Paulo
Mais do que o endereço e a atividade desenvolvida, oito teatros instalados no centro de São Paulo compartilham o mérito do renascimento e a "retomada das calçadas" de uma região que tem um histórico de degradação.
A presença de companhias teatrais e de um espaço cenográfico no polígono formado pela praça Roosevelt e pelas ruas Rego Freitas e Dr. Teodoro Baima aos poucos desfaz a imagem negativa deste eixo --que nos anos 60 viveu seus dias de glória-- e repatria quem um dia se exilou por medo.
Motivo de fuga de moradores, comerciantes e freqüentadores, a situação de deterioração foi o que impeliu os fundadores do grupo Os Satyros, Ivam Cabral, 39, e Rodolfo García Vázquez, 42, a ocuparem o número 214 da Roosevelt, onde estão desde 2000.
"A praça era um dos focos por causa da degradação. Tínhamos o desafio de revitalizá-la. Até por causa da característica do nosso trabalho", conta Cabral. "Quando chegamos, era um espaço inabitável, cheio de traficantes, prostitutas e travestis. A gente foi inserindo esse povo. Não nos interessava tirá-los daqui, pelo contrário, queríamos que participassem."
Foi o que aconteceu. Uma das produções atuais do Satyros é "Transex", cujo elenco inclui dois transexuais. Além disso, a independência nas linguagens e temas e a perseverança na busca permanente de apoio para aluguel e manutenção são algumas das características da atual geração de artistas que ocupam a região.
Um bom reflexo dessa relação é quando a realidade fomenta a dramaturgia. A peça "A Vida na Praça Roosevelt", da alemã Dea Loher, encenada pelo grupo Thalia Theater, de Hamburgo (que ganhará versão dos Satyros neste ano), fala de seres deslocados: filhos de drogados, cantores decadentes. O monólogo "O Céu É Cheio de Uivos, Latidos e Fúria dos Cães da Praça Roosevelt", de Jarbas Capusso Filho, apresenta uma prostituta que repassa sua história enquanto aguarda um cliente que sempre a humilha.
Vizinhos do Satyros, cuja sede está aberta a outros grupos, o que atualmente preenche as noites de segunda a domingo, com seis peças em cartaz, estão o Studio 184 (1997), o Teatro X (2002) e o Recriarte Bijou (2003).
"É a revitalização das pessoas que freqüentam a praça, não de uma passagem de tinta", diz a atriz e produtora Fernanda D'Umbra, 33, do Cemitério de Automóveis, grupo que chega a lotar os 70 lugares do Espaço dos Satyros com "O Que Restou do Sagrado", nos dias mais "alternativos" --segundas e terças-feiras.
Entorno
Em direção à Consolação, estão as ruas Rego Freitas e Dr. Teodoro Baima, também endereços teatrais: o Arena (desde 1955), o Espaço Cenográfico de São Paulo (1998), o N.Ex.T (1999) e as recém-criadas sede da Cia. do Feijão e galeria Oll Dog.
"Quando criamos o Núcleo Experimental de Teatro, tínhamos que vender o Fusca para montar uma peça", ilustra o dramaturgo Antonio Rocco, 43, idealizador do N.Ex.T., onde decolou o show de esquetes "Terça Insana", dirigido por Grace Gianoukas. Em 2004, o espaço exibiu 11 peças e atraiu cerca de 15 mil espectadores.
Convivência harmoniosa
A revitalização humana da praça é festejada pelos moradores, comerciantes e visitantes ouvidos pela Folha. A melhoria na segurança e o incremento do comércio são os benefícios diretos apontados como resultado do aumento na circulação de pessoas.
"Antes, dificilmente eu passava por aqui. Hoje está tranqüilo. Com os teatros, as pessoas começaram a vir mais", diz a educadora Claudete dos Santos, 52, que mora na região e freqüenta o La Barca, misto de bar e café que reúne atores e espectadores.
Mais motivos para comemorar têm os comerciantes da região, entre eles Esdras Vassalo, 71, o Doca, dono de um antiquário que, há dois meses, passou por adaptações e virou um simpático bar. "Antes a praça era mal freqüentada. Melhorou muito", diz.
Renato Orbetelli, 57, dono da barbearia e charutaria Diplomat há 36 anos, afirma que a mudança começou com os teatros. "Isso aqui não tinha mais movimento."
A simbiose da praça Roosevelt é resumida por Vázquez: "Aqui, temos o exemplo de como o universo excludente pode permitir uma tensão harmoniosa entre loucos, travestis, prostitutas, velhinhas da classe média, artistas e público. Os grupos sociais estão todos representados em nosso cotidiano".
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