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23/02/2005
-
09h00
RICARDO ALEXANDRE
Colaboração para a Folha de S. Paulo
Recém-chegado de mais um de seus giros europeus, na mira de absolutamente todo mundo interessado nos novos ventos da música brasileira, Seu Jorge dá mais um de seus lentos e graduais passos profissionais. E dessa vez é dos maiores e mais sintomaticamente esquisitos: enfrenta os 6.000 lugares do Via Funchal sem nenhum hit radiofônico e sem desculpa de lançamento de disco ou coisa nenhuma. É um show que comemora a si próprio, dá pra dizer.
"Meu projeto de vida não é fazer sucesso, é trabalhar", conta o cantor e compositor carioca, por telefone de um hotel em Paris. "Para quem nasceu negro e pobre e hoje está tocando e dando entrevistas na França, fazendo cinema em Hollywood, acho que já está bom demais, não?"
Esse carioca de 34 anos nascido em Belford Roxo, cantor, compositor e ator, acaba de lançar seu segundo álbum solo ("Cru", o primeiro internacional, bancado pelo selo francês Naïve e, por enquanto, disponível apenas na Europa), estrelou o filme "The Life Aquatic with Steve Zissou", de Wes Anderson, ao lado de Bill Murray e Anjelica Huston (e fez a trilha, cheia de músicas de David Bowie toscamente tocadas ao violão e em português), viu seu samba-suingue "Tive Razão" estourar na França e virou, ele mesmo, um dos maiores ícones do tal "Brasil cool" que se espalha pelo mundo.
"Isso tudo é a força do cinema", acredita o cantor, cujo rosto viajou o planeta a bordo de "Cidade de Deus" (2002). "E eu sinto essa curiosidade em torno de um país que tem um presidente como Lula e um ministro como Gilberto Gil. Eu não falo de política, falo sobre sonho. Mas Lula é um sonhador, então me identifico com ele. Agora é a hora de tirar um pouco a camisa '9' do Ronaldinho do meu som, usando a percussão como instrumento de solo, mostrar como somos multiculturais e multicoloridos. Chamaram 'Cru' de 'blues da favela' e acho que é por aí mesmo."
No Brasil, até agora, entretanto, o máximo que Seu Jorge conseguiu foi um semi-hit no circuito de neo-samba-rock ("Carolina") e uma boa aproximação da MTV ("Tive Razão" faturou o prêmio dedicado a clipe de MPB no último Video Music Brasil e a emissora lançou o DVD "MTV Apresenta Seu Jorge"). Para a maior parte do grande público brasileiro Seu Jorge continua sendo o Mané Galinha de "Cidade de Deus".
"Ah, eu não tenho essa vaidade de ser famoso no Brasil, não", diz. "Você vê, o Bezerra da Silva era um dos caras mais populares do país e morreu com problemas, sem reconhecimento. Não tenho outra expectativa nem vaidade. Me amarro em tocar para 500 pessoas bacanas, estou só começando. Não quero me empurrar goela abaixo de ninguém."
Essa mesma estratégia parece nortear os planos de lançamento de "Cru" em território nacional. "Devo fazer uma pequena tiragem, a preço baixo --R$ 20-- e depois recolher", explica. "Sei que no Brasil é preciso calma. Não vamos tocar no rádio nem vender bastante, então não quero ficar tentando disputar mercado."
Em outras palavras, por hora não há planos de ampliar seu público para além dos produtores de moda e bem-nascidos que lotaram o grã-fino hotel Unique para a gravação de "MTV Apresenta...". "Mas é porque essa gente viaja muito e conhece minha carreira internacional, sabe como é?", explica o cantor, que já foi morador de rua, segundo freqüente "propaganda" da imprensa moderna. "Aqui na França não tem rico e pobre, somos todos brasileiros. Se eles entenderam isso, ótimo."
A desobrigação comercial deve dar o tom do show desta sexta em São Paulo, que, assim, serve também como nova peça a compor o quebra-cabeças que é sua carreira. A base do repertório vem do DVD da MTV, que, por sua vez, era baseado no disco "Samba Esporte Fino". Mas haverá espaço ainda para temas lançados por seu antigo grupo, Farofa Carioca, novidades de "Cru" e (talvez) alguma coisa da trilha do filme de Anderson. "O importante é dizer que conseguimos o show de censura livre, então vai ser uma noite pra família, pra dançar, beijar na boca, cantar junto. Ando me sentindo meio Elvis, jogando de goleiro a ponta-esquerda", faz troça de si próprio, antes de colocar sua voz grave e carinhosa a serviço de uma bela gargalhada.
Quando: sexta (25), às 21h30.
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, tel. 0/xx/11/3038-6698).
Quanto: R$ 70 a R$ 150.
Seu Jorge volta ao país para encarar sonho brasileiro
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Colaboração para a Folha de S. Paulo
Recém-chegado de mais um de seus giros europeus, na mira de absolutamente todo mundo interessado nos novos ventos da música brasileira, Seu Jorge dá mais um de seus lentos e graduais passos profissionais. E dessa vez é dos maiores e mais sintomaticamente esquisitos: enfrenta os 6.000 lugares do Via Funchal sem nenhum hit radiofônico e sem desculpa de lançamento de disco ou coisa nenhuma. É um show que comemora a si próprio, dá pra dizer.
"Meu projeto de vida não é fazer sucesso, é trabalhar", conta o cantor e compositor carioca, por telefone de um hotel em Paris. "Para quem nasceu negro e pobre e hoje está tocando e dando entrevistas na França, fazendo cinema em Hollywood, acho que já está bom demais, não?"
Esse carioca de 34 anos nascido em Belford Roxo, cantor, compositor e ator, acaba de lançar seu segundo álbum solo ("Cru", o primeiro internacional, bancado pelo selo francês Naïve e, por enquanto, disponível apenas na Europa), estrelou o filme "The Life Aquatic with Steve Zissou", de Wes Anderson, ao lado de Bill Murray e Anjelica Huston (e fez a trilha, cheia de músicas de David Bowie toscamente tocadas ao violão e em português), viu seu samba-suingue "Tive Razão" estourar na França e virou, ele mesmo, um dos maiores ícones do tal "Brasil cool" que se espalha pelo mundo.
"Isso tudo é a força do cinema", acredita o cantor, cujo rosto viajou o planeta a bordo de "Cidade de Deus" (2002). "E eu sinto essa curiosidade em torno de um país que tem um presidente como Lula e um ministro como Gilberto Gil. Eu não falo de política, falo sobre sonho. Mas Lula é um sonhador, então me identifico com ele. Agora é a hora de tirar um pouco a camisa '9' do Ronaldinho do meu som, usando a percussão como instrumento de solo, mostrar como somos multiculturais e multicoloridos. Chamaram 'Cru' de 'blues da favela' e acho que é por aí mesmo."
No Brasil, até agora, entretanto, o máximo que Seu Jorge conseguiu foi um semi-hit no circuito de neo-samba-rock ("Carolina") e uma boa aproximação da MTV ("Tive Razão" faturou o prêmio dedicado a clipe de MPB no último Video Music Brasil e a emissora lançou o DVD "MTV Apresenta Seu Jorge"). Para a maior parte do grande público brasileiro Seu Jorge continua sendo o Mané Galinha de "Cidade de Deus".
"Ah, eu não tenho essa vaidade de ser famoso no Brasil, não", diz. "Você vê, o Bezerra da Silva era um dos caras mais populares do país e morreu com problemas, sem reconhecimento. Não tenho outra expectativa nem vaidade. Me amarro em tocar para 500 pessoas bacanas, estou só começando. Não quero me empurrar goela abaixo de ninguém."
Essa mesma estratégia parece nortear os planos de lançamento de "Cru" em território nacional. "Devo fazer uma pequena tiragem, a preço baixo --R$ 20-- e depois recolher", explica. "Sei que no Brasil é preciso calma. Não vamos tocar no rádio nem vender bastante, então não quero ficar tentando disputar mercado."
Em outras palavras, por hora não há planos de ampliar seu público para além dos produtores de moda e bem-nascidos que lotaram o grã-fino hotel Unique para a gravação de "MTV Apresenta...". "Mas é porque essa gente viaja muito e conhece minha carreira internacional, sabe como é?", explica o cantor, que já foi morador de rua, segundo freqüente "propaganda" da imprensa moderna. "Aqui na França não tem rico e pobre, somos todos brasileiros. Se eles entenderam isso, ótimo."
A desobrigação comercial deve dar o tom do show desta sexta em São Paulo, que, assim, serve também como nova peça a compor o quebra-cabeças que é sua carreira. A base do repertório vem do DVD da MTV, que, por sua vez, era baseado no disco "Samba Esporte Fino". Mas haverá espaço ainda para temas lançados por seu antigo grupo, Farofa Carioca, novidades de "Cru" e (talvez) alguma coisa da trilha do filme de Anderson. "O importante é dizer que conseguimos o show de censura livre, então vai ser uma noite pra família, pra dançar, beijar na boca, cantar junto. Ando me sentindo meio Elvis, jogando de goleiro a ponta-esquerda", faz troça de si próprio, antes de colocar sua voz grave e carinhosa a serviço de uma bela gargalhada.
Quando: sexta (25), às 21h30.
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, tel. 0/xx/11/3038-6698).
Quanto: R$ 70 a R$ 150.
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