Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/03/2005 - 13h56

"Cool Japan" é a nova arma diplomática do Japão

Publicidade

da France Presse, em Tóquio

Cinema de animação, mangá, música pop, artes marciais. A cultura pop japonesa desperta tanto entusiasmo hoje em dia no mundo que o Japão quer explorá-la para veicular uma imagem positiva do país ao nível internacional.

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, declarou em janeiro que o arquipélago não devia se limitar a ser um líder tecnológico, mas devia também afirmar a presença internacional graças ao seu "soft power" --a sua diplomacia cultural-- na moda, na cozinha ou na indústria da diversão.

Koizumi integrou um grupo de especialistas visando refletir sobre a forma de se chegar a este objetivo.

"A Guerra Fria acabou, o mapa geopolítico mudou, sobretudo na Ásia, e o 'soft power' se tornou essencial", explicou Tamotsu Aoki, professor do Instituto Nacional de Estudos Políticos, que dirige este grupo de especialistas.

"Para o Japão, a expressão 'cool power' é preferida a 'soft power', que se opõe ao 'hard power'", explica Aoki.

A cultura "cool Japan" tem ídolos e ícones: do cineasta Hayao Miyazaki, que seduziu o planeta com seu último filme de animação, "Howl's Moving Castle" (algo como "O Castelo Ambulante"), ao console de jogos Playstation, passando por sushis e o cinema de Takeshi Kitano, a cultura pop japonesa desperta entusiasmo no mundo.

Comparado com todas as precauções de rigor, o fenômeno supera a onda de "japonismo" que conquistou a Europa a partir do fim do século 19.

"É o desenvolvimento lógico do pacifismo do pós-guerra", destaca Aoki, que descarta de imediato que se trate de uma ideologia.

Segundo Aoki, o Japão deve usar esta projeção como instrumento de política externa em suas relações com outros países.

"Os intercâmbios culturais são importantes para o Japão, sobretudo na Ásia", argumenta, destacando que "vêem para amenizar as dificuldades econômicas e políticas".

Os países do Sudeste Asiático têm sido muito críticos do passado militarista do Japão e se sentiam ameaçados por sua política econômica, mas seus produtos culturais atenuaram progressivamente os ressentimentos.

"A economia japonesa perdeu gás nos anos 90 e os sentimentos dos países do sudeste asiático, como Vietnã e Indonésia, se atenuaram com o Japão, graças sobretudo a uma geração de jovens que cresceu com os desenhos animados japoneses", estima.

"Frente a China, mais vale preferir o recurso ao 'soft power'", acrescenta Aoki, levando em conta que as relações político-diplomáticas entre os dois gigantes asiáticos não deixaram de degradar nos últimos meses devido a uma série de divergências históricas e territoriais.

"Desde os anos 90 houve uma tomada de consciência dos poderes públicos sobre o impacto (da cultura japonesa) no exterior", comenta Ilan Nguyen, estudioso de cinema japonês de animação.

Nguyen destaca que "primeiro são fenômenos comerciais. É o caso da maior parte das produções (japonesas) que cruzaram os oceanos desde os anos setenta".

"As produções japonesas respondem às expectativas que não se cumpriram nos países de recepção", diz, explicando o sucesso.

Segundo Aoki, o "cool power" não é uma reação frente à globalização porque, segundo ele, todo o país perde o controle da sua cultura quando outros se apropriam dela.

"Pode-se tentar afirmar abertamente uma identidade cultura, mas a cultura supera as fronteiras", sustenta o professor Aoki.

"Beethoven pertence só à Alemanha?", questiona.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a cultura japonesa
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página