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12/10/2000 - 06h11

"Eu, Eu Mesmo e Irene" estréia hoje no Brasil

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SÉRGIO DÁVILA, da Folha de S.Paulo

"Quer ver como o meu irmão faz?", começa Peter, o mais velho, de barbicha, que escreve os roteiros. O irmão, Bobby, cara de bom moço, o que dirige, pega um copo de água e enche a boca.

Faz um gargarejo esquisito imitando um mugido. Peter olha para o repórter, orgulhoso. "Viu? É ele que muge quando Jim Carrey está tentando matar a vaca." Estamos falando de "Eu, Eu Mesmo e Irene" ("Me, Myself & Irene"), que estréia hoje no Brasil. Os irmãos em questão são os Farrelly, autores da obra, que falaram à Folha em Nova York.

Os dois são responsáveis por algumas das comédias mais iconoclastas e irreverentes feitas nos cada vez mais politicamente corretos Estados Unidos. A menção de títulos como "Debi & Lóide" (1994) e "Quem Vai Ficar com Mary?" (1998) arrepia um sem-número de ONGs, ligas de senhoras e reuniões de pais e mestres.

Mas leva milhões de fãs (US$ 360 milhões com "Mary", US$ 250 milhões com "Debi", US$ 140 milhões até agora com "Irene") e faz rir quem vai ao cinema sem maiores pretensões nem preconceitos. Leia a entrevista:

Folha - Como vocês chegam para a Cameron Diaz e dizem "você vai ter de fazer uma cena com gel imitando esperma no cabelo"? Ou convencem Jim Carrey a dar a entender que usou um vibrador, como em "Irene"? Qual a técnica?
Bobby Farrelly -
Em primeiro lugar, a gente sabe convencer. Fomos vendedores antes do cinema.

Peter Farrelly - Temos um truque. Mostramos o "script" para o ator. Ele se assusta. A gente diz: "Vamos filmar. Se ficar ruim, a gente corta". Nunca fica ruim.

Bobby - Como você chega para um ator sério daqueles e fala que ele tem de fazer a cena do banheiro, em que ele tem uma disenteria na casa da namorada?


Peter - Com muito cuidado... Mas o vibrador não incomodou tanto o Jim Carrey quanto perturbou a Renée Zellweger. A família dela é muito tradicional, ela estava com medo da reação do pai quando assistisse ao filme.


Folha - De onde vem a idéia de um filme como "Irene"?
Peter -
Acredite ou não, começou pelo título. Estávamos conversando sobre a expressão inglesa "me, myself and I", sobre alguém egoísta. Bobby fez o trocadilho "me, myself and Irene". Eu falei: e se fosse a história de um cara que tem dupla personalidade e ambas são apaixonadas por uma garota chamada Irene? Daí, foi só desenvolver.

Bobby - Escrevemos um roteiro por três meses, noite e dia. Uma hora, um fala para o outro: "E se tivesse uma cena na estrada com uma vaca que não morre nunca?". Quando filmamos, havia uma versão ainda mais repugnante, em que Jim Carrey puxava a vaca pela cabeça e arrancava seu couro inteiro, deixando-a em carne viva. Mas ficou nojento...

Folha - Todos os filmes de vocês têm minorias. Deficientes físicos, mentais, anões, albinos... Por quê?
Bobby -
Quando estamos definindo o elenco de um filme, queremos sempre ir pelo inusitado. Quando criamos o personagem que rouba a mulher de Jim Carrey, pensamos: "E se fosse um anão?". Porque os anões nunca se dão bem nos filmes. "E se o anão fosse negro? E praticasse artes marciais?" Assim vai.

Peter - Quanto aos deficientes mentais, temos muitos amigos retardados e gostamos de colocá-los nos filmes. Um pouco para desmitificar. Em "Mary", tem um sujeito numa cadeira de rodas que é mal-educado. Por que todo aleijado tem de ser legal?

Folha - Não é politicamente incorreto usar termos como "aleijado" e "retardado"?
Peter -
O americano médio é muito conservador, constrangido demais. Nós, não.

Folha - Alguma das ocasiões em seus filmes já ocorreu com vocês?
Bobby -
Acredite ou não, a do sujeito que prendeu o pênis no zíper em "Mary". A gente estava dando uma festa no porão de casa na época do ginásio. Um amigo subiu para ir ao banheiro e nunca mais voltou. Meu pai estranhou a demora e começou a bater na porta. Dali a minutos, ele aparece e diz para minha mãe: "Precisamos de muito gelo".

Folha - O que vem agora?
Peter -
Um pai no leito de morte chama seu filho de 10 anos para fazer seu último pedido: "Meu filho, só case com uma mulher de peitos imensos". O pai está morrendo, mas é uma besta: só dá conselhos inúteis. Corta para o filho aos 25 anos, depois de seguir todos os conselhos do pai e se dar muito mal na vida.

Folha - Por que há este boom de irmãos cineastas?
Bobby -
No nosso caso, é para termos mais força diante das pressões de Hollywood. Fica mais fácil defender seu filme.

Peter - Além disso, somos muito unidos. Eu estava presente quando Bobby perdeu sua virgindade, por exemplo. Foi com o meu cachorro. (risos)

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