Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/03/2005 - 09h30

Fábrica da fama, BBB não garante carreira

Publicidade

MARCELO BARTOLOMEI
Colaboração para a Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro

Pelo quinto ano consecutivo, o "Big Brother Brasil" despeja no mercado 14 aspirantes a celebridades, pseudo-artistas que tiveram seus momentos de fama num dos programas de maior audiência da televisão brasileira.

Na próxima terça-feira, quando for conhecido o vencedor desta edição, serão 67 participantes "formados" pela escola do diretor J.B. de Oliveira, o Boninho, desde 2001 --quando estreou a atração--, todos com o objetivo de sair do anonimato para atingir um mínimo de estrelato. "Hoje, todo mundo quer seus 15 minutos de fama para usufruir financeiramente disso", diz o produtor e crítico de TV Gabriel Priolli, 52, presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária.

No entanto, fama e carreira não andam, necessariamente, juntas. E o "Big Brother" está aí para provar isso: dos ex-participantes, a maioria, para não ficar desempregada, voltou a exercer suas atividades anteriores; outra parcela tenta, a todo custo, conquistar um espaço ao sol; e menos de dez continuaram na TV. É o caso de Sabrina Sato, 24, que participou da terceira edição do programa e, hoje, integra a trupe do "Pânico", na rádio e na televisão. "Não vejo o 'Big Brother' como carreira. Eu tinha consciência de que iria sair e procurar trabalho, porque não tem como entrar lá advogado, por exemplo, e sair ator", diz ela.

"Acho que as pessoas têm uma idéia errada do que é aparecer na televisão. No meu caso, desde criança eu quis trabalhar com comunicação. Lá em Penápolis (SP), onde nasci, eu fazia um programa de rádio desde pequena", conta Sabrina, que sofre o que chama de "maldição" dos ex-"Big Brothers" nas mãos dos companheiros de trabalho, que brincam com sua origem televisiva. "O Emílio [Surita, cabeça do 'Pânico'] sempre diz: "Nem a gente conseguiu escapar da maldição dos ex-'Big Brothers', mas eu me divirto'."

Só para o "BBB5", somaram-se 30 mil inscritos. "Vivemos um momento de evasão de privacidade. As pessoas querem ocupar algum lugar, por menor que seja, no espaço público. A maioria nem busca fama, mas um pacote que lhe será útil se souber trabalhar depois dela", diz Priolli.

Quem saiu desta edição ainda não tem planos definidos. No primeiro momento, os eliminados permanecem à disposição da Globo. E as regras são claras: os participantes têm contrato com a emissora durante seis meses após a saída do "reality show" e não podem se apresentar em outros canais, tampouco fazer publicidade sem o aval da direção.

Resta, então, aceitar convites para posar em ensaios fotográficos para revistas, participações em programas da própria emissora e o rótulo de, para sempre, ser um ex-"Big Brother".

Fetiche

A quinta edição foi marcada por recordes de participação do público --por meio de votações na internet e pelo telefone-- e de audiência. A média das sete semanas iniciais, se comparada ao mesmo período dos outros quatro programas, foi de 51 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 48,5 mil espectadores na Grande São Paulo).

Durante três meses, a atração fez o público torcer pelos participantes como se estivessem assistindo ao futebol. "O 'Big Brother' está muito bem azeitado. Sua fórmula, com uma edição de telenovela, que dramatiza o programa e cria antagonismos, foi perfeita. É uma dramaturgia da realidade, com tensões entre grupos, reforçando o drama. Com a apuração da fórmula, ele obtém sucesso e longevidade", diz Priolli.

Uma pesquisa realizada a partir dos programas exibidos na Globo e de material publicado na mídia estuda o fetichismo do "BB".

Segundo o trabalho, realizado no Isca (Instituto Superior de Ciências Aplicadas), de Limeira (interior de São Paulo) --para a conclusão do curso de ciências sociais--, o fetiche de observar como vivem os participantes do programa motiva a grande audiência. "É o que buscam os participantes dos ''reality shows'; é o que querem ver os espectadores. De acordo com o conceito de identidade, o espectador tem mais probabilidade de eleger como alvo de preferência aquele outro que, exposto, mais tenha semelhança consigo mesmo. O espectador quer participar do sonho e do deslumbre", diz o estudo, encabeçado pela estudante Regiane Batistella, 38.

"Quando o programa começou, afirmava-se que havia interesse pela conotação sexual do voyeurismo, mas isso nunca aconteceu. Muito pelo contrário, o programa se revelou familiar", afirma Priolli. "Há, sim, uma curiosidade por observar o que as pessoas fazem no que é considerado um verdadeiro zoológico humano", completa o produtor.

Na quinta edição do "reality show", a identificação do público com os personagens reais criados pelos participantes foi clara. Quando a casa se dividiu entre bem e mal, a cada semana que passava, era eliminado quem estava contra a corrente. Entre as maiores votações, a da estudante carioca Aline obteve recorde de rejeição, com 95% dos votos. No mesmo patamar, esteve o médico paulista Rogério, com 92% de votação.

Os números são os maiores já registrados pela Endemol, produtora holandesa dona da idéia que criou o programa, em comparação aos demais países onde o mesmo formato é realizado.

Por conta da edição final do "reality", os responsáveis pelo "Big Brother Brasil" se negaram a falar com a Folha para apresentar um balanço sobre a edição.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página