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29/03/2005 - 17h35

"Evangelho Segundo Judas" volta à tona depois de séculos de mistério

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da France Presse, em Genebra

Quase dois mil anos após ter semeado a discórdia entre os primeiros cristãos, o "Evangelho Segundo Judas", apóstolo que traiu Jesus, volta à tona na Suíça, onde está sendo traduzido.

O manuscrito em papiros, escrito em dialeto copta, a antiga língua dos cristãos do Egito, deve ser publicado em alemão, inglês e francês daqui a mais ou menos um ano, afirmou nesta terça-feira a Fundação Maecenas. O "Evangelho Segundo Judas" tem 26 folhas e faz parte de um material antigo de 66 páginas, que inclui outros textos, como o Primeiro Apocalipse de Tiago.

"Nós recebemos os resultados dos testes de datação com o carbono 14: o texto é ainda mais antigo do que pensávamos e remonta a um período entre o fim do século 3 e o começo do século 4", explicou o diretor da fundação da Basiléia, Mario Jean Roberty.

A existência do "Evangelho Segundo Judas", cujo original é verossímil em grego, foi atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Santo Irineu, que no século 2 denunciou o texto como herético.

"É a única fonte clara que permite saber que tal evangelho existia", segundo Roberty, que não quis falar sobre o conteúdo do texto antes de sua publicação. "Nós não queremos revelar ainda o caráter excepcional do material que temos entre as mãos."

Segundo a tradição, Judas entregou Jesus aos romanos, que o pregaram na cruz. Cheio de remorsos, ele teria se enforcado. "Entretanto, em seu evangelho, não se enforcou", ironiza o especialista. O mistério continua sobre os verdadeiros autores da obra.

"Ninguém pode dizer que Judas escreveu ele próprio o evangelho", destaca Roberty, acrescentando que os outros evangelhos também não saíram das mãos dos apóstolos.

No Concílio de Nicéia (Turquia), reunido em 325 por iniciativa do primeiro imperador cristão, Constantino, a Igreja limitou a quatro os evangelhos transmitindo os ensinamentos de Cristo. Somente os textos atribuídos a Marcos, João, Lucas e Mateus foram mantidos.

Cerca de trinta textos, alguns deles conhecidos, foram descartados porque não estavam de acordo com o que Constantino desejava como doutrina política, observou Roberty.

De acordo com o especialista, o evangelho de Judas colocaria em questão certos princípios políticos da doutrina cristã. Também permitiria uma certa reabilitação de Judas, que durante séculos cristalizou as acusações de assassino de Jesus feitas pela Igreja contra o povo judeu.

"Eu vejo um elemento muito positivo nisso porque a figura de Judas é uma das justificativas do cristianismo por sua visão anti-semita", afirma.

A origem do evangelho segundo Judas é misteriosa. Depois de sua descoberta no Egito nos anos 1950 ou 1960, fez uma breve passagem na Suíça antes de ser colocado em um cofre nos Estados Unidos durante 20 anos. Apenas no final de 1990 seu conteúdo foi identificado e a fundação Maecenas o comprou em 2001.

Depois do documento restaurado, o trabalho de análise e de tradução foi confiado a uma equipe dirigida pelo professor Rudolf Kasser, aposentado da Universidade de Genebra.

A fundação Maecenas, que se esforça para proteger as descobertas arqueológicas nos países pobres, prevê a realização de exposições e de um documentário sobre a publicação da obra. O lançamento do texto integral, na Páscoa de 2006, será acompanhado por obras contando a aventura da descoberta desse evangelho.

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