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18/04/2005 - 09h35

Paul Auster "entrevista" Chico Buarque em Nova York

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PEDRO DIAS LEITE
da Folha de S.Paulo, de Nova York

A programação prometia uma "Conversação: Chico Buarque e Paul Auster", mas, na verdade, o que se assistiu na biblioteca pública de Nova York na ensolarada e fria tarde de sábado foi a uma entrevista, e das boas, conduzida pelo norte-americano com o autor do romance "Budapeste".

Apesar da fama mais do que reiterada de tímido, Chico estava muito à vontade. Falou das músicas sob censura ("Eu mesmo, quando ouço as músicas que escrevi, não entendo o que eu quis dizer"), do jeito com as mulheres ("Não tenho nada a ver com essa reputação") e da vocação do rap ("O tipo de música que uma vez foi feita, por mim e por outros, com uma temática social, eles fazem isso melhor").

E ainda brincou com o fato de suas entrevistas no Brasil sempre acabarem na sua faceta de compositor em algum momento: "Fui à Noruega e a repórter perguntou: é verdade que você é também um compositor?". Nos EUA, achava que seria diferente ("Aqui sou mais conhecido como o tio da Bebel"), mas Auster teve de intervir quando um fã pediu que Chico cantasse uma música. "É um festival literário pessoal", disse, bem-humorado, o autor de "Leviatã".

Os dois fizeram a palestra de abertura do PEN World Voices, um festival internacional de literatura que segue até o dia 22 em Nova York. A idéia é que não seja um "festival tradicional", mas, sim, uma "reabertura do diálogo entre a América e o resto do mundo", como explicou na abertura da palestra o presidente do PEN, o britânico Salman Rushdie.

A tarde começou em clima ameno, com Auster perguntando à platéia de cerca de 150 pessoas que lotava o auditório quem ali conhecia a música de Chico Buarque. Não mais que a metade levantou a mão. Quando a questão foi sobre quem já leu seus livros, o número não passou de 40.

Na uma hora e meia que se seguiu, os ouvintes conheceram mais da literatura de Chico, de sua relação com a música, de seu processo criativo. E ainda souberam que o novo livro de Auster está quase pronto ("Brooklyn Folies") e que Chico voltou a compor, com planos de um disco novo e shows.

Na maior parte das vezes, foi um monólogo de Chico sobre música, fama, ditadura e mulheres. Leia a seguir as declarações que o escritor brasileiro fez no festival literário:

Mulheres

"Eu não tenho nada a ver com essa reputação [de entender as mulheres]. Escrevi músicas para mulheres cantarem, porque temos mais compositores homens que mulheres."

"Não seria capaz [de escrever um livro como mulher]. Música é algo curto, você escreve por um momento, não acho que me sentiria confortável escrevendo como uma mulher por dois anos."

Rap

"Gosto muito de rap. O tipo de música que uma vez foi feita, por mim e por outros, com uma temática social, eles fazem isso melhor, porque vêm de lá. Eles falam para sua gente, vêm das favelas e são ouvidos por todos os tipos de pessoas. Eles têm algo a dizer, muito sério."

Censura

"Escrevi meu primeiro livro naquela época, porque tinha muitas músicas que eram censuradas. Mas não foi um bom livro ["Fazenda Modelo", de 1974], porque foi escrito por um outro tipo de necessidade, porque eu não podia escrever música, foi escrito com raiva."

"Muitas vezes, havia tantas metáforas e tantos meios de escapar da censura na década de 70, que, eu mesmo, quando ouço músicas que escrevi, não entendo o que eu quis dizer."

Literatura e música

"Acho que escrevo livros como faço música. Tenho música na cabeça o tempo todo. Eu nunca ouço música, porque atrapalha meu escrever."

"Quando eu escrevo acho que tem música no fundo da minha cabeça. E tem uma necessidade inconsciente de escrever de um modo musical. Se uma frase faz sentido, eu leio, releio, mas algo está errado, esse algo errado tem a ver com o sentido musical, o ritmo da frase, não sei como dizer, mas fico realmente satisfeito quando leio de modo musical."

"Escritores dizem, ah, escrevo ouvindo suas canções, ou música clássica. Eu olho para eles e digo: você não gosta de música. Você gosta, mas não é uma pessoa musical. Não toma sua atenção. Se você gosta, qualquer música, no elevador, chama a sua atenção."

Especial
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