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22/04/2005
-
09h30
LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro
Ao apresentar o recital "Ary Barroso Contemporâneo" no dia do centenário do compositor (7 de novembro de 2003), o pianista Hugo Braule não ganhou apenas um abraço emocionado de Mariúza Barroso, filha de Ary. Ganhou dela a missão de transpor para partituras músicas inéditas ou pouco conhecidas do autor da canção "Aquarela do Brasil", morto em 1964.
Braule começou a cumprir a tarefa neste ano, tendo recebido um lote de 60 músicas para escrever ou reescrever em exíguos seis meses. Já concluiu dez e, a cada nova com que se depara, se surpreende mais com a riqueza do material.
"São músicas que estão no nível das grandes obras de Ary. Se uma parte não foi gravada na época, foi por má gestão, não por falta de qualidade", diz Braule, 54.
Por "má gestão" entenda-se o excesso de atividades de Ary (compositor, radialista, locutor de futebol, vereador, boêmio etc.) e o fato de que muitas das músicas tinham fins específicos, não-profissionais.
"Ave Maria", por exemplo, foi composta para o casamento de Mariúza e, pelo que se sabe, nunca mais tocada. Já a valsa "Ivone", homenagem à mulher, era muito tocada, mas apenas em casa.
"Quando eu toquei, Mariúza até chorou, porque não ouvia havia mais de 40 anos", diz Braule. Segundo ele, ainda não se tem certeza de quantas são inéditas, mas devem ser mais de dez.
Nesse grupo, há duas marchas feitas para a cidade mineira onde Ary nasceu --"Ubá" e "Ubaense Glorioso"-- e duas operetas que nem estão no bloco de 60 músicas a que Braule se dedica. Mas ele não resiste a sonhar em concluir a opereta incompleta e adaptar para os dias de hoje a outra, que tem libreto de Gilda de Abreu, mulher de Vicente Celestino.
"Meu sonho era fazer o 'Cancioneiro Ary Barroso', a obra completa. É um compositor genial, até hoje desrespeitado. Ainda ouço gente chamando o Ary de racista [por causa do 1mulato inzoneiro' da 'Aquarela'] e dizendo que ele criou o samba-exaltação para o Estado Novo", revolta-se Braule, lembrando que Ary Barroso sempre rejeitou interpretações políticas de sua obra.
Novo songbook
Além das inéditas, o pianista tem refeito arranjos de músicas pouco conhecidas, como "O Amor Vem Quando a Gente Não Espera" e "Vai Cumprir o Teu Destino", gravadas por Aracy Côrtes. Os arranjos dos anos 30 eram em ritmo de maxixe, pois era assim que as orquestras tocavam antes de o samba se firmar.
Há composições que estão no songbook feito por Almir Chediak a partir da obra de Ary. Mas Chediak escrevia só a base melódica, suficiente para violão e voz, mas não para quem planejasse usos mais ousados.
"Eu escrevo as linhas de baixo de que Ary gostava. Escrevo tudo, sempre procurando imaginar como ele pensou a música quando compôs", explica ele.
É uma abordagem diferente da que fez em "Ary Barroso Contemporâneo", que planeja montar como musical, com oito atores e versões jazzísticas das músicas. O lado jazzista de Braule é o que predomina em seu único CD, "Arte de Amar", que divulga pelo site (http://hugobraule.250free.com).
O que Mariúza Barroso planeja é, tendo as partituras, editar um novo songbook e viabilizar discos e shows a partir do material. Ela pode fazer isto com essas canções, propriedade de sua editora Aquarela do Brasil, mas as músicas mais famosas do pai continuam com a Irmãos Vitale, com quem trava briga judicial.
Mariúza ainda deseja abrigar todo o material que guarda em casa, inclusive o piano do pai, numa casa preparada para isso, mas não em um museu. "Meu pai não era homem para ficar em museu. Tem de ser um lugar bem alegre, como ele", diz ela.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Ary Barroso
Pianista tira do baú inéditas de Ary Barroso
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da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro
Ao apresentar o recital "Ary Barroso Contemporâneo" no dia do centenário do compositor (7 de novembro de 2003), o pianista Hugo Braule não ganhou apenas um abraço emocionado de Mariúza Barroso, filha de Ary. Ganhou dela a missão de transpor para partituras músicas inéditas ou pouco conhecidas do autor da canção "Aquarela do Brasil", morto em 1964.
Braule começou a cumprir a tarefa neste ano, tendo recebido um lote de 60 músicas para escrever ou reescrever em exíguos seis meses. Já concluiu dez e, a cada nova com que se depara, se surpreende mais com a riqueza do material.
"São músicas que estão no nível das grandes obras de Ary. Se uma parte não foi gravada na época, foi por má gestão, não por falta de qualidade", diz Braule, 54.
Por "má gestão" entenda-se o excesso de atividades de Ary (compositor, radialista, locutor de futebol, vereador, boêmio etc.) e o fato de que muitas das músicas tinham fins específicos, não-profissionais.
"Ave Maria", por exemplo, foi composta para o casamento de Mariúza e, pelo que se sabe, nunca mais tocada. Já a valsa "Ivone", homenagem à mulher, era muito tocada, mas apenas em casa.
"Quando eu toquei, Mariúza até chorou, porque não ouvia havia mais de 40 anos", diz Braule. Segundo ele, ainda não se tem certeza de quantas são inéditas, mas devem ser mais de dez.
Nesse grupo, há duas marchas feitas para a cidade mineira onde Ary nasceu --"Ubá" e "Ubaense Glorioso"-- e duas operetas que nem estão no bloco de 60 músicas a que Braule se dedica. Mas ele não resiste a sonhar em concluir a opereta incompleta e adaptar para os dias de hoje a outra, que tem libreto de Gilda de Abreu, mulher de Vicente Celestino.
"Meu sonho era fazer o 'Cancioneiro Ary Barroso', a obra completa. É um compositor genial, até hoje desrespeitado. Ainda ouço gente chamando o Ary de racista [por causa do 1mulato inzoneiro' da 'Aquarela'] e dizendo que ele criou o samba-exaltação para o Estado Novo", revolta-se Braule, lembrando que Ary Barroso sempre rejeitou interpretações políticas de sua obra.
Novo songbook
Além das inéditas, o pianista tem refeito arranjos de músicas pouco conhecidas, como "O Amor Vem Quando a Gente Não Espera" e "Vai Cumprir o Teu Destino", gravadas por Aracy Côrtes. Os arranjos dos anos 30 eram em ritmo de maxixe, pois era assim que as orquestras tocavam antes de o samba se firmar.
Há composições que estão no songbook feito por Almir Chediak a partir da obra de Ary. Mas Chediak escrevia só a base melódica, suficiente para violão e voz, mas não para quem planejasse usos mais ousados.
"Eu escrevo as linhas de baixo de que Ary gostava. Escrevo tudo, sempre procurando imaginar como ele pensou a música quando compôs", explica ele.
É uma abordagem diferente da que fez em "Ary Barroso Contemporâneo", que planeja montar como musical, com oito atores e versões jazzísticas das músicas. O lado jazzista de Braule é o que predomina em seu único CD, "Arte de Amar", que divulga pelo site (http://hugobraule.250free.com).
O que Mariúza Barroso planeja é, tendo as partituras, editar um novo songbook e viabilizar discos e shows a partir do material. Ela pode fazer isto com essas canções, propriedade de sua editora Aquarela do Brasil, mas as músicas mais famosas do pai continuam com a Irmãos Vitale, com quem trava briga judicial.
Mariúza ainda deseja abrigar todo o material que guarda em casa, inclusive o piano do pai, numa casa preparada para isso, mas não em um museu. "Meu pai não era homem para ficar em museu. Tem de ser um lugar bem alegre, como ele", diz ela.
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