Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/05/2005 - 12h54

Crítica: Revista gay ainda é tabu no Brasil

Publicidade

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Revista gay no Brasil ainda é um tabu. Existe a vergonha de exibir esse tipo de publicação nas bancas. Exceção, obviamente, aquelas instaladas em tradicionais "centros de convivência" homossexual, como no Largo do Arouche, no centro paulistano, região riscada do mapa por alguns freqüentadores do "gueto fashion", como a Frei Caneca e Consolação, nos Jardins.

Para os assinantes, a revista chega enrolada em um plástico branco, evitando a identificação do conteúdo. Inútil. Os porteiros já sabem. Não são raros os relatos de gays que têm vontade de comprar a revista, mas falta coragem para encarar o dono da banca ou admitir aos amigos que "se entrega a esse tipo de prazer ordinário". Preconceito enrustido, medo de admitir a solidão ou falta de aceitação?

Outros preferem dizer que os modelos nus estampados nas capas de "G Magazine" não passam de criação de "Photoshop", programa usado no tratamento e edição de imagens, uma acusação também ouvida entre alguns leitores da heterossexual "Playboy".

No ambiente gay, há dezenas de publicações gratuitas, de tiragem pulverizada, que circulam em boates, bares e restaurantes. Em alguns casos, o conteúdo é bem amador, com textos descuidados, forte discurso panfletário, além de um foco exagerado no universo marginal ou nos elogios aos anunciantes (em geral, saunas e boates) ou a líderes do movimento ou interessados em se cacifar politicamente levantando a bandeira homossexual.

A reformulação editorial de "G Magazine", ainda em andamento, tenta aprender com os erros. A publicação aposta na fórmula de "higienizar" a abordagem das questões homossexuais. Ou seja, o objetivo é "integrar" a revista à pauta da sociedade, sem chocar o público mais conservador --existente também entre os gays.

Ao colocar em sua capa personalidades gays (Clodovil e Jean) já "aprovadas" pelo chamado "establishment" (classe dominante), como a Rede Globo, a publicação atrai os olhares de um outro segmento do público, o que ajuda na tentativa de driblar a rejeição de alguns anunciantes.

A exemplo das revistas semanais, "G Magazine" também passou a explorar mais temas mais amenos, como dicas de saúde, beleza, moda, evitando cair no equívoco de ser identificada apenas como mais uma revista mal-humorada que só reclama da homofobia e defende o "casamento" gay.

Nessa área, há ainda patrulha ideológica, intolerância contra opiniões divergentes ao senso comum do movimento homossexual e o risco de cair na "caça às bruxas", mandando à fogueira quem não se torna um "militante", quem não guarda em casa uma bandeira com as cores do arco-íris ou não participa da parada do orgulho gay.

Sem falar na blitz das palavras. Ouse em uma conversa trocar, por descuido, termos como "orientação sexual" por "opção sexual" ou "homossexualidade" por "homossexualismo". Em um país ainda fortemente machista e preconceituoso, uma revista gay sobreviver por oito anos já é um sinal de alguma mudança --positiva e animadora-- na realidade dos homossexuais brasileiros, embora ainda resista a sensação de que "toda nudez será castigada".

Leia mais
  • "G Magazine" muda e público atinge quase metade da "Playboy"
  • Preconceito ainda é enorme, diz editora da "G Magazine"

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre parada gay
  • Veja o especial da Parada do Orgulho Gay 2005
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página