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05/08/2005 - 14h50

Crítica: "Pânico" apela com "caso de polícia" e cai na armadilha da fama

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A turma do "Pânico na TV" conseguiu. Após a queda na audiência, os humoristas decidiram radicalizar, a fim de recuperar as atenções da mídia e, por conseqüência, o ibope.

Os humoristas viraram "caso de polícia" após perseguirem a atriz Carolina Dieckmann, no Rio. Mas essa estratégia é de alto risco. O telespectador pode rejeitar essa imagem agressiva da turma.

Pior: os anunciantes do programa podem tirar o time. Qual será o próximo passo no desespero para manter a fama? Matar ou morrer? Que cervejaria gostaria de ver sua marca vinculada a um grupo fora-da-lei?

Questionar o "Pânico na TV" também é um alto risco. A turma odeia ouvir críticas, constrange quem se atreve a noticiar sua queda no ibope ou colocar em dúvida sua criatividade --em tom jocoso, até ameaçou de morte uma repórter da Folha Online na versão do programa no rádio.

É uma atitude arrogante, mas tem precedentes. No Brasil, em geral, os artistas surtam quando atingem o ápice de sua popularidade. Esquecem que a fama é passageira, que o gosto do público muda de uma hora para outra, que as emissoras descartam qualquer um, sem piedade. Ninguém é insubstituível. Hoje a onda é o "Pânico". Amanhã é o "Kibe Loco".

No início, era engraçado ver o "Pânico" abordar com perguntas absurdas celebridades que se acham a "última Coca-Cola do deserto". Era uma forma de o público se vingar contra a arrogância daqueles que alimentam a ilusão de uma vida fácil e glamourosa, os chamados "globais".

A postura corajosa, afoita e destemida da turma do "Pânico" provocou essa febre de popularidade dos humoristas. Mas agora, passando dos limites legais, eles correm o risco de serem julgados pela audiência.

Os jovens gostam do "Pânico" porque o consideram uma transgressão na estética imbecilizante dos programas humorísticos tradicionais. É um sarro constante, sem censura de brincar com bizarrices e escatologias. Sem querer comparar, o "Pânico" corresponde para os jovens o que o grupo britânico Monty Python foi para a geração dos anos 70 e 80.

O problema é que as fórmulas de riso e escracho também se desgastam e se esgotam. O público amadurece e está sempre em busca do novo. O envolvimento do "Pânico" em um caso de polícia pode, no primeiro momento, reacender o interesse repentino em ver o programa, mas tanta apelação pode, com o tempo, afugentar o espectador mais crítico.

Qual é o direito de um grupo de humoristas de perseguir uma atriz e envolver nessa brincadeira até o filho de seis anos da artista? Qual o direito de um programa de colocar um guindaste na rua, atrapalhando o trânsito, para fazer imagens que, no final das contas, possui fins comerciais? Basta se colocar no lugar da atriz Carolina Dieckmann para perceber que tudo tem limite. Só uma atitude infantil e irresponsável dos humoristas explicaria a insistência de perseguir a atriz para calçar as famigeradas "sandálias da humildade".

Por trás dessa insistência, pode estar a falta de novas idéias de humor, a deficiência de seus produtores de criar novos formatos ou a certeza da impunidade. Os humoristas deixaram a polícia após três horas de depoimentos. Em um país sério, talvez a história fosse diferente.

No momento em que os brasileiros assistem à crise política como uma novela das boas, o "Pânico" insiste em uma brincadeira cansativa. Vá perseguir o Roberto Jefferson ou o José Dirceu. Invente alguma coisa nova. Peça desculpas a atriz, que tem o seu direito constitucional de preservar sua imagem e seu filho, de evitar tumulto em sua vizinhança.

O desespero do "Pânico" em recuperar sua audiência não pode se tornar em um show de baixaria sem limites. Outros programas (Faustão e Gugu já apelaram para sushis eróticos, anões e banheiras) já seguiram esse caminho e acabaram perdendo a simpatia do público, da crítica e entrando para a história dos momentos mais deprimentes da TV brasileira.

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