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07/08/2005 - 10h19

A CPI que não passa na TV

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DANIEL CASTRO
da Folha de S.Paulo

As CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) que investigam denúncias de corrupção transformaram a TV Senado em um canal grande para os padrões da TV paga. Graças à transmissão de depoimentos de figuras como Marcos Valério, a emissora legislativa viu sua audiência ser multiplicada por mais dez vezes em apenas cinco meses. Nunca, em seus nove anos no ar, a TV Senado foi tão vista e reproduzida por emissoras comerciais.

Em março, a TV Senado ocupava um modesto 36º lugar no ranking do Ibope dos canais mais vistos da TV paga, com apenas 1.331 telespectadores por minuto em média no horário nobre (das 19h às 24h), segundo dados obtidos com exclusividade pela Folha.

Em maio, no início da crise, mas antes das CPIs, a TV Senado já registrava audiência cinco vezes maior, pulando para o 29º lugar. Em julho (até o dia 24), com a CPI dos Correios, saltou para 14.644 telespectadores por minuto no horário nobre, ocupando o 23º posto entre os mais vistos.

Os números são inexpressivos diante de um "Jornal Nacional", mas são robustos para o mundo da TV paga, onde os programas líderes de audiência dificilmente passam da média de 200 mil telespectadores por minuto.

A TV Senado já aparece em julho à frente de canais mais bem embalados ou com conteúdo muito mais atraente, como Band News (que reproduz o sinal do canal dos senadores durante boa parte do dia), ESPN (o internacional), National Geographic, Telecine Emotion e HBO2.

Segundo Armando Rollemberg, diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, o canal custa aos cofres públicos R$ 10,5 milhões por ano (13% do custo da TV Cultura). Emprega 160 funcionários (37 jornalistas) que se revezam em três turnos de seis horas.

Imagens de diferentes pontos do Senado são captadas simultaneamente por 12 câmeras e transportadas por 4 km de cabos. Há 40 pontos com tomadas para conectar câmeras e entrar no ar ao vivo rapidamente. A direção da TV Senado tem planos de usar as (dezenas de) câmeras do circuito de segurança quando elas forem trocadas por novas, digitais.

O trabalho aumentou muito na TV Senado com a crise política. Tudo o que acontece no Plenário, nas comissões permanentes (como a de Justiça e Redação), nas CPIs e nas subcomissões é exibido ao vivo ou gravado para apresentação posterior. Na última quinta-feira, o canal trabalhava no limite. Havia quatro CPIs (da Compra de Votos, com "oitiva" do deputado Roberto Jefferson, a dos Correios, a dos Bingos e a da Emigração), além de reuniões de outras quatro comissões permanentes e sessão em Plenário.

Nos dias de maior atividade, a TV Senado tem ficado no ar até 17 horas ao vivo. A média agora são 13 horas ao vivo. Em maio, eram nove horas e meia.

Principalmente no último mês, o logotipo da TV Senado freqüentou quase diariamente todos os telejornais, o que lhe dá uma exposição maior do que as de marcas de anunciantes da novela das oito da Globo, com audiência superior a 40 milhões de pessoas.

Embora até gravem as sessões com suas próprias câmeras, as grandes redes e canais de notícia usam as imagens da TV Senado porque é mais cômodo. A
TV Senado, na prática, tem sido três canais. Além da própria programação, que nem sempre segue o interesse das redes e dos telespectadores, ela dispõe um sinal de satélite via Embratel com o "principal" do dia. Há um terceiro sinal, ao vivo, em fibra ótica (até agora só usado pela Globo e a TV Câmara) e distribuído pela Radiobrás.

Na última quinta, esse canal transmitia a CPI dos Correios.

A TV Senado teve de fazer uma pequena adaptação para gerar esses canais, a pedidos das redes. "As emissoras entram em acordo entre elas e escolhem qual comissão querem receber em cada um desses canais", diz o diretor Rollemberg. Se tivessem de usar imagens próprias, as TVs perderiam tempo decupando fitas de uma hora e meia. Com as imagens da TV Senado, podem editar imagens em tempo real.

Mesmo assim, as salas das CPIs ficam repletas de câmeras. São até enfileiradas no fundo das salas. Microfones pendurados em caixas de som e um emaranhado de fios completam o cenário. "Todo mundo pega imagem da TV Senado, mas vem aqui captar coisas fora do principal, reações, brigas, vazamentos", conta Celso Teixeira, repórter da Record.

A TV Senado faz a cobertura de cada CPI com duas câmeras, operadas por um cinegrafista e um assistente. Por fones de ouvido, eles são orientados por diretores instalados em ilhas de edição distantes dali, onde fazem o "corte", a escolha da imagem que vai ao ar.

Uma câmera fica no fundo da sala e enquadra a mesa e o depoente. A outra fica na frente, ao lado da mesa. Enquadra o parlamentar que faz perguntas, do meio da sala por exemplo.

A programação ao vivo da TV Senado segue regras estabelecidas em norma dos próprios senadores. Independentemente de quem estiver depondo em uma CPI, a prioridade de entrar ao vivo é sempre das sessões em Plenário, onde todos os senadores podem discursar --e aparecer. Depois do Plenário, a prioridade é das comissões permanentes, seguida pelas CPIs.

Na semana passada, houve um rearranjo de horários de funcionamento de comissões para melhorar a "cobertura".

A interrupção de CPIs para transmitir discursos em Plenário é o que mais gera protestos de telespectadores. Há até uma resposta padrão para isso.
A prioridade de transmissão do que ocorre no Plenário (onde as sessões começam às 14h) "democratiza" o acesso à visibilidade dos senadores na TV Senado. "Pediu a palavra na tribuna, aparece", diz Rollemberg.

Mas gera protestos de parlamentares que estão nas CPIs, principalmente num lugar cheio de gente vaidosa. "Às vezes um ou outro senador pede para a gente não focar o lado do rosto que tem uma espinha. Ontem [quarta-feira], o Renan [Calheiros, presidente do Senado] estava com conjuntivite. A gente não o enquadrou de perto, só de longe", revelou um operador de câmera, sob a condição de não ter seu nome revelado nem numa CPI.
 

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