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15/08/2005 - 19h20

Crítica: Com Autran, "Adivinhe quem vem para rezar" peca no texto

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

A mídia adora explorar o ódio de Paulo Autran, 82, pela TV e seu amor incondicional pelo teatro. Quando o ator estréia uma montagem, é obrigatório noticiar seu libelo contra o lixo das novelas. Disso, criou-se um mito: tudo que o veterano faz nos palcos deve ser uma obra-prima, pois ele tem tempo e experiência para descobrir os potes de ouro de sua arte nobre. Mas nem sempre Autran acerta na escolha.

Ana Ottoni/FI
Com texto fraco, nova peça de Paulo Autran não arrebata
Com texto fraco, nova peça de Paulo Autran não arrebata
Em "Adivinhe quem vem para rezar", que estreou na última quinta-feira no Teatro Procópio Ferreira, Autran se esforça para alimentar seu mito, mas o texto da peça, assinado por Dib Carneiro Neto, é fraco, monótono, repleto de lugares-comuns, incapaz de arrebatar o público. No fim, aplaude-se Autran --mais pela ficha corrida de sua carreira gloriosa.

Divulgação
Fontana se sai bem na peça com Autran
Fontana se sai bem na peça com Autran
A peça mostra o acerto de contas verborrágico de um filho com o amante de sua mãe, em plena igreja, antes do começo da missa de sétimo dia do pai, em um dia de chuvas e trovões. Autran divide o palco apenas com o ator Claudio Fontana, que se sai bem no papel do filho que suspeita da traição e se atormenta com isso desde os 12 anos.

Autran dá carisma ao senhor de bengala que tenta abrir os olhos do jovem conservador e recém-separado para a importância dos jogos de sedução em um relação amorosa. De forma superficial, a peça toca em questões como os conflitos de gerações, o relativismo da moral, o fracasso do sonho burguês de uma família perfeita e a alienação política.

O problema é que o texto esvazia esses conflitos com soluções de prateleira, de auto-ajuda. A abordagem é reducionista: no final das contas, os problemas da família e do mundo podem ser resolvidos com uma simples injeção de diálogo na veia. Por que há tantas guerras e traumas na vida? A culpa é só dos homens que não se comunicam?

Mas a produção é caprichada, com recursos cenográficos bem utilizados pelo diretor Elias Andreato. O cenário estilizado do altar de uma igreja, nos moldes de uma instalação, foi uma boa sacada. Também ajudou a quebrar a monotonia do tiroteio verbal o uso do som da chuva, raios e trovões para realçar a tormenta do filho e criar um clima de delírio.

Há também boas tiradas, mas são poucas. Em alguns momentos, chega-se a apelar para o lado histriônico de Autran, que sempre arranca risadas mesmo economizando nos gestos. Outro talento do consagrado ator, que vem de uma temporada bem-sucedida de "Visitando o Sr. Green", é sua dicção impecável, a segurança na condução do texto e o talento de pontuar com a elegância de um gentleman até frases chulas.

Pena que tudo isso só possa ser visto no teatro, por poucos. Embora a retórica de Autran contra a baixa qualidade da TV tenha algum fundo de verdade, isso não consola a geração que cultua sua participação na novela global "Guerra dos Sexos" (1983), como a cena clássica em que o ator e Fernanda Montenegro jogam uma torta na cara um do outro.

Serviço
Peça "Adivinhe quem vem para rezar"
Onde: Teatro Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, Cerqueira César, região oeste, tel. 3083-4475). Até 18 de dezembro
Capacidade: 671 lugares
Dias: Quinta e sexta (21h30), sábado (21h) e domingo (19h)
Duração: 90 minutos
Ingressos: R$ 60 (quinta e sexta), R$ 70 (domingo) e R$ 80 (sábado). Compra por telefone (2163-2000)

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