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29/08/2005 - 09h49

Mollica retrata o cinema da Boca no Festival de Curtas

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MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo

A montagem é a alma de "Seu Pai Já Disse que Isso Não É Brinquedo", que ganhou dez prêmios em sua carreira festivais afora. A estréia de Kiko Mollica na direção opta por uma narração que parte de imagens de câmeras de vigilância, câmeras caseiras e webcams para trazer a história algo corriqueira de um casal, Vamberto (Alexandre da Silva) e Jéssica (Geisi Lima).

A inventividade do diretor na construção de uma narrativa ficcional com imagens "apropriadas" --apesar de somente os registros da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) serem reais, os outros vêm das câmeras da produção-- coloca em discussão os limites entre o público e o privado na captação delas.

"Será que vale a pena pagar o preço de uma pretensa segurança em detrimento da nossa liberdade?", pergunta Mollica, 35, que, apesar do sério questionamento, dá ao filme um tom de humor, talvez uma das razões do seu sucesso junto ao público dos festivais onde foi apresentado.

"Muito da graça do filme vem das improvisações da Marcela [Rafea], que deu mais evidência ao papel da patroa da Jéssica." Iáskara, a patroa, faz uma marcação cerrada contra Jéssica, sua empregada doméstica, cujo namorado, Vamberto, um bandido menor, esconde um "brinquedo" no apartamento de classe média onde a companheira trabalha.

"Assim como os documentários, esse curta se resolve muito pela montagem. Captamos cerca de 250 horas de filmagens", afirma o diretor. "Mas isso não tirou a espontaneidade, já que boa parte das cenas foi gravada em locação, onde sempre aparecem surpresas."

Mollica acredita que a profusão das imagens obtidas por novas mídias vai acentuar ainda mais os limites da invasão da privacidade. "Hoje vai se tornando comum a captação de imagens por celular, por exemplo, e o avanço dessas novas tecnologias não pára. Isso sem contar o monitoramento dos filhos pelos pais pelo mesmo celular, por exemplo, o que aumenta a sensação de que estamos permanentemente sob observação."

Boca do Lixo

Já o curta documental "Soberano", que tem sua estréia nacional amanhã, pode ser visto como uma homenagem à geração Boca do Lixo empreendida por Mollica, que dividiu a direção com Ana Paula Orlandi, 35.

"Soberano" centra o seu olhar em Serafim Teixeira, dono do bar e restaurante Soberano, espécie de escritório informal de boa parte dessa cinematografia marginal brasileira do final dos anos 60 ao início dos 80.

Teixeira persistiu com seu estabelecimento na rua do Triunfo até meados dos anos 90, quando o movimento de cinema nas imediações já era quase nulo. Resolveu montar um lava-rápido e um estacionamento na avenida Nove de Julho, no Bexiga.

Mollica e Orlandi reconduzem "seu" Serafim ao espaço do antigo Soberano, agora transformado em loja de equipamentos eletrônicos de segunda mão. Apesar das fartas lembranças, o tom não é de amargor.

"Foi um trabalho bastante complicado reconstituir toda a história do Soberano, porque quem mais circulava por lá eram os técnicos, que são mais difíceis de localizar. Encontrados, se revelam ótimos contadores de histórias, cheias de detalhes", diz Mollica.

A busca de imagens de época e dos filmes também foi árdua, já que quase nada produzido naqueles anos foi sistematicamente guardado. "Alguns filmes estão na Cinemateca, em uma fila para restauração, outros estão com os diretores e muitos ninguém sabe se resistiram."

O diretor acha que muito dessa perda de memória vem pelo preconceito em relação às comédias eróticas, aos policiais e aos outros gêneros presentes nos títulos de apelo popular da Boca. "Diretores como o Carlão [Reichenbach] e o José Mojica [Marins] aprenderam tudo lá. Os filmes do Ozualdo [Candeias] têm uma grande ousadia", diz ele, que vê no modelo de produção daquela época um bom elemento na discussão atual sobre o financiamento de longas.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o 16º Festival Internacional de Curtas
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