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22/09/2005 - 15h57

Depois de "2 Filhos de Francisco", diretor vai filmar saga de Amyr Klink

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KARINA KLINGER
da Folha Online

Ao ouvir, pela primeira vez, alguém falar da idéia de trazer a história dos cantores Zezé Di Camargo e Luciano para as telas, o cineasta Breno Silveira, 41, não levou a sério o projeto.

Divulgação
O diretor Bruno Silveira optou por locações em Goiás
O diretor adiou projeto no Rio para filmar em Goiás
Mas, após ler a história de Francisco, pai dos dois cantores, roteiro de Patrícia Andrade e Carolina Kotcho, ele não teve dúvidas. Até adiou um projeto, em parceria com o escritor Paulo Lins, autor de "Cidade de Deus", para filmar "2 Filhos de Francisco", que está em cartaz nos cinemas.

Para não se perder em seu primeiro longa-metragem, porém, o diretor carioca tomou uma série de precauções. Apesar de estar acostumado a trabalhar com publicidade, com clipes e principalmente com a fotografia em cinema, Silveira, que não tinha contato íntimo com o gênero sertanejo e com o universo do caipira, fez um cursinho intensivo.

Quis saber tudo sobre o local onde a dupla nasceu, o trabalho na roça, e, após visitar a terra da dupla em Goiás, resolveu filmar o longa por lá. "Minha idéia era fazer com que tudo ficasse o mais real possível", diz.

Sócio da produtora Conspiração Filmes, no Rio de Janeiro, Silveira é responsável por alguns clipes, como o "Seguindo Estrelas", da banda Paralamas do Sucesso, e pelas fotografia de "Eu, Tu, Eles" e "Carlota Joaquina", entre outros trabalhos na área da publicidade.

Depois do longa sobre os artistas, Silveira voltará a pensar no projeto com Lins e deverá gravar a saga de Amir Klynk em uma viagem da África para o Brasil.

Leia abaixo trechos da entrevista que o diretor concedeu à Folha Online.




Folha Online - Que tipo de dificuldade você encontrou em seu primeiro longa-metragem como diretor?

Breno Silveira - Estava fazendo uma história real e tinha muito medo. Como não conhecia esse universo do interior, quis antes entendê-lo para não fazer algo falso. Senti que tinha de atrasar o filme até entender completamente esta cultura. No final, atrasamos as filmagens em três meses. Confesso que fui descobrindo o tom do filme aos poucos. Achava difícil um carioca fazer um filme tão sincero, sem saber nada sobre aquele universo.

Folha - E essa vontade de fugir ao ficcional se concretizou na prática?

Silveira - Tentei ser sincero com a história. Estava sempre checando as informações com a família. O engraçado é que todos os momentos mais improváveis do filme são verdadeiros. As coisas que estão na tela são fruto da realidade deles. O que parece surreal é real.

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Silveira e o ator Dablio Moreira nos bastidores de "2 Filhos de Francisco"
Silveira e o ator Dablio Moreira em "2 Filhos de Francisco"
Folha - Como foi o trabalho de edição?

Silveira - Fiquei perdido na edição. Comecei a descobrir que muita coisa não seria incluída nas duas horas do filme. Tenho seqüências inéditas maravilhosas para mostrar. Como tenho muito material extra, devo incluí-lo no DVD, ainda sem data para ser lançado. Um deles é quando Zezé perde o irmão mais novo em um acidente de carro. Antes de voltar a tocar, ele começa a se apresentar em uma casa de prostituição. Ele é um moleque, com apenas 14 anos, mas enfrenta aquele mundo desconhecido de uma maneira extraordinária.

Folha Online - E a repercussão da crítica e das pessoas, você se espantou com o retorno tão positivo do filme, afinal em dez dias a produção já conquistou quase um milhão de espectadores?

Silveira - Não imaginava que isso fosse acontecer. A aceitação da crítica realmente me surpreendeu. Mas eu acho que o filme é honesto. Quem não enxerga isso não tem coração. Não fui pretensioso de fazer um filme só para a crítica ou para o público. O que me atraiu no projeto foi a história. Não aceitei simplesmente porque se tratava dos dois, uma dupla famosa, em nenhum momento.

Folha - Você acha que ajudará a quebrar o preconceito contra o gênero sertanejo com este filme?

Silveira - Não tenho esse tipo de pretensão. Eu acho que muita gente pode dar uma olhada diferente na música após assistir ao filme. Mas este não foi o meu objetivo. Não foi uma encomenda para quebrar o preconceito. Até eu, no começo, fui um dos que não acreditaram no projeto.

Folha - O seus conceitos mudaram após o longa?

Silveira - Nunca tive preconceito contra música, mas confesso que não estava acostumado com o gênero sertanejo. Não tinha nenhum disco em casa. Talvez, um único de clássicos do sertão, porque meu tio me deu. Conhecia "É o Amor", mas pouco. Quando comecei a entender esta cultura, o filme foi me transformando. Aprendi a entender a sua beleza. Às vezes, em um gueto, de longe, fica complicado olhar para outro mundo. Hoje o próprio Zezé brinca dizendo que eu sou o carioca mais caipira que ele conhece.

Folha - E chegou a ouvir dos colegas cineastas comentários infelizes por causa do preconceito?

Silveira - Sim. A roda dos meus amigos, no Rio, tinha preconceito contra esse tipo de música. Alguém sempre virava o nariz ao me ouvir falar. Quando me perguntavam o que você está fazendo, sentia o preconceito. Eu me senti quase o tempo inteiro e ainda me sinto nadando contra uma corrente. Isso até as pessoas verem o filme. Muita gente acha que entrei para fazer um dinheirão, mas entrei pela história. Se ia ter mais público ou não, eu não sei. Acho até que se tivesse colocado os caras [Zezé e Luciano] cantando em mais cenas, teria mais apelo comercial. O ser honesto talvez tenha sido considerado comercial no meu caso. Mas muita gente dizia ironicamente: "você vai começar a carreira com um filme assim". A Conspiração estava pronta para me lançar, eu tinha opção de escolher um roteiro e tinha até um com o Paulo Lins , que narra uma espécie de amor bandido. Resolvi, porém, começar com "2 Filhos de Francisco".

Folha - Você trouxe algo da publicidade para o filme?

Silveira - Neste filme, tentei ser mais honesto com a realidade. Para a fotografia, quis dar um tom realista. Falando de um lugar muito pobre, humilde, não dava para fazer algo artificial. O som, por exemplo, é o original. Até regravei os meninos, mas, no final, vi que eles cantavam muito. Quando eles estavam filmando, eles aprenderam a tocar os instrumentos. Toda a incerteza na cena da rodoviária é maravilhosa. Acho que seria leviano trocar as falas e colocar tudo dublado. Não houve nem playback, foi tudo ao vivo.

Folha - Por que demorou tanto para estrear como diretor?

Silveira - Queria me sentir mais seguro. Ao passar por uma série de diretores, senti o que realmente acontece, o que pode dar errado. Tive essa chance trabalhando com fotografia. Na primeira montagem do filme, quando mostrei para a Columbia Pictures, achei que estava uma droga. Eu estava tão fechado em meu nicho que não sabia o que estava sendo feito.

Folha - Parece que você chegou a se acidentar no começo das filmagens, o que aconteceu?

Silveira - Um dia antes das gravações, resolvi ir para locação e alguém passou puxando um cavalo. Na hora, pulei. Ele correu e acabei caindo. Na queda, quebrei o braço. Tive de fazer fisioterapia. Isso me afastou um pouco do set. Com o braço engessado, não podia pegar na câmera. E eu gosto de fazer esse tipo de trabalho. O acidente, porém, acabou me dando uma concentração extra com os atores. E "2 Filhos" não ficou aquele tipo de filme que você sabe que foi feito por um fotógrafo. Queria mesmo um filme de atuação.

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Cena de "Eu, Tu, Eles", um dos trabalhos de fotografia do diretor
"Eu, Tu, Eles", um dos trabalhos de foto do diretor
Folha - Você não acha que o cinema nacional continua apostando em uma mesma fórmula e isso esteja cansando o espectador?

Silveira - Eu acho que durante anos o cinema apostou em uma fórmula de sacanagem, achando que iria dar certo e não deu. Depois do "Carlota Joaquina", a qualidade foi subindo muito rápido. Acho que estavam faltando roteiros diferenciados. Mas não acho que temos de apostar em uma única fórmula. Todas elas são saudáveis. Ver a nossa cultura na tela é importante. É muito chato ficar vendo só coisas estrangeiras. O ideal é não se prender a uma fórmula específica, mas acho que conseguimos ultrapassar essa barreira.

Folha - Como foi trabalhar com um orçamento de mais de R$ 6 milhões, afinal há alguns anos isso era pouco provável no cinema nacional?

Silveira - O nosso orçamento subiu na finalização, mas basicamente foi de R$ 6,3 milhões. Eu não queria que ficasse caro demais, porque queria algo sincero. O que encareceu foi a minha opção de querer filmar no local. Era mais fácil alugar uma fazenda no Rio de Janeiro e filmar tudo por lá. Mas pensei como seria filmar na própria casa, igreja, parquinho, freqüentados pela dupla? Aquilo sairia mais caro, mas iria dar uma alma diferente ao filme. Na Conspiração, existe uma regra: não podemos estourar o orçamento. Mas fiz de tudo para gravar no interior de Goiás. Por causa da opção, tive de usar menos negativo, não pude levar toda a minha equipe e a quantidade de gruas que precisava, mas foi compensador.

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Cena de "Dois Filhos de Francisco"
Dablio Moreira e Marcos Henrique em "2 Filhos de Francisco"
Folha - Quanto de bilheteria é preciso para o filme lucrar?

Silveira - É difícil lucrar com o cinema. A gente até viu várias bilheterias que estouraram, mas acho que este filme deve dar algum retorno. Mas eu não filmei com este dólar barato. Se conseguir R$1,5 milhão, é um bom começo. O engraçado é que os números deste filme são surpreendentes. "2 Filhos" está reagindo diferente. As bilheterias mais polpudas acontecem nos dias de semana.

Folha - Está envolvido com novos projetos?

Silveira - Além do filme com Paulo Lins, que retrata a história de uma garota de classe média que se apaixona por um traficante, estou esperando um roteiro do Fernando Bonassi sobre a viagem de Amyr Klink na travessia da África até o Brasil.

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