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25/09/2005 - 10h54

Mostra reúne olhar gringo sobre o Brasil

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

"O Brazil não conhece o Brasil", diz a música de Maurício Tapajós e Aldir Blanc. Mas ele tenta. "Brasil com Z", uma das mostras do Festival do Rio, reúne oito filmes sobre a música, a pobreza, a beleza, a violência e outras tradições nacionais. Denunciados, confirmados ou um pouco de cada, clichês perpassam as produções.

Não por acaso, o único dos filmes cujo diretor é brasileiro trata exatamente dos clichês. Partindo do livro "O Brasil dos Gringos", de Tunico Amâncio, Lúcia Murat fez o documentário "Olhar Estrangeiro" como uma "pequena vingança" contra o tratamento à base de estereótipos que o país recebe do cinema mundial.

"Procurei entender como esses clichês se desenvolveram na cabeça das pessoas que fizeram os filmes. Há os que sabem que tudo era clichê, mas outros não têm a menor idéia do que seja o Brasil. Isso propicia cenas engraçadas para nós, brasileiros. O filme é crítico e divertido", afirma Murat.

Até um ator inteligente como Michael Caine, astro de "Feitiço do Rio" (1984), escorrega e diz não saber que Carmen Miranda era brasileira. Já Hope Davis, atriz de "Próxima Parada, Wonderland" (1999), filme em que um brasileiro fala espanhol, não consegue ir além de clichês como praias e topless ao falar do país.

Robert Ellis Miller, diretor de "Brenda Star" (1988), que se passa supostamente na Amazônia, não se constrange ao explicar por que os nativos falam espanhol no filme: "A maior parte da região [América Latina] fala espanhol e é assim que o estúdio decide".

"Alguns reagiram às perguntas dizendo que a nossa indústria de turismo também vende uma imagem estereotipada, o que é verdade. É uma forma de vermos qual é o nosso papel nisso", diz Murat, que fez as entrevistas em festivais de que participava no exterior.

Um dos entrevistados, Zalman King, diretor de "Orquídea Selvagem" (1990), diz que sua visão exótica do Brasil foi influenciada por "Orfeu Negro" (1959). O filme do francês Marcel Camus, Palma de Ouro em Cannes e Oscar de filme estrangeiro, é tema de "Em Busca do Orfeu Negro".

O documentário de René Letzgus e Bernard Tournois inverte o olhar e colhe depoimentos de brasileiros como Cacá Diegues, Gilberto Gil e Milton Nascimento para registrar como "nós" encaramos esses estereótipos.

Protagonista de "Orfeu da Conceição", a peça de Vinicius de Moraes que deu origem a "Orfeu Negro", Haroldo Costa é o narrador de "Samba no Pé", documentário de argentino Eduardo Montes-Bradley sobre o gênero.

"O resultado é muito honesto, porque faz um painel desde os navios negreiros até os dias de hoje. Não é um filme deslumbrado, de gringo", apóia Costa, autor de vários livros sobre samba.

Outro gênero nascido aqui, o choro é o tema de "Brasileirinho", do finlandês Mika Kaurismäki. A música também é a estrela de "O Milagre do Candeal", registro do espanhol Fernando Trueba da visita do pianista cubano Bebo Valdés a Salvador. Carlinhos Brown funciona como anfitrião.

Em "Maria Bethânia: Música É Perfume", há poucas novidades para os brasileiros. O diretor suíço Georges Gachot faz um filme de admirador, procurando contar, para quem não a conhece, quem é Bethânia. Entre os entrevistados, Chico Buarque e Caetano Veloso.

Os dois filmes mais "sociais" do conjunto têm cenário parecido e abordagens diferentes. "Favela Shakespeare", da inglesa Kristiene Clarke, registra uma leitura de "Antonio e Cleopatra" em 2004 na fronteira entre Vigário Geral e Parada de Lucas. A guerra parou para a peça e, depois, continuou.

Já "Favela Rising" se concentra em Vigário para mostrar a violência do tráfico de drogas e da polícia no Rio, além das saídas encontradas pelo Grupo Cultural AfroReggae. O documentário usa muitos efeitos tecnológicos, evocando o filme "Cidade de Deus".
 

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