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26/03/2009 - 18h06

Leia íntegra do chat com Alcino Leite Neto sobre desfiles de moda

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da Folha Online

O jornalista Alcino Leite Neto, 49, editor de Moda da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (26) sobre os últimos desfiles internacionais que acompanhou.

Participaram do bate-papo 68 pessoas.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

Bem-vindo ao Bate-papo com Convidados do UOL. Converse agora com o jornalista Alcino Leite Neto sobre as novidades apresentadas nas temporadas internacionais de moda que acaba de acompanhar. Para enviar sua pergunta, selecione o nome do convidado no menu de participantes. É o primeiro da lista.

(05:01:46) alcino: Boa tarde a todos!

(05:02:05) Babalu fala para alcino: Oi Alcino! O que voce destaca da semana de paris?

(05:03:09) alcino: Babalu, destaco a tremenda falta de novidades, um recuo criativo grande e a tentativa das grifes de serem bem pragmáticas, em vista da crise econômica.

(05:04:00) Crazy fala para alcino: Oi Alcino, queria saber qual foi o melhor desfile que viu nesta temporada e pq, obrigada! beijos

(05:05:42) alcino: Crazy, apesar de tudo, houve alguns desfiles muito interessantes. Eu destaco a Calvin Klein, que fez uma ótima pesquisa de têxteis, a Marni, que fez prints muito charmosos, e sobretudo a Jil Sander, talvez a melhor coleção, que arriscou bastante com suas construções esculturais.

(05:05:53) Aline fala para alcino: Você não acha que a crise está sendo usada como pretexto para a falta de criatividade dos estilistas? Acho que antes da crise estourar a moda já estava vivendo um grande perído de marasmo. Você não concorda?

(05:07:51) alcino: Aline, concordo em parte, a alta moda, como dizem, precisa de uma reciclada. O prêt-à-porter, ele mesmo, vive uma crise de conceituação. Mas o fato é que há muitos estilistas "de vanguarda", que não são favorecidos pelo clima conservador que se espalha quando o dinheiro começa a ficar curto.

(05:08:16) Luxuria fala para alcino: Alcino, fico me perguntando se vale a pena comprar umas putas roupas de frio se, graças ao aquecimento global, eu nem vou conseguir usar...me pergunto se os estilistas levam em consideração isso na hora de criar

(05:10:31) alcino: Luxuria, tem que pensar em termos de situação do consumidor. Evidentemente, aqui no Brasil você não vai comprar Aquele Casaco Imenso e Luxuoso da Lanvin, porque nem tem como usar. Mas na Europa tem. E o aquecimento global de fato existe, mas, por exemplo, eu peguei um superfrio nesta temporada em todas as cidades, durante 30 dias. Hoje existe também esta idéia de você vestir "por camadas". Então você acrescenta as peças conforme o clima e conforme a necessidade (se uma festa, se apenas trabalho, se uma hora de lazer...)

(05:10:58) All AN fala para alcino: Alcino, diante das últimas coleções que você chegou a ver, qual a principal proposta que os criadores tem apresentado para os dias de hoje?

(05:14:18) alcino: All AN, as propostas são inúmeras, hoje há uma diversidade muito grande de estilos. Até mesmo numa só coleção você vê a grife gravitar em vários territórios. Acho que a idéia mais marcante da última temporada foi definida pelo Lagerfeld: "nova modéstia". Tem que relativizar o que ele entende por modéstia, claro, porque é um sujeito do luxo e da Chanel. Mas, em outras palavras, as grifes estão amenizando a ostentação e trabalhando com looks mais discretos, nos quais a criatividade atua nos detalhes, na construção arquitetônica, por exemplo.

(05:14:48) Aline fala para alcino: Dentre as semanas de moda de Paris, Milão, Londres e Nova York, qual trouxe mais novidades e te empolgou mais?

(05:17:39) alcino: Aline, a semana de moda de Nova York não foi ruim, parecia que não tinha caído a ficha da crise, então teve de tudo, como antes. A de Londres estava bem minguada, já que teve os dias reduzidos e perdeu muitos jornalistas e estrelas internacionais. E as coleções pareciam feitas por estilistas um tanto acuados. A de Paris foi bonita, mas sem a exuberância dos últimos tempos. A de Milão foi a que mais me agradou, no conjunto. Parecia que as grifes estavam reagindo com mais força à situação, houve um equilíbrio bom entre luxo, contenção, esforço criativo e até humor nas coleções.

(05:18:09) Fabiola fala para alcino: queria saber se na hora de escrever os jargões do mundo da moda não atrapalham na compreensão do leitor...como fazer jornalismo de moda de qualidade?

(05:21:11) alcino: Fabiola, toda atividade jornalística tem seus jargões, a moda inclusive. São inúmeros e alguém que chega de outra área primeiro se encanta com eles e depois descobre que eles são repetidos à exaustão, até o ponto de não significarem nada. O grande desafio é encontrar as palavras certas e novas para definir os estilos, os movimentos do momento, o gosto. Porque uma coisa são os jargões, outra são as palavras técnicas, que definem com precisão as roupas, os tecidos, as silhuetas. Acho que um jornalismo de qualidade começa com um olhar livre e crítico e continua na capacidade de encontrar a expressão clara, precisa e original.

(05:21:53) PaulaFMartins fala para alcino: Boa tarde Alcino! O que você acha do jornalismo de moda no Brasil atualmente? Acha imprescindivel o diploma de jornalismo ou uma formação em moda?

(05:24:41) alcino: Paula, acho que o jornalismo de moda está se aprimorando, como a própria moda do país. As duas coisas vão juntas. Se você tem uma moda mais exigente do ponto de vista criativo e um mercado de moda mais consolidado, isso obriga o jornalista a se preparar melhor. Não acho imprescindível o diploma para ser um bom jornalista (embora eu mesmo tenha cursado jornalismo), mas acho importante uma "prática formativa", um período de formação dentro da própria mídia. Ninguém nasce sabendo jornalismo. Sobre formação em moda, acho que quanto mais cursos a pessoa fizer, melhor para ela. Também quanto mais ela ler sobre o assunto, numa atitude de estudo, e não apenas de leitura de final de semana, tanto melhor também.

(05:25:24) All AN fala para alcino: Alcino, como você encarra o grau de satisfação do brasileiro com a moda local, vcê considera que somos bem supridos das nossas nessecidades urbanas e climaticas ou ainda existe coisa a ser repensada e criada?

(05:28:28) alcino: All AN, é uma boa pergunta, mas difícil de responder, porque "o brasileiro" na verdade é uma multiplicidade de gente! Vamos imaginar, então, o consumidor de moda brasileira, mesmo, que são poucos. Tenho a sensação de que as melhores grifes estão atentas às necessidades locais, elas já não se pensam mais como grifes "européias" aclimatadas no Brasil. Mas ainda falta fazer muito para o design brasileiro ter um impacto social, porque os preços são altíssimos, acho.

(05:28:46) Jujuba fala para alcino: com esse "boom" da cultura indiana por causa do filme do Milionario lá (e aqui no Brasil com a novela Caminho das Indias), isso repercutiu na moda? queria que voce me desse exemplos de marcas ou coleções que usaram essa influencia

(05:32:20) alcino: Jujuba, a Índia já influenciou a moda muitas vezes, não vou me lembrar agora do passado. Mas, nos últimos desfiles, não houve quase nenhuma influência indiana nas coleções. A Dior fez uma coleção linda, com temas orientalistas, que tinha algo, mas foi algo pontual. Creio que o filme não caiu muito nas graças do povo da moda. E a novela, que poderia influenciar no Brasil, estreou depois das temporadas nacionais. Mas penso que a Índia, por ser hoje um dos principais mercados emergentes deve acabar chamando a atenção dos estilistas novamente. Ah, me lembrei agora de uma grife indiana que desfila em Paris e fez uma coleção muito interessante, embora mais para o espetáculo do que para você usar no dia-a-dia. É a Manish Arora.

(05:33:19) All AN fala para alcino: Alcino, qual o seu criador em atividade favorito? E qual a peça que você guarda com carinho especial na sua "coleção"?

(05:35:44) alcino: All AN, tenho vários criadores favoritos (vou citar só os estrangeiros): Raf Simons (para a Jil Sander), Francisco Costa (para a Calvin Klein), as grifes Prada, Alexander McQueen, Marni. Vou incluir agora a Missoni, que fez um desfile deslumbrante em Milão. A minha peça favorita é uma camiseta supernova do Hell's Club, um lugar genial que tinha nos anos 90 na rua Estados Unidos.

(05:36:02) Lucy in the sky... fala para alcino: sobre os jargões, o que seria "prêt-à-porter"?

(05:38:47) alcino: Lucy, prêt-à-porter, literalmente, é "pronto para vestir" e no vocabulário da moda designa uma nova fase industrial da moda, quando os estilistas de alta costura (no final dos anos 50) decidiram produzir roupas em série, com preços mais acessíveis e com alguns requintes criativos. Mas quem é bom de definições é o Marco Sabino, autor do ótimo "Dicionário da Moda", um livro que vale a pena ter, e que infelizmente não está do meu lado, para eu copiar. Heheheheh!

(05:39:08) All AN fala para alcino: O que você tem a dizer aos estilistas que criam as ditas "camisetas divertidas" ? Você acha essas peças criativas?

(05:40:26) alcino: All AN, acho que algumas camisetas são realmente criativas. A camiseta é um peça genial, ainda mais no Brasil. Mas sinto que muita gente só trabalha a estampa, e não a forma e a silhueta. Então, muitas vezes, a camiseta não é de fato o trabalho de um estilista, mas de um ilustrador.

(05:40:50) Aline fala para alcino: Gostaria de saber sua opinião sobre os blogs de moda especificamente. Nos últimos tempos eles tem crescido bastante e alguns até conseguiram bastante prestígio jornalístico, cobrindo os principais eventos de moda. Qual a importância desses blogs hoje para o jornalismo de moda?

(05:45:45) alcino: Aline, toda vez que eu falo de blogs ou eu faço uma reportagem com alguém falando de blogs, a coisa vira uma controvérsia maluca. Os blogueiros não deixam passar uma! (rs). Quando eu comecei como jornalista de moda, acho que há uns quatro anos (parecem quatro décadas), os blogs eram muito primitivos, não sabiam o que queriam, falavam de tudo e de nada. Agora, penso que eles estão amadurecendo, no bom sentido, e alguns têm encontrado o melhor caminho. Minha reclamação é sempre a mesma, ainda: muitas vezes, você vê um blog repetir a notícia de outro, acrescentando duas ou três impressões. Acho que, se a pessoa tem MUITO interesse em seu blog, ela deveria encontrar um caminho que ninguém está seguindo, buscando aprofundar um pouco os assuntos, trazer notícias que ninguém trouxe, e fazer valer, sobretudo, as regras jornalísticas clássicas: escrever com liberdade e apurar bem as notícias. Veja você que vergonhoso foi esta história de que a loja do Carlos Miele estava fechando. Um blog americano publicou, erradamen

(05:46:45) alcino: faltou o final da frase> Um blog americano publicou erradamente, e de repente a notícia equivocada estava em vários sites e blogs. Ele tinha fechado a loja só naquele dia, para uma filmagem.

(05:47:04) Lucy in the sky... fala para alcino: Alcino, hoje em dia há muitos estilos e formas de se vestir, além de vários biótipos de corpo. O que mais influencia o estilista na hora de criar? Você acha que ele leva em conta essas diferenças? Ou cria para um público específico? Assim, a moda se adapta ao consumidor ou o consumidor se adapta à moda?

(05:51:11) alcino: Lucy, acho que cada estilista tem um processo criativo diferente, mas todos estão interessados num dois objetivos: venderem e serem famosos. Naturalmente, cada um conhece o seu público majoritário. Portanto, Valentino vai fazer um tipo x de roupa, que é diferente da roupa que faz a Prada. E isso é também levado em conta pelo estilista, mesmo porque ele não pode ficar trocando de time o tempo todo, porque corre o risco de descaracterizar a sua grife e perder o público que já lhe é fiel. Quanto à adaptação da moda ao consumidor, acho que é uma via com duas mãos. Num mundo ideal, em situações ideais, os consumidores, sobretudo as mulheres, sabem que ao mesmo tempo em que as grifes precisam fazer o que elas querem vestir, elas próprias devem arriscar a vestir o que as grifes propõem. Do contrário, caímos no total marasmo fashion. Os melhores estilistas funcionam um pouco como xamãs de novos tempos.

(05:51:42) Rog fala para alcino: Voce que é tao viajado por causa da moda; nos diga como é vista a moda Brasileira la fora, em geral, um todo....?

(05:54:36) alcino: Rog, por conta da moda viajo muito, mas sempre para os mesmos lugares: Nova York, Londres, Milão e Paris, nesta ordem. Bem, no exterior, apenas alguns poucos jornalistas bem informados conhecem alguma coisa da moda brasileira, e sempre citam os mesmos nomes, os que têm mais repercussão no exterior. O restante das pessoas demonstra estima pelo Brasil, e até pelo nosso jeitão, mas não conhece nada. Quando perguntados, eles dizem genericamente: "acho o Brasil sexy". "Sexy" é uma palavra-chave para qualificar o Brasil no exterior. Pode ter conotação positiva ou negativa, depende. Em todo caso, é algo que não devemos desprezar.

(05:54:42) Aline fala para alcino: O que você achou da mudança de conceito nessa nova coleção da Balenciaga? As últimas coleções tinham um forte apelo futurista e agora Ghesquiere resolveu optar por drapeados e formas clássicas. Será um efeito da crise?

(05:57:12) alcino: Aline, acho que, no caso, a crise influencia pouco, porque o que vende mesmo da Balenciaga não são aquelas coleções "futuristas" que ele mostra, mas as coleções intermediárias, vamos dizer assim. E tenho a sensação que não vende tanto, quero dizer, não vende como um Armani, entende? Acho que Ghesquière quis apenas surpreender. Ele já fez "futurismo" duas, três vezes, era o previsível. Ele é um sujeito inteligente e culto, conhece muito a história da moda. Sua coleção é quase exibicionista do ponto de vista deste conhecimento.

(05:57:43) Antenada fala para alcino: Alcino, boa tarde, vc acredita q o xadrez vai pegar neste inverno em calças ( estilo holandês)?

(05:58:07) alcino: Antenada, posso estar errado, mas acho que não.

(05:59:09) All AN fala para alcino: Alcino, para você o que é estar na moda? E quem é uma persoanlidade que usa bem esses conceitos?

(06:00:37) alcino: All AN, agora você me pegou. Já pensei muito sobre isso, mas não cheguei a nenhuma conclusão. Acho que, hoje, estar na moda talvez seja demonstrar livremente a sua criatividade na hora de vestir.

(06:02:56) alcino: Tiago, acho interessantíssima. Ela faz uma linha cool-descolada. Achei particularmente genial ela posar para a foto oficial com o vestido sem mangas, mostrando o biceps. Você sabe que um dos grandes "traumas" das mulheres de meia idade é mostrar os braços? Naturalmente, Michele Obama tem belos braços, construídos por muita ginástica, mas o efeito liberador dos braços nus vai além disso.

(06:03:34) alcino: Onde foi parar a última resposta para o Tiago? Cliquei e não apareceu!

(06:05:27) alcino: Vou repetir: acho interessantíssimo o modo de ela vestir, ela faz um tipo cool-descolada. Gostei particularmente do vestido sem mangas que ela usou para a foto oficial. Deu uma grande polêmica nos EUA. Você sabia que um dos "traumas" das mulheres, a partir de certa idade é mostrar os braços nus? É claro que Michele Obama tem belos braços, construídos à base de muita ginástica. Mas o efeito liberador da foto e do look vai além disto...

(06:06:05) alcino: Bem, pessoal, o papo está ótimo, mas tenho que continuar o fechamento da revista Moda. Grato pela participação. Voltem sempre! Abrações!

(06:06:11) Moderadora/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Alcino Neto e de todos os internautas. Até o próximo!

 

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