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14/10/2005 - 17h39

Boate do Joelma vai "espantar" superstição com forró e axé

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Era para ser uma boate gay luxuosa e sofisticada, mas não deu muito certo. Talvez por causa da superstição: a casa noturna fica em um edifício marcado pela tragédia, onde em 1974 um incêndio deixou mais de 180 mortos e centenas de feridos. Agora, um mês após a inauguração, o dono do empreendimento quer "espantar" preconceitos e a baixa freqüência do lugar mudando o foco do projeto. Em novembro, vai promover festas de axé music e forró com o objetivo de atrair um novo perfil de público, mais heterossexuais.

Divulgação
Lust desiste de focar só no público GLS
Lust desiste de focar só no público GLS
A Lust Club fica no térreo do edifício Praça da Bandeira (av. Nove de Julho, 225, centro), mais conhecido como Joelma, de 25 andares, palco da maior tragédia do gênero da história de São Paulo, ocorrida no dia 1º de fevereiro de 1974. Ainda hoje, o local povoa a imaginação coletiva: sites de lendas urbanas contam que, nos tempos da escravidão, o terreno era um pelourinho, e fantasmas assombram seus corredores.

"Esse mistério torna o lugar mais atraente para o público underground. Isso dá um charme. Nunca tive tanta mídia espontânea. Acredito em Deus, na Bíblia. Morreu, acabou, virou pó. Não acredito em almas vagando", diz o dono da Lust, Enilson Pestana, 48, mais conhecido como Nilsinho, com 11 anos de experiência na noite paulistana.

Divulgação
Para atrair mais público, boate vai ter domingo de axé e forró
Para atrair mais público, boate vai ter domingo de axé e forró
Ele admite que a atual média de freqüência da Lust (700 pessoas) está bem abaixo da capacidade da casa (3.000). A casa só abre aos sábados, e a pista maior (2.500) só funciona em eventos especiais. Ele já trocou a equipe responsável pela promoção das festas e até a hostess (recepcionista): tirou a drag Marcelona e colocou a própria mulher na porta da boate, a modelo Nádia Augusto.

A mudança mais radical está a caminho. No próximo mês, a casa vai abrir também aos domingos. Nada de música eletrônica --como vai continuar acontecendo aos sábados-- nem de DJs tocando estilos estrangeiros como house, techno, trance e drum & bass.

"Vou fechar com bandas de forró. Também terá axé music. Quero aproveitar ao máximo esse espaço. O grande erro hoje é achar que o público gay é uma mina de ouro. Não é um pessoal que gasta tanto quanto se imagina", afirma Pestana.

A casa abriga, por exemplo, o concurso que vai escolher a nova morena do "É o Tchan", grupo baiano de axé. A Lust era o primeiro projeto do empresário na noite gay. No passado, ele participou, por exemplo, da administração da extinta boate Donna, que ficou conhecida como a "boate da Adriane Galisteu".

Héteros em reduto GLS

Sobre o fenômeno da "invasão" dos heterossexuais em lugares GLS, Pestana tem uma teoria: "Para fugir do assédio dos homens, as mulheres passaram a freqüentar boates gays. Elas querem dançar em paz com as amigas, sem ninguém babando no vestido. Os homens descobriram isso e foram também nessas baladas."

1.fev.1974/Folha Imagem

Incêndio do edifício Joelma matou 188 em 74
De olho nesse comportamento, o empresário decidiu colocar as chamadas "gogo girls" (dançarinas em trajes sensuais) na pista, a fim de atrair o público masculino hétero. No início, quando apostava na proposta GLS, a Lust só exibia "gogo boys".

Pestana estima que a Lust representa um investimento de R$ 700 mil. Ele evita demonstrar preocupação com a baixa freqüência do local e críticas. O portal GLX, voltado para o público gay, noticiou, por exemplo, ter recebido queixas de internautas que foram à noite de estréia ("O espaço é escuro demais, o ar-condicionado não foi suficiente, e a cerveja é quente").

"Não abuso no preço das bebidas. Não cobro R$ 15 por uma dose de vodca, pois todo mundo sabe que uma garrafa de Smirnoff custa isso. O retorno de uma casa demora oito meses a um ano. A The Week e o Vegas só emplacaram após três meses de funcionamento", afirma Pestana.

Ele reconhece que "São Paulo não comporta mais do que três grandes boates" voltadas para o chamado público "moderno e alternativo". A concorrência não pára de crescer. Até o final deste mês, deve ser inaugurada a Central Club, boate do empresário Sergio Kalil [que dirigiu a extinta boate Level], no espaço do antigo Cine Paissandu, no largo do Paissandu, também na região central. "Todo mês ele diz que vai inaugurarar. Agora, está marcado para o próximo dia 22", afirma Pestana.

"Boates vão fechar"

Ele diz que o prefeito José Serra (PSDB) estimula a abertura de empreendimentos de lazer no centro. "Em todo mundo, a noite ferve no centro. O Andrea Matarazzo [subprefeito da Sé] quer discutir incentivos com os empresários, como a isenção do ISS [Imposto sobre Serviços]."

Na avaliação de Pestana, o fechamento de casas sem alvará de funcionamento também é uma forma de ajudar o setor. "Neste final de semana, algumas casas irregulares serão fechadas."

Questionado sobre a segurança do ex-Joelma, o empresário responde sem pestanejar: "É o prédio mais seguro de São Paulo." Ele diz que existem 22 extintores na Lust e três saídas de emergência.

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