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Livro faz compilação de resenhas de Nick Hornby
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JOCA REINERS TERRON
Especial para a Folha
O escritor britânico Nick Hornby pensou estar com a sorte grande ao ser instado a escrever sobre as suas leituras mensais pelo comitê editorial de uma das revistas mais bacanas do mundo, a norte-americana "The Believer", mas estava errado.
Jeff Christensen/Reuters |
Nick Hornby, autor de "Frenesi Polissilábico", coletânea de resenhas que sai no Brasil |
A primeira imposição feita pelo "Frenesi Polissilábico" (apelido por ele dado aos editores, parodiando o nome da multitudinária banda The Polyphonic Spree, "o frenesi polifônico") foi a de que ele só poderia escrever resenhas positivas. "Não esculhambeis o próximo" era o único mandamento a ser obedecido. Mesmo com esse revés, nem sempre respeitado, aos olhos de qualquer crítico da imprensa a missão do britânico parece invejável: Hornby poderia escrever apenas sobre livros escolhidos por ele próprio.
A estrutura da coluna "Coisas que Andei Lendo", que ainda existe (o livro publicado agora pela Rocco reúne apenas colaborações realizadas entre setembro de 2003 e junho de 2006), é enganosamente simples. No cabeçalho, Hornby lista à esquerda os livros comprados no mês anterior, e à direita os livros efetivamente lidos no mesmo período. Raramente essas listas coincidem e, em diversas ocasiões, os títulos listados saem das populosas prateleiras compostas muito antes de a coluna nem sequer existir.
Hornby optou por não criar uma terceira lista, a de cópias promocionais enviadas pelas editoras, mas talvez devesse fazê-lo: mesmo com sua compulsão leitora, é pouco provável que ele ainda precise de fato comprar algum livro.
Logo na introdução, o colunista dá indícios das dificuldades de se avaliar livros após uma primeira leitura rápida feita sob o hálito vencido de editores assoviando na nuca:
"No início de minha carreira literária, escrevi resenhas sobre muitas ficções, mas eu tinha que fingir, como todo crítico, que eu havia lido os livros fora do espaço, do tempo e do self; ou seja, tive de fingir que não os tinha lido quando estava cansado e irritado, ou bêbado, que eu não senti inveja do autor, que eu não fazia mais nada da vida, que não tinha estética, gosto ou problemas pessoais, [...] acima de tudo, eu tinha de fingir que não escrevera a crítica para sair da pindaíba e descolar uma grana."
Prazer de ler Dickens
Pois muito bem. Em "Frenesi Polissilábico", como não poderia deixar de ser, Hornby ainda escreve sob algumas das condições expostas no parágrafo anterior --afinal, ainda está vivo, e da mesma forma o deadline o aguarda no final do mês--, porém se diverte, a ponto de nem sempre falar de livros, ou então de redescobrir o prazer de ler Dickens (em geral excluído das pautas ultracontemporâneas dos suplementos de livros).
Em diversos momentos também é dada ao leitor a dádiva de se divertir, como no momento em que, às vésperas de ser pai, Hornby permite-se comprar verdadeiras montanhas de livros, pois teme nunca mais ter a chance de fazê-lo. Aspecto talvez menos divertido é verificar em "Frenesi Polissilábico" os hábitos leitores dos anglo-saxões: entre mais de cem títulos lidos por Nick Hornby, apenas algumas cartas de Flaubert e Tchekov, um romance do israelense Amós Oz e outro do espanhol Javier Cercas são obras traduzidas, o que indica leituras nem tão polissilábicas ou frenéticas assim.
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de "Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da Palavra).
FRENESI POLISSILÁBICO
Autor: Nick Hornby
Tradução: Antônio E. de Moura Filho
Editora: Rocco
Quanto: R$ 33 (264 págs.)
Avaliação: bom
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