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26/10/2005
-
10h18
PAULO SANTOS LIMA
Colaboração para a Folha de S.Paulo
A horas tantas de "Election", macacos assistem, assustadíssimos, a uma mulher sendo assassinada aos berros por um homem, o mesmo que minuto antes deu cabo de seu marido a pedradas. Não só chocados pela selvageria extrema, o que nos diz esta cena é que esses primatas parecem não compreender o que rege aquela imagem dantesca que fala, na verdade, sobre disputas políticas numa tríade chinesa.
Um assunto demasiado "humano" para esses animais, poderíamos dizer, e o que está em questão neste filme de Johnnie To é sobretudo a luta entre opostos, como tradição e modernidade. No caso, a eleição dentro de uma tradicional tríade de Hong Kong, a Wo Shing. Sob votação (democrática!) entre o mais conservador Lok e o impetuoso Big D, decidem que o primeiro será o sucessor. O que resulta na ira do derrotado, que havia usado de todo o seu marketing, além de compra de votos e ameaças, para assumir a regência.
Seguindo uma outra tradição, a do filme de gângster, Johnnie To mostrará as múltiplas traições e assassinatos que colocarão em risco a unidade daquele grupo. Usando uma câmera mais "contemplativa" que flutua pelos espaços, To não abandona certa geometria em seus enquadramentos. Os cortes bruscos --e bem contemporâneos- estão aqui, mas o resultado está mais para o casamento entre um filme de máfia japonesa mais clássico com o frenesi dos longas de Tsui Hark. Um Kinji Fukasaku sem a sua famosa câmera na mão.
Essa opção de ritmo herdeira de alguns cinemas responde muito sobre "Election". Menos que a disputa entre o antigo e o novo, ou entre conciliação e violência, aqui está um cenário de agregação. Não é por menos, por exemplo, que o traiçoeiro Big D, em meio a manobras pouco louváveis com a velha-guarda do grupo, ainda julga importante ter em mãos um bastão centenário que simboliza o poder na tríade.
É um olhar, que também justifica o cinema recente de Johnnie To, que já filma há mais de 20 anos e só nos últimos tempos ganhou reconhecimento em Cannes e na revista "Cahiers du Cinéma".
Em "Breaking News" (lançado em DVD no Brasil), temos um policial alheio ao jogo de mídia no qual a polícia vem construindo sua imagem à população. Ele caça ferozmente uma gangue que o envergonhou, mas o faz longe das câmeras, porque seu interesse é pessoal, justiceiro. Isso, contudo, não o livrará de ser absorvido pelo jogo midiático no final das contas, quando sua imagem surge, como herói, num noticário televisivo.
Em "Election" não é diferente. Há mortes, mas nenhuma com armas de fogo. Não para mostrar o lado mais selvagem do homem, mas para provar que a morte é o desfecho, à parte se com tiro, punho ou pedaço de pau. Tradição e modernidade terão como aliança de casamento a violência, da qual nem o mafioso mais tradicionalista poderá se livrar.
Election
Direção: Johnny To
Quando: hoje, às 14h, no Cine MorumbiShopping; e dias 1º, às 19h55, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; e 3, às 20h20, na Sala UOL
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"Election" usa violência para falar de opostos
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Colaboração para a Folha de S.Paulo
A horas tantas de "Election", macacos assistem, assustadíssimos, a uma mulher sendo assassinada aos berros por um homem, o mesmo que minuto antes deu cabo de seu marido a pedradas. Não só chocados pela selvageria extrema, o que nos diz esta cena é que esses primatas parecem não compreender o que rege aquela imagem dantesca que fala, na verdade, sobre disputas políticas numa tríade chinesa.
Um assunto demasiado "humano" para esses animais, poderíamos dizer, e o que está em questão neste filme de Johnnie To é sobretudo a luta entre opostos, como tradição e modernidade. No caso, a eleição dentro de uma tradicional tríade de Hong Kong, a Wo Shing. Sob votação (democrática!) entre o mais conservador Lok e o impetuoso Big D, decidem que o primeiro será o sucessor. O que resulta na ira do derrotado, que havia usado de todo o seu marketing, além de compra de votos e ameaças, para assumir a regência.
Seguindo uma outra tradição, a do filme de gângster, Johnnie To mostrará as múltiplas traições e assassinatos que colocarão em risco a unidade daquele grupo. Usando uma câmera mais "contemplativa" que flutua pelos espaços, To não abandona certa geometria em seus enquadramentos. Os cortes bruscos --e bem contemporâneos- estão aqui, mas o resultado está mais para o casamento entre um filme de máfia japonesa mais clássico com o frenesi dos longas de Tsui Hark. Um Kinji Fukasaku sem a sua famosa câmera na mão.
Essa opção de ritmo herdeira de alguns cinemas responde muito sobre "Election". Menos que a disputa entre o antigo e o novo, ou entre conciliação e violência, aqui está um cenário de agregação. Não é por menos, por exemplo, que o traiçoeiro Big D, em meio a manobras pouco louváveis com a velha-guarda do grupo, ainda julga importante ter em mãos um bastão centenário que simboliza o poder na tríade.
É um olhar, que também justifica o cinema recente de Johnnie To, que já filma há mais de 20 anos e só nos últimos tempos ganhou reconhecimento em Cannes e na revista "Cahiers du Cinéma".
Em "Breaking News" (lançado em DVD no Brasil), temos um policial alheio ao jogo de mídia no qual a polícia vem construindo sua imagem à população. Ele caça ferozmente uma gangue que o envergonhou, mas o faz longe das câmeras, porque seu interesse é pessoal, justiceiro. Isso, contudo, não o livrará de ser absorvido pelo jogo midiático no final das contas, quando sua imagem surge, como herói, num noticário televisivo.
Em "Election" não é diferente. Há mortes, mas nenhuma com armas de fogo. Não para mostrar o lado mais selvagem do homem, mas para provar que a morte é o desfecho, à parte se com tiro, punho ou pedaço de pau. Tradição e modernidade terão como aliança de casamento a violência, da qual nem o mafioso mais tradicionalista poderá se livrar.
Election
Direção: Johnny To
Quando: hoje, às 14h, no Cine MorumbiShopping; e dias 1º, às 19h55, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; e 3, às 20h20, na Sala UOL
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