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30/10/2005
-
15h49
MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo
"O Último Mitterrand", do politizado francês Robert Guédiguian, é um filme sobre idéias, sobre os contrastes que comandar a política e a vida pública de um país --no caso, a França-- criam no interior de um homem, sobre a importância da história e da memória coletiva e sobre como as duas se interconectam.
O furor midiático e a desconfiança popular em torno do filme na França ilustram a relação ambígua que sua sociedade, considerada democrática, tem com seus governantes e com seus "grandes personagens históricos" --ou, expandindo o escopo do debate, com seu passado recente.
Na França, como no Brasil, não existe a tradição cinematográfica de contar a história recente --seja de modo engajado, seja com o desprendimento do olhar artístico. A reação observada no país antes do lançamento do filme, em fevereiro, sobre François Mitterrand, presidente de 1981 a 1995, jamais seria vista nos EUA, onde o lançamento de "Nixon", do polêmico Oliver Stone, um ano depois da morte do também controverso presidente, não aguçou paixões.
Antes de tudo, "O Último Mitterrand" conta com atuação sensível e extraordinária de Michel Bouquet no papel do presidente morto em 1995, pouco depois de deixar o poder. Mas se trata de uma obra que vai muito além dos últimos 15 meses de sua vida.
Esse trabalho de Guédiguian, autor dos excelentes "Marius e Jeannette" e "A Cidade Está Tranquila", é um daqueles filmes ostensivamente sobre um tema específico, mas que, de fato, discutem vários temas ao mesmo tempo: política em geral, o lugar do socialismo na sociedade, a história, a doença e a eternidade.
Na pele do jovem jornalista Antoine (o convincente Jalil Lespert), o diretor analisa a amplitude do legado de Mitterrand --real e imaginário-- para os franceses. O personagem central, por sua vez, debate a história recente francesa por meio de suas lembranças, não dos fatos tais quais ocorreram, segundo a história oficial.
É, sim, uma homenagem ao homem refinado que levou os socialistas à Presidência francesa pela primeira vez. Assim, afloram questões e mistérios que marcaram sua vida --desde a amizade com o general Charles de Gaulle até seu suposto elo com o regime colaboracionista de Vichy na Segunda Guerra, passando por sua agitada vida pessoal. Mesmo para quem não conhece a história da França, é um bom programa.
O Último Mitterrand
Direção: Robert Guédiguian
Quando: hoje, às 22h10, no Cine Bombril; amanhã, às 21h40, no Reserva Cultural; e dia 3, às 18h, na Sala UOL
Especial
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"O Último Mitterrand" discute socialismo
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da Folha de S.Paulo
"O Último Mitterrand", do politizado francês Robert Guédiguian, é um filme sobre idéias, sobre os contrastes que comandar a política e a vida pública de um país --no caso, a França-- criam no interior de um homem, sobre a importância da história e da memória coletiva e sobre como as duas se interconectam.
O furor midiático e a desconfiança popular em torno do filme na França ilustram a relação ambígua que sua sociedade, considerada democrática, tem com seus governantes e com seus "grandes personagens históricos" --ou, expandindo o escopo do debate, com seu passado recente.
Na França, como no Brasil, não existe a tradição cinematográfica de contar a história recente --seja de modo engajado, seja com o desprendimento do olhar artístico. A reação observada no país antes do lançamento do filme, em fevereiro, sobre François Mitterrand, presidente de 1981 a 1995, jamais seria vista nos EUA, onde o lançamento de "Nixon", do polêmico Oliver Stone, um ano depois da morte do também controverso presidente, não aguçou paixões.
Antes de tudo, "O Último Mitterrand" conta com atuação sensível e extraordinária de Michel Bouquet no papel do presidente morto em 1995, pouco depois de deixar o poder. Mas se trata de uma obra que vai muito além dos últimos 15 meses de sua vida.
Esse trabalho de Guédiguian, autor dos excelentes "Marius e Jeannette" e "A Cidade Está Tranquila", é um daqueles filmes ostensivamente sobre um tema específico, mas que, de fato, discutem vários temas ao mesmo tempo: política em geral, o lugar do socialismo na sociedade, a história, a doença e a eternidade.
Na pele do jovem jornalista Antoine (o convincente Jalil Lespert), o diretor analisa a amplitude do legado de Mitterrand --real e imaginário-- para os franceses. O personagem central, por sua vez, debate a história recente francesa por meio de suas lembranças, não dos fatos tais quais ocorreram, segundo a história oficial.
É, sim, uma homenagem ao homem refinado que levou os socialistas à Presidência francesa pela primeira vez. Assim, afloram questões e mistérios que marcaram sua vida --desde a amizade com o general Charles de Gaulle até seu suposto elo com o regime colaboracionista de Vichy na Segunda Guerra, passando por sua agitada vida pessoal. Mesmo para quem não conhece a história da França, é um bom programa.
O Último Mitterrand
Direção: Robert Guédiguian
Quando: hoje, às 22h10, no Cine Bombril; amanhã, às 21h40, no Reserva Cultural; e dia 3, às 18h, na Sala UOL
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