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31/10/2005 - 09h43

"Flores Partidas" foge do caricatural

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MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo

Em "Flores Partidas", Jim Jarmusch consegue delinear a sua singular posição no cinema norte-americano ao construir um road movie completamente atípico, mesmo que o título seja um dos seus filmes mais clássicos. O filme, laureado com o Grande Prêmio do Júri na mais recente edição do Festival de Cannes, é uma das principais atrações de hoje da 29ª Mostra de São Paulo.

O olhar do cineasta passeia por uma América de plástico, povoada por seres de existências tomadas pelo imobilismo e que tem como protagonista um homem de meia-idade em crise.

Apesar do tom amargo, a presença magnética de Bill Murray como protagonista, cuja atuação cada vez mais se vale da discrição e de certo minimalismo, rende ótimos momentos de comédia e casa bem com o estilo de Jarmusch, que dispensa exageros.

Murray é Don Johnston, que enriqueceu com a informática e vive uma rotina pastosa em um típico e confortável subúrbio. Sabemos que tem ojeriza a relações afetivas duradouras logo em uma das primeiras seqüências, quando a bela Sherry (Julie Delpy) dá um fim ao namoro com ele.

Uma carta rosa será o ponto de partida de uma possível virada no cotidiano de Don. Ele seria pai de um rapaz de 19 anos, que está vindo em busca dele.

O tom cômico prevalece quando Don conta sobre a insólita correspondência ao seu vizinho Winston (Jeffrey Wright), africano que trabalha em variadas funções para alimentar muitas bocas na família. Aconselhado por Winston, Don parte EUA adentro para tentar encontrar respostas sobre seu rebento e, também, obter respostas mais definitivas sobre si mesmo.

Ao tentar localizar as possíveis mães, Jarmusch impõe uma narrativa que, apesar de trazer à tona um território paralisado e quase de resina, não migra para o caricatural e para o alegórico.

As mulheres ex-Don -interpretadas por Sharon Stone, Jessica Lange, Frances Conroy e Tilda Swinton- não têm trajetórias empolgantes, não primam por uma inteligência brilhante, trabalham em funções irrisórias, mas formam uma galeria humana que mostra um mundo de possibilidades e impedimentos para Don.

Jarmusch sabe se esquivar de armadilhas, que seriam mostrar uma reunião de lamentos e enumerar julgamentos preconceituosos. Assim, a odisséia particular de Don e os momentos de encontro são focadas por Jarmusch com generosidade e de forma afetiva, mas sem perder a ironia.

Menos interessa a ele respostas e visões engessadas. A perspectiva do seu olhar se resume numa bela cena, quando a câmera gira 360 ao redor de Don --suas crises e lacunas só podem ser resolvidas, sentidas e eventualmente causadas por ele mesmo.

Flores Partidas
Direção: Jim Jarmusch
Quando: hoje, às 14h50, no Cineclube Vitrine; e dia 3, às 21h, no Metrô Santa Cruz

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